Os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos pela ONU, que buscam
reduzir em 50% a extrema pobreza e a fome ate 2015, em relação aos níveis de
1990, também têm como meta baixar pela metade o número de pessoas sem acesso a
saneamento básico. Mas esta meta nunca será alcançada, alertou o Siwi, se não
forem investidos pelo menos US$ 10 bilhões todos os anos ate 2015, para melhorar
os serviços sanitários. Enquanto isso, um estudo conjunto feito no começo deste
ano pela Organização Mundial da Saúde e pelo Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) destaca um avanço na questão da água. O número de pessoas sem
acesso à água potável caiu para menos de um bilhão, contra 1,4 bilhão no ano
passado.
O príncipe Willem-Alexander de Holanda, presidente da Junta
Assessora da Secretaria Geral da ONU sobre Água e Saneamento (UNSGAB ), disse
aos delegados que mais da metade da população mundial conta com água bombeada em
suas casas, e que o número de pessoas que usam fornecimentos de água não tratada
continua caindo. Mas, disse que, quanto ao saneamento a situação é completamente
diferente, e citou "fatos e dados perturbadores que ilustram as conseqüências de
não ter acesso ao saneamento. Muitas pessoas ainda não estão familiarizadas com
as estatísticas e nem mesmo sabem que há uma crise mundial de saneamento",
afirmou.
Essas pessoas, políticos e líderes de opinião, nunca sofreram a
carência de saneamento adequado, e se o sofreram foi há tanto tempo que não
lembram das circunstâncias indignas e desumanas que implica, acrescentou o
príncipe. "Estas pessoas usam luxuosos banheiros, ligados a um efetivo sistema
de esgoto. E provavelmente não estão sabendo que esse tipo de vaso sanitário e
sistemas de saneamento são vitais para uma vida saudável", afirmou. O príncipe
disse que é difícil para estas pessoas imaginar o quanto é inseguro, sem
mencionar o quanto é vergonhoso, defecar em público, no médio da rua, ou para as
mulheres rurais terem de esperar que o sol se ponha para irem atrás de uma
árvore ou a um local distante, correndo grandes riscos de serem violadas ou
assaltadas.
Entretanto, nem tudo está perdido, disse o príncipe, que
recomendou à ONU que declarasse 2008 Ano Internacional do Saneamento. "Este ano
ainda não acabou, e gostaria de ver o que se conseguiu até agora", disse
Willem-Alexander. De fato, é um momento apropriado para decidir o que se
precisa fazer nos últimos meses do ano e acordar um mapa do caminho par atingir
as Metas do Milênio em relação à água e ao saneamento. Destacou as várias
iniciativas e conferências nacionais, regionais e internacionais que acontecem
este ano.
As conferências regionais LatinSan, AFricaSan, EaSan e SacoSan
produziram declarações sem precedentes que constituem um forte fundamento para
desenvolver o setor da água e do saneamento nessas regiões. Houve importantes
progressos na América Latina e na Ásia em termos de acesso a saneamento tratado,
acrescentou. Na África, o número de pessoas com acesso à água cresce de forma
sustentada, mas este aumento não acompanha o aumento da população. Mais pessoas
representam mais dejetos.
Mas, segundo o estudo conjunto da OMS e do
Unicef, a preocupante conclusão é que neste ritmo o mundo não atingirá a meta
relacionada com o saneamento por mais de 700 milhões de pessoas. "Se queremos
alcançar a meta, temos de dar acesso ao saneamento melhorado a pelo menos 173
milhões de pessoas", disse o príncipe. Mas, também houve dados positivos. Em
junho foi realizada a Cúpula da União Africana sobre Água e Saneamento, no
balneário egípcio de Sharm El Sheik, com as presenças de 52 chefes de Estado e
de governo. Estes adotaram de forma unânime uma declaração que dava prioridade
ao tratamento destes temas.
Neste caso, felizmente as palavras estão
sendo traduzidas em fatos com grandes resultados", destacou o príncipe. "Quando
visitei a Etiópia no começo deste ano, me inteirei de que 1,3 milhão de latrinas
foram construídas em 18 meses na província de Nações do Sul", acrescentou. A
UNSGAB se propôs um desafio: quebrar o tabu relacionado com o saneamento,
falando sem pudores de temas concretos referentes aos banheiros e aos
excrementos humanos. "Continuaremos chamando o pão de pão, e o vinho de vinho.
Ou, talvez, se devesse dizer o banheiro de banheiro. E, senhoras e senhores,
espero poder inspirá-los a fazerem o mesmo, porque ainda há um longo caminho
pela frente", disse o príncipe aos delegados.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)