Crise financeira global não deve ser barreira para acordo climático

A crise financeira global não deve interferir nas discussões sobre o novo acordo climático, pois os preços da energia continuam incentivando a melhoria da eficiência energética, afirmou o chefe de mudanças climáticas da ONU nesta sexta-feira (26).

Alguns analistas disseram que a crise atual nos mercados financeiros pode acabar com o dinheiro disponível para investimentos na redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE).
"Pessoalmente não vi nenhuma análise econômica que demonstre que a atual crise nos créditos esteja exercendo algum impacto maior sobre a economia global do que os atuais preços do petróleo", disse à Reuters o chefe do secretariado de mudanças climáticas da ONU, Yvo de Boer, em Bonn.

Mas segundo ele as incertezas geradas pela crise e a falta de confiança nos mercados financeiros são obstáculos no desenvolvimento de projetos de energias limpas, apesar da alta nos preços do petróleo, que está em torno de US$ 100 o barril, ser um atrativo.

"Apesar do que está acontecendo no momento, não tenho a impressão de que a falta de capital seja o problema. São as incertezas dos investimentos que estão criando apreensão. E acredito que, se os governos forem claros em relação às mudanças climáticas, isto poderá ajudar a reduzir as incertezas".

"Isto por que se você está prestes a construir uma usina de energia de €500 milhões e não sabe se o governo assumirá reduções nas emissões de GEE de 5% ou 50%, então esta será uma decisão arriscada", comentou em uma entrevista.

Atraindo os EUA e as nações em desenvolvimento

Contrário a alguns analistas, de Boer expressou otimismo sobre as chances dos Estados Unidos participarem de um novo acordo sobre o aquecimento global, que deve ser fechado em Copenhague em dezembro de 2009 para suceder o Protocolo de Quioto após 2012.

"Acredito que seja perfeitamente possível que os Estados Unidos assinem o acordo de Copenhague", disse de Boer, que recentemente visitou a Polônia para revisar os preparativos para o encontro climático de dezembro deste ano.

Mas de Boer adicionou que as razões pelas quais Washington não assumiu Quioto (principalmente receios de que o protocolo prejudicaria a economia norte-americana e pela ausência de metas para os países em desenvolvimento) são "tão relevantes quanto eram em 1997 (quando Quioto foi assinado)".

Quioto exige que 37 países industrializados limitem as suas emissões de GEE em uma média de 5,2% abaixo dos níveis de 1990 até 2012.

Para atrair os Estados Unidos, que está sendo ultrapassado pela China como maior emissor mundial de GEE, as Nações Unidas precisam engajar os países em desenvolvimento.

De Boer considera que isto só será possível se assegurado o crescimento econômico destas nações e se forem realizados grandes cortes nos custos das políticas climáticas.

Uma das maneiras de atraí-los é através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permite às nações ricas investirem em projetos de tecnologias limpas nestes países.

As negociações da ONU têm discutido se o MDL deve incluir ou não as usinas de energia movida a carvão que tem a possibilidade de estocar o dióxido de carbono.

"Este debate ainda está acontecendo, mas a minha visão pessoal é que para as economias baseadas no carvão, como China e Índia, a captura e estocagem do carbono seria crítica", opinou de Boer. "Acredito que existam maneiras seguras de estocar o CO2 no subsolo, como em campos de gás vazios".

Segundo ele, as negociações marcadas para dezembro na cidade polonesa de Poznan, envolvendo ministros do meio ambiente de 192 países, podem preparar o caminho para um acordo em Copenhague, apesar do ceticismo generalizado.


* Traduzido por Fernanda B Muller, CarbonoBrasil.

(Envolverde/Carbono Brasil)
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