Em uma reportagem publicada na revista The Ecologist, o jornalista Mark Anslow explica os benefícios desta abordagem.
Hegde funds para florestas?
O desmatamento fez com que a Indonésia pulasse, no ano
passado, da 14ª posição no ranking dos maiores poluidores do mundo para a 3ª. O
produto interno bruto (PIB) do país é 1/7 do da China e 1/13 dos EUA, os
primeiros colocados em emissões de gases do efeito estufa (GEE), e o território
corresponde a apenas um quinto destas nações.
Entre 2000 e 2005, a taxa
de desmatamento aumentou 19% e a floresta tropical cedeu espaço para as
plantações de óleo de palma. Está claro que, enquanto houver um preço de mercado
para as palmeiras e não para uma espécie nativa, a agricultura do tipo "destrói
e queima" será sempre a estrada mais rápida para a riqueza.
Em 2005,
organizações não-governamentais e políticos se voltaram para uma iniciativa que
fornecia aos países créditos de carbono por cada tonelada de floresta que não
fosse derrubada, o chamado REDD (Emissões Reduzidas por Desmatamento e
Degradação).
Foi então que iniciou uma fase de questionamentos: Isto se
tornaria um massivo esquema de neutralizações, que os governos do Ocidente
usariam para evitar cumprir as reais obrigações, através da compra de pedaços
virgens de floresta tropical? Como contabilizar o metano de plantas que
apodreciam naturalmente? E o grande consenso: e que tal premiar países que já
têm políticas e medidas para preservar suas florestas?
Frustrados por
atingir pouco progresso em negociações nas Nações Unidas, iniciativas paralelas
começaram a surgir. O governo brasileiro propôs um fundo internacional para
comprar os novos créditos florestais. A Coligação de Nações com Florestas
Tropicais queria que os créditos fossem incorporados ao Protocolo de Quioto e o
Banco Mundial propunha um esquema facilitador de parcerias nos créditos
florestais, no qual os 'vendedores' estariam em países com floretas e os
'compradores' em nações ricas.
Paralelo a isso, uma proposta conhecida
como Declaração Florestas Agora (Forests Now Declaration) começou a ganhar
apoio. Criada pelo programa Global Canopy, a proposta sugere que os créditos
florestais sejam criados para todas as áreas desmatadas, unicamente, para que os
governos considerem o valor dos "serviços dos ecossistemas" – como ar limpo,
manutenção das chuvas, estabilização do solo e alimentos, fornecimento de
combustível e habitação – e incorporem ao sistema de
comércio.
Ambientalistas veteranos são signatários da Declaração, como
Wangari Maathai e Jane Goodall, por este não restringir o valor das florestas a
apenas sumidouros de carbono, mas considerar todo o rico habitat que fornece
mais bens para a humanidade que jamais imaginado.
"Minha preocupação é
que o REDD seja tão complicado que talvez nunca chegue a decolar", disse o
fundador do programa, Andrew Mitchell. "Ele também está aberto a abusos. Você
poderia passar anos cortando as árvores e, então de repente, reduzir o
desmatamento e ganhar dinheiro com créditos de carbono. Ele não oferece nada as
comunidades locais. Nosso esquema destaca o valor de todo o ecossistema
florestal, com comunidades locais sendo seus vigilantes."
Ao invés de
negociar carbono internacionalmente, o programa Global Canopy propõe incluir os
ecossistemas florestais em "fundos" para serem negociados por investidores de
longo prazo, com lucros divididos entre eles e a comunidade que gerencia a
floresta. Tais fundos podem atrair a atenção de fundos hegde e de
pensão.
Esta modificação dos ecossistemas, no entanto, está causando
arrepios.
"Esquemas de comércio promovem uma 'mentalidade de
neutralização' – de que o Ocidente pode pagar para alguém reduzir as emissões
por eles", explica o ambientalista Tom Picken, da ONG "Friends of the Earth". "A
nível econômico, o preço do carbono é simplesmente muito mais baixo que o
trabalho. O Ocidente precisaria fazer sérios cortes de carbono antes que o preço
do carbono se tornasse alto o suficiente para valer toneladas de
florestas."
Picken também alerta que uma absurda quantidade de pessoas
está esperando para fazer uma enorme quantia de dinheiro somente por "levar as
florestas ao mercado". Ele prevê que madeireiras, muitas delas com permissão do
estado, construíram vastos "bancos de terra", trocando-os por dinheiro que pode
nem ser delas.
Ele cita a Costa Rica, onde as taxas de desmatamento
caíram depois da intervenção estatal. Ao oferecer 50 dólares por mês para
famílias que não derrubassem árvores, fazia senso para eles tornarem-se
guardiões da floresta. Picken insiste que as soluções devem vir da
população.
"Estas pessoas tem agido como guardiões das florestas há muito
tempo e tem feito um trabalho realmente muito bom", disse. "E o programa
costa-riquenho custou uma fração do programa equivalente no mercado de
carbono."
Mitchell concorda que a participação da comunidade é o melhor
caminho, porém argumenta que a experiência da Costa Rica não tem condições de
ser aplicada em grande escala.
"Juntar as mãos e levantar dinheiro usando
fotos de animais bonitos não fará isso", disse. "Eu tenho sido um
conservacionista por 15 anos e nós precisamos de capital de investimento para
fazer a diferença".
Ao ver a Guiana oferecer as florestas para serem
protegidas pelo Reino Unido ou pela Noruega através de um fundo de preservação
de US$500 milhões, fica caro que florestas significam dinheiro em uma maneira
que nunca foi vista antes. Em qual bolso o dinheiro irá parar, no entanto, e se
isto poderá preservar o que resta das florestas tropicais do mundo, irá depender
fortemente de qual voz falará mais alto na próxima conferência das Nações Unidas
em 2009.
* Traduzido por Paula Scheidt,
CarbonoBrasil.
(Envolverde/Carbono Brasil)