Os
ativistas afirmaram à imprensa, a bordo do navio, que os governos "devem
reservar 40% de nossos oceanos", ao mesmo tempo em que lançaram um apelo aos
consumidores com a campanha "Escolha seu pescado, não morda o anzol". Estas
reservas marinhas "podem ser definidas como regiões do oceano onde deve ser
proibida a captura de qualquer recurso vivo e a exploração de recursos não
vivos, como areia, cascalho e minerais", afirmou Evandro de Oliveira,
responsável de informação do Greenpeace-Portugal.
O mar Mediterrâneo
"está ameaçado pelo excesso de pesca, por pesca destrutiva, pela poluição e pelo
crescente desenvolvimento das zonas costeiras", acrescentou o ativista, para, em
seguida, propor soluções para a preservação dos recursos marinhos. Considerando
o alto consumo de pescado pelos europeus comprado nos grandes espaços
comerciais, o Greenpeace centrou sua campanha em denunciar a falta de uma
política de compra sustentável de produtos pesqueiros nos supermercados,
explicou Oliveira. "Pedimos aos supermercados que adotem uma política que leve a
deixar de vender as espécies da lista vermelha do Greenpeace e que comecem a
oferecer produtos pesqueiros de forma sustentável", acrescentou.
Essa
lista é formada por espécies em vias de extinção, tais como merluza negra,
lagostim, salmão atlântico, merlins, atuns, bacalhau do atlântico, tubarões,
peixe-espada negro e do Atlântico, peixe-carta, linguado, peixe-espada e
arraias. Os supermercados em vários países são cúmplices da destruição dos
oceanos por não se comprometerem com a sustentabilidade dos produtos pesqueiros,
afirma a engenheira agrícola espanhola Paloma Colmenarejo, responsável pela
campanha referente aos oceanos. Colmanarejo afirma que "os grandes
distribuidores e a indústria pesqueira podem e devem seguir políticas de compra
sustentáveis e deixar de fornecer espécies desta lista vermelha".
As
espécies sustentáveis são as provenientes de uma indústria pesqueira cujas
práticas podem ser mantidas indefinidamente sem reduzir a capacidade das
espécies de se reproduzir. Aos comerciantes "pedimos que adotem uma política
para retirarem o pior (da lista vermelha), que apóiem o melhor oferecendo
produtos sustentáveis e, ainda, que melhorem a informação sobre as espécies que
vendem", acrescentou Colmanarejo. "Os consumidores têm o direito da garantia
pelos supermercados de que todos os produtos sejam sustentáveis, já que eles
não têm acesso a toda a informação necessária", acrescentou a ativista, que
criticou o "apetite insaciável" dos grandes espaços comerciais.
A
campanha ganha um destaque especial em Portugal, terceiro consumidor mundial de
pescado por habitante com 59,3 quilos cada um, em média, atrás da Islândia com
91 quilos e do Japão com 67,4, cifras que superam em muito a média mundial de 16
quilos. Femke Nagel, responsável pela campanha na Holanda, garante o sucesso da
ação. "Quando começamos em meu país tínhamos três supermercados designados como
'laranja', uma categoria entre ótimo, que é o verde, e pior, que é o vermelho, e
hoje já temos nove". A ativista, que faz parte da tripulação do Artic Sunrice,
disse que os consumidores devem ter um papel importante para evitar consumir
pescado da lista vermelha, "mas os supermercados têm uma grande
responsabilidade".
Apesar de muitas vezes "dizerem que é impossível saber
de onde vem o produto, isso não é verdade, eles tem toda a informação, que
simplesmente decidem não repassá-la aos consumidores", concluiu Nagel. "A
listagem é uma ferramenta fácil e eficiente tanto para consumidores quanto para
a indústria e todos os setores interessados em garantir o futuro da pesca",
explicou Colmenarejo em conversa com a IPS. A situação é gravíssima, "porque em
uma revisão planetária comprovamos que três quartos dos oceanos estão
esgotados", acrescentou.
Mas, pode-se acabar com as tradições de um povo,
no caso o português, com o consumo de bacalhau, que faz parte da própria
identidade nacional?, perguntou à IPS. "Não se trata disso, mas de entender que
o bacalhau do Atlântico simplesmente poderá desaparecer e que os portugueses e
outros povos amantes deste pescado podem comprar o bacalhau do Chile, porque
essas espécies do sul do oceano Pacífico não estão em perigo". O que o
Greenpeace recomenda "é comer espécies que se recuperam facilmente e não
integrem a lista vermelha".
A tendência generalizada da medicina atual é
recomendar um alto consumo de pescado, sem discriminar quais. A ativista
considera "bom que os médicos se preocupem com a saúde das pessoas, mas nós nos
preocupamos com a saúde dos oceanos". Colmenarejo também chamou a atenção para
os direitos humanos, "que são sempre uma preocupação do Greenpeace", em especial
quando na América Latina estes "são sistematicamente violados nas zonas de
megaprojetos camaroeiros, turísticos e industriais na região do ecossistema de
mangues e outros ecossistemas marinho-costeiros". A denúncia inclui as zonas de
mangue de Brasil, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México,
Nicarágua, Peru e Venezuela.
A ativista espanhola concluiu recomendando
uma leitura atenta da pagina na internet da Rede Mangue Internacional (www.redmanglar.org), onde são denunciados
"assassinatos, torturas, desaparecimentos, restrições ao acesso aos recursos,
deslocamentos, despojo e ameaças" contra as comunidades locais.
(Envolverde/IPS)