A pesquisa foi dividida em duas etapas, que incluem o
inventário dos mamíferos de médio e grande porte na região e o monitoramento de
como essa fauna se comporta nas chamadas clareiras artificiais - áreas
desmatadas pela ação humana em meio à cobertura florestal. Fernanda Santos
explica que a regeneração dessas áreas alteradas depende das taxas de
germinação, crescimento e mortalidade das plantas e predação de sementes. "As
clareiras criam novas condições ambientais", afirma.
Para realizar o
levantamento dos mamíferos existentes na região do Rio Urucu, a pós-graduanda
analisou os vestígios deixados pelos animais ao longo de quatro trilhas
percorridas diariamente, totalizando 12 quilômetros. Pegadas, fezes e carcaças
atestaram a presença de primatas, roedores, veados, porcos-do-mato e grandes
predadores na região analisada.
Até o momento, foram 35 espécies
inventariadas, o que equivale a 11,25% das 311 espécies de mamíferos registradas
na Amazônia até agora. Os primatas foram os que mais se mostraram presentes no
inventário, com 12 espécies registradas. "É o grupo mais diverso na área",
comenta Fernanda, que verificou também registros de ariranhas, quatis, esquilos,
antas e tamanduás.
A segunda etapa rumo à obtenção do grau de mestra é
analisar como esses mamíferos se comportam nas clareiras. Para isso, a jovem
cientista lançou mão de armadilhas fotográficas, com a instalação de câmeras no
interior de cada clareira para registrar a presença dos animais, e da construção
de plataformas para observação in loco. Tudo para descrever, da forma
mais precisa possível, a locomoção, alimentação e defecação dos mamíferos dentro
das clareiras. "É um estudo difícil de realizar em função da diversidade dessa
fauna", destaca a futura mestra.
Seminário – O resultado
final da tese "Estudo da Comunidade de Mamíferos de Médio e Grande Porte e o
Potencial desta Fauna na Regeneração de Clareiras Artificiais na Região do Rio
Urucu, Coari, Amazonas" só será conhecido em meados de 2009. O trabalho de
Fernanda Santos foi um dos 20 apresentados durante o V Seminário de
Pós-Graduação em Zoologia, realizado entre os dias 17 e 19 de setembro, quando
os futuros mestres e doutores do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Goeldi
e da UFPA tiveram a chance de expor os caminhos trilhados até agora para a
elaboração de suas teses. O evento teve lugar no Auditório Paulo Cavalcante, do
Campus de Pesquisa do Museu, na Terra Firme.
Coordenado pelos pesquisadores Luciano Montag, da
Universidade Federal do Pará (UFPA), e Francílio da Silva Rodrigues, do Museu
Goeldi, o Seminário também serviu para que os alunos do Programa compartilhassem
experiências e informações com os colegas. Na oportunidade, eles ouviram também
as contribuições de renomados pesquisadores de instituições científicas locais e
nacionais, convidados para o evento, que avaliaram a metodologia e os resultados
preliminares das 20 pesquisas. Segundo Montag, dos 20 trabalhos apresentados,
dois constituem teses de doutorado. As demais exposições comporão dissertações
de mestrado. O prazo para defesa dos trabalhos é o final de 2009.
De
fora, vieram para participar do Seminário os pesquisadores Antonio Brescovit, do
Instituto Butantã (SP); Adrian Garda, da Conservação Internacional – Brasil; e
Roberto Reis, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Marlúcia Martins, pesquisadora da Coordenação de Zoologia (CZO), do Museu
Goeldi, também participou da avaliação representando o Programa de Pós-Graduação
em Zoologia. Para Roberto Reis, da PUC-RS, os trabalhos apresentados no
seminário são, "sem exceção, de alta qualidade".
Vice-coordenadora do
Programa de Pós-graduação, a herpetóloga Ana Prudente, da CZO do Museu Goeldi,
diz que a participação de avaliadores externos ao Programa é de grande
importância. "Todos têm feito excelentes comentários sobre a qualidade das
teses. Isso é bom, pois o Seminário representa um fórum onde os alunos podem
apresentar seus trabalhos e ouvir a opinião de pessoas externas ao Programa, que
é o principal objetivo do evento", destaca. Graças a essa contribuição, "o
evento se torna muito mais interessante do ponto de vista científico",
acrescenta a pesquisadora.
"Certamente, os alunos do Programa
conseguirão transformar suas teses em publicações científicas em pouco tempo. A
qualidade é compatível", complementa o estudioso da PUC-RS, que também ministrou
a palestra "As Bases da Sistemática: História e Filosofia" para os participantes
do evento na tarde de sexta-feira, dia 19. Adrian Garda, da CI, proferiu na
tarde de quinta-feira, dia 18, a palestra "Sistemática das Rãs Paradoxais: O
Papel de Caracteres 'Tradicionais' na Era 'Molecular'". O primeiro dia do evento
foi marcado pela apresentação de Antonio Brescovit, do Instituto Butantã.
O V Seminário de Pós-Graduação em Zoologia encerrou na tarde de
sexta-feira, dia 19, com a coordenadora do Programa, Maria Cristina dos Santos
Costa, da UFPA, ressaltando a necessidade de os pós-graduandos atentarem para as
contribuições feitas aos trabalhos durante o evento.
Crédito de imagem: Arquivo Museu Emílio Goeldi
(Envolverde/Museu Emílio Goeldi)