As lições de Charan sobre sustentabilidade

Se o complexo movimento rumo à sustentabilidade parece impossível, o desafio para empresas, universidades, governos e sociedade civil é acelerar o impossível antes que seja tarde demais para o planeta. A necessária mudança global nascerá da somatória de mudanças individuais e em pequena escala, conscientes, consentidas e estimuladas.

Isso exigirá uma revisão radical de modelos de pensar e agir: escolas, empresas, indivíduos, poder público e mercados terão que ensinar, produzir, consumir, regular e vender de modos diferentes, incorporando valores socioambientais em suas práticas. Nesse novo arranjo, líderes com visão de estadistas serão imprescindíveis. Não apenas grandes líderes em grandes corporações, mas líderes anônimos em todas as instâncias da sociedade.

Idéias como estas, utópicas no melhor sentido do termo, emergiram frescas no Global Fórum América Latina, realizado entre os dias 18 e 20 de junho, em Curitiba, na Federação das Indústrias do Paraná. Há dez anos, seria, no mínimo, improvável um evento que reunisse atores tão distintos quanto empresários, reitores de escolas de administração, representantes da ONU e organizações sociais, para discutir o papel de empresas e negócios no desenvolvimento sustentável. Os tempos, felizmente, são outros. E o capital, antes arredio a exames de consciência, parece rendido às evidências de que não haverá futuro possível para os mercados num planeta sob ameaça e sem a criação hoje de canais de diálogo intersetoriais mais amplos.

Improvável seria também trazer, como convidado especial, um guru de gestão de alta patente para falar a uma platéia composta não apenas por gestores empresariais, mas ambientalistas, ongueiros, professoras de ensino básico, voluntários e jovens estudantes. Não sobre como melhorar o desempenho dos negócios, mas sobre como construir redes sociais e promover inovação sustentável. Bem-vinda seja a diversidade.

Foi o que fez o Global Fórum – evento que se pauta pelas diretrizes do Pacto Global das Nações Unidas e seus dez princípios universais nos campos dos direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Do alto de sua experiência de consultor de grandes empresas como General Eletric, DuPont e Ford, o indiano Ram Charan veio ao Brasil para ensinar que a "missão de elevar o espírito humano" nos mantêm a todos, inclusive as empresas, "no caminho certo". E que todo mundo pode colaborar com o desenvolvimento sustentável de outras pessoas, grupos e comunidades, bastando combinar tempo, dedicação e paixão com raciocínio lógico e ferramentas específicas.

Em defesa de sua inusitada tese, Charam apresentou "dez princípios" para a inovação sustentável sobre os quais vale a pena refletir. Primeiro –crê-- é preciso definir uma causa de interesse comum, estabelecer resultados desejados e as formas de mensurá-los. Segundo, deve-se identificar pessoas capazes de assumir compromisso local com essa causa. Terceiro, trabalha-se para formar um consenso coletivo sobre a sua importância. As empresas –segundo o consultor –podem ser especialmente mais úteis no quarto e no quinto princípios, que consistem em construir soluções que tornem produtos e serviços acessíveis e em projetar sistemas eficazes para fazê-los chegar até as pessoas.

Para justificar a opinião de que não ter dinheiro induz à inovação, o especialista em liderança contou a história inspiradora de um médico da Califórnia (EUA) que foi para Uganda, na África, reuniu a comunidade, criou uma rede social e elaborou um sistema de gestão que permitiu às pessoas pobres pagarem um dólar pela assistência médica, com evidente impacto para a saúde pública local.

Além de identificar líderes sustentáveis, sem os quais não há mudança possível, (sexto princípio), Charan prega ainda nenhuma publicidade às iniciativas (sétimo), a definição de foco e prioridades claras (oitavo) e o estímulo à criatividade das pessoas envolvidas na solução (nono). Como décimo princípio, ele surpreendeu a todos com a recomendação, pueril para os impessoais padrões de avaliação empresarial, de que o objetivo maior de todo esse esforço deve ser a felicidade pessoal e a de outras pessoas.

Não seria exagerado afirmar que o Global Fórum reuniu 1300 felizes, ruidosos e festivos participantes. Em meio a painéis provocativos, e ao final de dezenas de grupos de trabalho que se dedicaram a uma metodologia de planejamento pouco convencional, denominada investigação apreciativa, os participantes elaboraram 80 proposições voltadas para a educação de líderes e gestores sustentáveis e para a construção de um ambiente favorável à sustentabilidade.

Entre as idéias sugeridas, vale destacar a introdução do conceito nos currículos escolares, a preparação de educadores para o ensino do tema, o tratamento tributário diferenciado e a certificação para produtos socioambientalmente responsáveis, e a inclusão, na lei de licitação, dos critérios de sustentabilidade para fornecedores de produtos e serviços. Os mesmos participantes já estão convocados para dois encontros. Um em Curitiba, nos dias 29 e 30 de julho. Outro em São Paulo, nos dias 21 e 22 de agosto. As proposições serão sistematizadas em um documento a ser apresentado ao Global Fórum de Cleveland, em junho de 2009.

Fosse há uma década, um evento como este seria visto, por empresários e gestores de empresa, como uma mera convenção de militantes ingênuos querendo livrar o mundo das garras do capital. Hoje, em tempos de aquecimento global, surgem como uma espécie de resposta à pergunta que não quer calar: "Qual é o papel de cada um na mudança que o planeta precisa?"


* Ricardo Voltolini é publisher da revista Idéia Socioambiental e diretor da consultoria Idéia Sustentável. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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