A CBI foi criada em 1946 pelos países signatários
da Convenção Internacional para a Regulamentação da Caça de Baleias. A
suspensão, da qual estão isentas comunidades aborígines de Rússia, Estados
Unidos e Groenlândia, foi adotada devido à super-exploração sofrida pelas
espécies. A moratória só foi violada por Islândia e Noruega, que caçam com fins
comerciais em suas águas jurisdicionais, enquanto o Japão estabeleceu para si
uma cota de mil baleias por ano para realizar pesquisas letais. Para os
ambientalistas trata-se de uma caça comercial disfarçada.
O grupo de
trabalho criado em Santiago responde à imobilidade que afeta a CBI, já que nem
conservacionistas nem baleeiros possuem os 75% dos votos necessários para
aprovar reformas de fundo. Os dois blocos desejam modificar o atual status quo
para responder, do ponto de vista de cada um, às mudanças registradas nas
populações de cetáceos e na valorização social dessas espécies. Os baleeiros
defendem que há espécies com populações abundantes, que podem ser caçadas de
forma sustentável. Países asiáticos e africanos aderem a essa postura.
Os
conservacionistas pretendem que seja mantida a atual moratória e proibida a caça
com fins científicos no Santuário do Oceano Austral (Antártida). Em
substituição, defendem o uso não letal de cetáceos, como turismo de avistamento,
que representa para a América Latina cerca de US$ 278 milhões por ano, segundo
um estudo divulgado na semana passada. Este bloco está liderado pelo chamado
"Grupo de Buenos Aires", que reúne uma dezena de países latino-americanos sendo
integrado também por Austrália, Estados Unidos, Grã-Bretanha e União
Européia.
O primeiro sinal de aproximação em Santiago foi a decisão de
não submeter a votação petições que não contavam com a maioria requerida para
sua aprovação, como a criação do Santuário Baleeiro do Atlântico Sul,
impulsionado por Brasil e Argentina com o patrocínio da África do Sul, e a
reabertura da caça comercial de baleias em quatro comunidades costeiras do
Japão. A única medição de forças foi a rejeição à proposta da Dinamarca,
representando seu território autônomo Groenlândia, que pedia aumento da cota de
caça para suas comunidades aborígines em 10 baleias jorobadas anuais, durante
cinco anos. O projeto, que contava com a aprovação do comitê científico, recebeu
36 votos contra 29 e duas abstenções, deixando os ânimos tensos.
Enquanto
só membros favoráveis à caça diziam que com esta decisão se negava o direito da
população da Groenlândia à sua segurança alimentar, algumas organizações
ambientalistas denunciaram que parte dessa carne é vendida em supermercados.
"Ninguém está satisfeito com o atual status quo. Temos cada vez mais baleias que
são mortas anualmente, sob objeção à moratória ou sob caça cientifica. Nosso
interesse é trabalhar para melhorar a realidade que vivemos atualmente, explicou
à IPS Bernardo Veloso, comissário do Brasil. Mas, "não estamos dispostos a
comprometer pontos que para nós são fundamentais, como a promoção do uso não
letal de cetáceos, o Santuário do Atlântico sul e o turismo de observação",
ressaltou.
"O Japão trabalhará muito para encontrar uma solução
conveniente a toda CBI", disse, por sua vez, o porta-voz da delegação japonesa,
Glenn Inwood, do Instituto de Pesquisa de Cetáceos de Tóquio. Mas – esclareceu –
"no mínimo a CBI deve encontrar um modo de acabar com a moratória global da caça
comercial de baleias e pôr em prática um esquema de direção que restaure o
mandato do organismo, isto é, a regulamentação da caça". Segundo Inwood, "há
muitas nações no mundo que hoje caçam baleias de forma sustentável para
alimento. O Japão continuará com seus programas de pesquisas mortais na região
antártica e no Pacífico noroeste, além da caça sustentável de pequenos cetáceos
em águas japonesas".
Apesar da moratória da CBI vigorar apenas para os
grandes cetáceos, golfinhos e botos, também são vistos com atenção. De fato, o
comitê científico do órgão na semana passada exortou o Japão a reduzir
consideravelmente a caça de botos de Dall (Phocoenoides dalli) no norte do país,
por sua precária situação. Além disso, o comitê científico alertou sobre o
crítico estado da vaquinha marinha (Phocoena sinus) nas costas do golfo do
México, país que criou um fundo de US$ 5 bilhões para sua proteção. De acordo
com o informe científico, não restariam mais de 150 exemplares, e, se sua pesca
incidental continuar, a espécie se extinguirá em cinco anos.
"Hoje é
muito difícil vislumbrar uma solução (para o confronto na CBI). Fala-se de
possíveis pacotes, mas hoje é muito difícil saber se haverá convergência. Os
dois lados têm duas posições muito distintas. O ponto fundamental para nós é que
não vamos mudar o status quo por uma realidade pior do que a atual", disse
Veloso. "No geral, a reunião foi positiva", afirmou à IPS susan Liebermna,
diretora do programa de espécies do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Mas
outras organizações dedicadas à proteção dos cetáceos indicam que o encontro
apenas beneficiou o Japão e demais países baleeiros, pois continuarão caçando,
apesar de a CBI ter uma moratória.
O grupo de trabalho "tem muitos
assuntos para discutir e nos preocupa que tratem mais dos aspectos
administrativos do que dos pontos centrais", afirmou Lieberman, que também
destacou o fato de se ter acordado "realizar reuniões científicas na Costa Rica
e Itália para discutir o impacto da mudança climática nas baleias".
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)
- Daniela Estrada, da IPS