Com os
hábitos de consumo na ponta do iceberg, os palestrantes concentraram seus
esforços em mostrar que, sem uma mudança radical, coletiva e sistêmica, não há
saída. "Devemos educar nossas crianças para uma vida mais sustentável, pois já
temos conhecimento suficiente para passar para as gerações mais novas para que
elas desenvolvam um pensamento mais sustentável e que façam escolhas mais
inteligentes", argumentou.
Um exemplo claro veio da presidente da Ecoar,
organização que promove projetos socioambientais desde 1992, Miriam Dualibi. Em
pleno debate, sentada no palco do auditório, começou sua fala com uma sonora
reclamação. "Estou passando frio aqui na frente. Não há motivo para um
ar-condicionado tão forte. Somos obrigados a vir agasalhados, sendo que faz 40º
do lado de fora. Não dá para baixar a potência?", questionou. Aí a escolha
inteligente.
No entanto, o antropólogo Eduardo de Castro, do Instituto
Socioambiental, mostra que a questão não está apenas nesse ponto. Segundo ele, o
mundo precisa de uma nova matriz civilizatória. "Defende-se o crescimento
econômico, mesmo o sustentável. Mas de que crescimento estamos falando? Afinal
ele pode ser antônimo de desenvolvimento, o realmente importante",
afirmou.
Castro alegou que não é preciso crescimento para erradicar a
pobreza. "Sempre falou-se em fazer o bolo crescer para dividi-lo. Ele cresceu e
muita coisa foi erradicada: as árvores, o ar puro, os animais, tudo, menos a
pobreza."
As fortes opiniões do antropólogo ainda foram mais longe, ao
falar sobre as iniciativas dos setores privado e governamental sobre o impacto
que geram no meio ambiente. "Essa idéia de não se faz omelete sem quebrar os
ovos, para justificar o impacto é um completo absurdo. O problema de hoje é que
pretendemos fazer o omelete matando a galinha", brincou.
Miriam Dualibi
fez coro ao Castro e disse que o engajamento com o tema sustentabilidade já é
balzaquiano, com seus trinta anos de discussão. Ele lembra que, durante todo
esse tempo, seus defensores sempre se apegaram na idéia de que o movimento
caminha; que levaria alguns anos, mas que ele "engatinhava".
"O problema
é que, como o IPCC já demonstrou, não há mais tempo. O sistema faliu e precisa
ser reformulado. Mesmo o Triple Bottom Line (que concerne os negócios envolvendo
preocupações ambientais, sociais e econômicas) está velho. Ele não funciona
porque, na pirâmide, o aspecto econômico sempre está no topo. Os três devem
estar juntos", disse.
Um exemplo dado por Miriam se referem à tecnologia
de chuveiros elétricos, que na opinião dela, é ultrapassada. De patente
brasileira, o produto funciona com um sistema de resistência que dispersa a
energia, tornado o consumo maior. "Ao todo, 60% da conta de luz de casas mais
pobres vêem do uso dessa peça."
Com esse contexto, ela questiona a
administração pública por baixar as alíquotas de ICMS (imposto sobre circulação
de mercadorias e prestação de serviços) para que seja mais fácil comprar o
produto. "Por que facilitar a difusão de algo ruim?"
Nesse momento, ela
lembrou da construção das as usinas do complexo do Rio Madeira (Santo Antônio e
Jirau), em Rondônia, e a de Belo Monte, na volta do Rio Xingu, no Pará. Com
grandes impactos à região, juntas, as três hidrelétricas somam capacidade
instalada de 17,6 mil MW. A valor é similar ao que o brasileiro gasta apenas com
o chuveiro elétrico.
Uma idéia que qualquer um pode seguir é pensar todo
o dia em que há escolhas. Ela é condizente com os nossos discursos e valore? A
questão fica tão aberta quanto a real possibilidade de, na opinião dos
convidados, mudar radicalmente para outro lado.
"Até quando as pessoas
vão agüentar criticar o trânsito cada vez mais caótico das grandes cidades e
reclamar e depois pensar que o recorde de vendas de carros é uma boa notícia
para o país, que é parte do crescimento brasileiro", exemplificou Eduardo de
Castro.
Crédito de imagem: istockphoto
(Envolverde/Rede Gife)
- Por Rodrigo Zavala, da Rede Gife