Os corais estão com problemas, mas podem ganhar tempo com um bom manejo e proteção, enquanto descobrimos como reduzir a mudança climática, afirma nesta entrevista exclusiva o cientista mexicano Roberto Iglesias-Prieto.
Fort Lauderdale, Estados Unidos, 28 de julho (Terramérica) - "As praias de Cancun não teriam areias brancas não fosse pelos arrecifes de coral", disse ao Terramérica o professor Roberto Iglesias-Prieto, ecofisiologista marinho do Instituto de Ciências do Mar e Liminologia da Universidade Nacional Autônoma do México. O turismo é a terceira fonte de divisas do México, que deveria investir muito mais na proteção de seus valiosos sistemas de corais, afirma este especialista. Mas, para explicar estes problemas, "não basta ser ecologista. A pessoa tem de ser economista e especialista em política", acrescenta.
Poucos arrecifes de coral
se manterão saudáveis depois de 2050 se não houver reduções significativas das
emissões de combustíveis fósseis, afirmam os cientistas. O Terramérica conversou
com Iglesias-Prieto por ocasião do 11º Simpósio Internacional sobre Arrecifes de
Coral, realizado entre 7 e 11 deste mês em Fort Lauderdale, no Estado
norte-americano da Flórida.
Os arrecifes coralinos estão bem
protegidos no México?
Há várias áreas protegidas, mas na maioria delas
são permitidos múltiplos usos, como recreação e pesca. Lamentavelmente, não há
compromisso real nem investimentos do governo federal em proteção e manejo dos
corais. Arrecifes como o Mesoamericano proporcionam serviços que valem milhares
de milhões de dólares, como atração turística, proteção diante de furacões e
barreira contra a erosão costeira. A costa de Cancun (sudoeste do país) é
incrivelmente valiosa. A maioria dos turistas vai às praias, não às florestas,
embora estas sejam o centro das políticas de conservação do país.
Como o senhor tenta mudar esta situação?
Apresento-me aos
governos federal e estadual e tento convencê-los a investir em proteção e
manejo. Os únicos recursos disponíveis agora procedem de um pequeno imposto
cobrado dos turistas. Os governos não consideram prioritário conservar os
arrecifes de coral. Busco uma mudança mostrando os benefícios econômicos que
proporcionam. Não basta ser ecologista. É preciso ser economista e especialista
em política.
O senhor estudou como os corais usam a luz solar. Pode
explicar isto?
Os corais são fantásticos captadores de luz. São muito
mais eficientes em aproveitar a energia do sol do que as usinas terrestres.
Coletam a luz e a propagam internamente para fornecê-la aos seus simbiontes, às
algas. Estas são as que lhes dão suas incríveis cores e transformam a luz em
nutrientes dos quais vivem os sistemas coralinos.
Nos últimos anos,
os corais da região caribenha morreram ou esbranquiçaram. Por que?
Os
corais se tornam brancos pela perda de seus simbiontes, as algas, e morrem sem
elas. São muito sensíveis às alterações ambientais. A mudança climática está
aquecendo a superfície dos oceanos. Basta elevar a temperatura da água que cerca
os corais em apenas 1,5 grau acima da média de verão para causar esse dano.
O que quer dizer quando afirma que os corais são como "os canários
na mina de carvão"?
Colocar canários nas minas de carvão permitia provar
se havia vazamento de gases perigosos. Os corais são nossa prova do impacto da
mudança climática. Se não agirmos e os perdermos, já estaremos lutando para
sobreviver. Temos de continuar insistindo para que esta mensagem chegue às
pessoas.
O México não quer expandir sua produção de petróleo, o
mesmo combustível fóssil que está matando os corais?
Somos um país em
desenvolvimento, queremos queimar mais petróleo e exportá-lo, obter recursos
para nos desenvolvermos e vivermos felizes. E também temos o pesadelo de que
essas emissões, em poucas décadas, nos levarão à perda dos "belos monstros", os
corais, e das incríveis criaturas que vivem neles.
Com as coisas
como estão, como o senhor vê o futuro?
Presenciei a destruição de
ecossistemas coralinos inteiros, e o futuro não parece brilhante. Quando falo
aos estudantes, sinto que estou contando uma história de horror. Falo que eles
precisam lutar. Eles podem mudar este cenário reduzindo sua pegada ecológica e
exigindo políticas verdes dos governantes.
Se tivesse de criar uma
manchete para um jornal, com definiria o perigo da mudança climática?
Os
corais estão com problemas, mas podem ganhar tempo com um bom manejo e proteção,
enquanto descobrimos como reduzir a mudança climática.
* O autor é
correspondente da IPS.
Crédito de imagem: Melanie McField
Legenda:
Arrecife coralino no Mar do Caribe, na Jamaica