Agora, toma impulso nos Estados Unidos o movimento dos
"scuppies", termo cunhado a partir das iniciais de Socially Conscious
Upwardly-Mobile Person – indivíduo emergente com consciência social. Nascidos do
cruzamento dos hippies dos anos 1960 com os yuppies dos anos 1980, os scuppies
compõem um segmento em alta entre os norte-americanos bem de vida, que procura
conciliar as benesses materiais e as tendências da moda com um respeito radical
às questões ambientais.
Como os decroissants, eles também querem salvar o
planeta. Mas, ao contrário dos despojados franceses, em nome dessa bandeira não
estão disposto a abrir mão do que consideram as boas coisas da vida. Os scuppies
incluem-se entre os consumidores que mais demandam produtos e serviços verdes
nos EUA. São os que mais compram carros de luxo, roupas, alimentos, casas e
móveis ambientalmente responsáveis, sem, no entanto, dispensarem design
sofisticado, elegância e refinamento. Usam camisas 100% orgânicas, canetas com
tinta biodegradável, ecobags de grife, laptops com baixo consumo de energia,
bolsas recicladas a partir de pneus e cosméticos com cadeia produtiva
certificada. Eco-chiques, contestam os que enxergam contradição insuperável
entre consumo de luxo e preservação ambiental.
Cada um a seu modo,
decroissants e scuppies praticam o chamado consumo consciente, isto é, utilizam
o seu poder de comprar –ou deixar de comprar—optando por alternativas mais
sustentáveis. No primeiro, consciência é consumir menos. No segundo, consumir o
mesmo, mas apenas produtos e serviços verdes. Entre os minimalistas franceses, a
crença é que a felicidade não se resume ao âmbito do "ter", mas ao do "ser." Já
entre os emergentes norte-americanos, cultiva-se a idéia de que é possível ter o
melhor hoje sem carregar a culpa por prejudicar o direito das futuras gerações
satisfazerem as suas necessidades.
Apesar de diferentes, e da oposição
entre os valores que cultuam, esses dois grupos, compostos por consumidores bem
informados, com alto nível de escolaridade e capacidade aquisitiva, convergem em
um ponto importante: consumo é, para eles, um ato de poder que precisa ser
exercido com base em ética altruísta, responsabilidade e engajamento.
Caracteriza ambos os movimentos a adoção de um novo modelo de consumo em que
boas intenções socioambientais se transformam em atitude, firme e
pró-ativa.
É bem possível que, no Brasil, decroissants e scuppies já
tenham os seus adeptos. No entanto, para que não se restrinja á uma minoria de
consumidores classe A com alto nível de instrução, o movimento do consumo
consciente terá de superar aqui algumas barreiras, entre as quais uma certa
tendência à acomodação e à inércia. A pesquisa "Novo Consumo pela
Sustentabilidade: os Brasileiros Diante das Mudanças Climáticas, da Market
Analysis, oferece algumas pistas sobre esse quadro. Segundo o estudo, feito em
19 países, os brasileiros estão entre os mais alarmados com as mudanças
climáticas no mundo. Três em cada quatro consumidores atribuem alta relevância á
questão ambiental, incluindo o tema entre as suas três principais preocupações.
Em contrapartida, os brasileiros (42% afirmam conhecer bem o tema) não se
encontram no bloco dos mais bem informados, perdendo de longe para os ingleses
(61%), norte-americanos (59%) e canadenses (56%).
Ainda segundo o
documento, metade da população brasileira não se mostra disposta a abrir mão das
benesses econômicas em nome de um modelo de desenvolvimento mais respeitoso ao
meio ambiente. Os brasileiros estão ainda entre os mais acomodados em relação a
mudanças em comportamentos para reduzir impactos no aquecimento global. Apenas
um em cada seis pode ser classificado como consciente e efetivamente mobilizado.
Os que tomam atitudes concretas limitam-se ao óbvio das pequenas ações de
reciclagem, redução de consumo e descarte adequado de lixo, deixando de lado,
ações engajadas como, por exemplo, fazer compras de baixo consumo de energia ou
mobilizar outras pessoas. A hipótese do estudo é que a acomodação deve ser
atribuída ao fato de que, na média mundial, o Brasil possui um ótimo desempenho
ambiental, segundo o World Resources Institute. Quanto menos deteriorado é o
ambiente local, menor tende a ser a percepção da necessidade de
mudança.
Ainda de acordo com o estudo, os brasileiros apresentam-se como
os mais inertes. A média mundial de inação é de 35%. No Brasil, chega a 69%. A
distância entre palavras e ações –como se vê – é um obstáculo cultural
importante a ser vencido para a expansão do consumo consciente em terras
brasilisis. Há muito trabalho a ser feito por governos, empresas, organizações
da sociedade civil e, é claro, planejadores de comunicação.
* Ricardo
Voltolini é publisher da revista Idéia Socioambiental e consultor de Idéia
Sustentável. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Veja aqui se vc é um scuppie: www.advertigo.com.br/wp-content/uploads/2008/06/scuppies1.jpg
(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental)