Grupos de conservação e países em desenvolvimento ricos em biodiversidade defendem a criação de créditos de carbono baseados em florestas. Uma vitória nesse sentido foi alcançada no início do mês, quando o Comitê de Indústria do Parlamento mostrou-se favorável aos créditos florestais.
A princípio, integrar as
florestas existentes às iniciativas globais de mudanças climáticas é uma atitude
positiva, já que o desmatamento é responsável por 20% das emissões de carbono do
planeta – mais do que o setor de transporte como um todo.
As preocupações
metodológicas, no entanto, têm feito com que os representantes do ETS lutem de
maneira tímida para incluir as florestas tropicais no esquema. Um dos principais
obstáculos é a dificuldade de se obter dados verificáveis para questões-chaves
como a capacidade exata de captura de carbono pelas árvores.
Defensores
da inclusão das florestas no esquema salientam que a proposta Redução de
Emissões do Desmatamento e Degradação das Florestas (REDD) está ajudando a
resolver muitas das questões metodológicas. O REDD pode vir a ser adotado pelo
Protocolo de Quioto.
Exemplo
Uma iniciativa que
vem dando resultado é aplicada pela Capital Canopy (uma afiliada do Programa
Dossel Global sediada no Reino Unido). A entidade conseguiu determinar um grande
valor (não-revelado) para dar preço aos "serviços ambientais" das florestas de
pé na Guiana - que ainda possui 85% do território coberto por floresta tropical.
Os recursos para manter a biodiversidade local são provenientes de dez
investidores privados, que pagam por atributos como a regulação climática, a
produção de chuva e o armazenamento de água.
A Guiana, que é o terceiro
menor país da América do Sul, seria um dos mais beneficiados com a inclusão dos
créditos florestais no ETS. Até agora, os esforços do presidente, Bharrat
Jagdeo, para capitalizar as florestas de pé por meio de um mercado de serviços
ambientais têm fracassado. "Nós precisamos de soluções... a realidade é que o
desmatamento é um resultado do fracasso de mercado que torna as árvores mais
valiosas mortas do que vivas", diz
Jagdeo.
Temores
Alguns grupos ambientalistas,
como o Greenpeace, temem que os créditos para iniciativas anti-desmatamento
possam abrir as portas aos créditos por reflorestamento comercial.
Os
críticos das florestas comerciais, geralmente conhecidas como "sumidouros de
carbono", argumentam que é difícil garantir a longevidade de florestas plantadas
e, consequentemente, de seus benefícios em relação ao carbono. Os sumidouros de
carbono também são acusados de impactar negativamente a biodiversidade local e
os grupos indígenas.
"Nós reconhecemos que algo precisa ser feito para
proteger as florestas, mas não apoiamos um mercado que não leva em conta a
biodiversidade e os direitos humanos", afirma Joris Den Blanken, diretor de
políticas européias de mudanças climáticas para o Greenpeace.
Os créditos
florestais são uma das opções para se lutar contra o desmatamento. A Europa
também discute a possibilidade de leiloar permissões de emissões futuras do ETS
e de reservar uma parte dos ganhos resultantes da preservação das florestas.
Pelo sistema atual, essas permissões são alocadas de graça.
Os membros da
UE, no entanto, não querem que Bruxelas defina como esses fundos devem ser
gastos.
As mudanças potenciais no ETS serão discutidas por líderes
europeus em reunião de conselho no mês de outubro e um voto final do parlamento
europeu poderá ser dado até dezembro.
* Com informações do Climate Change
Corporation.
(Envolverde/Carbono Brasil)