A degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas é resultante de fatores como as variações climáticas e as atividades humanas. O aumento da população e, consequentemente, a maior demanda por alimentos, energias e outros recursos naturais causam impactos nessas regiões, provocando a deterioração dos solos, da vegetação e da biodiversidade.
Atualmente, a questão do uso da terra para produção de alimentos e/ou de energia tem se apresentado como um problema ambiental, social e econômico. No Brasil, a fronteira agrícola expande-se sem que haja o devido controle – e os resultados desse movimento são sentidos por todo o ecossistema.O secretário-executivo da UNCCD, Luc Gnacadja, afirma que o tema deste ano sublinha a importância da terra e do seu manejo para uma das atividades mais significantes na nutrição da nossa civilização – a agricultura. "Relatórios sobre o aumento dos preços globais dos alimentos e as revoltas ocasionadas por essa alta destacam o desafio que o mundo enfrenta", afirma ele, reforçando que o problema é agravado pelas dificuldades já existentes para se alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Da terra
Gnacadja
entende que, embora os altos preços dos alimentos possam ser mitigados
temporariamente pelas novas possibilidades de produção na agricultura, as causas
que limitam o alcance de uma produção sustentável permanecem. "Com o aumento da
população e da demanda por diversos tipos de produção agrícola, as tentativas
insustentáveis de manejo da terra estão evidentemente fracassando". Como prova
disso ele aponta um estudo sobre mudanças climáticas que afirma que, até 2080, a
capacidade de produção agrícola poderá ser reduzida em cerca de 16% caso se
omita a fertilização por carbono; e em cerca de 3% se esta for
incluída.
O uso não-sustentável da terra pode exacerbar o círculo vicioso
da degradação do solo, da perda de biodiversidade e da mudança climática. A
degradação da terra enfraquece a fertilização do solo, destrói o equilíbrio do
ciclo da água e contribui para insegurança alimentar, fome e pobreza, assim como
força a migração.
"Confrontar essa questão complexa requer uma resposta
global para se elevar a produtividade de ecossistemas de terra e fazer da
produção agrícola sustentável uma prioridade por meio de políticas que visem à
adaptação dos mais pobres às mudanças climáticas e à proteção da
biodiversidade", avalia Gnacadja.
Ele ressalta que não se pode esquecer
o papel fundamental da ciência e da tecnologia no combate à degradação do solo
para uma agricultura sustentável. "Um dos caminhos é desenvolverem-se diretrizes
e padrões para usos alternativos de produtos e serviços agrícolas, como a
produção de biocombustíveis – que tem como alvo os meios de subsistência
sustentáveis das pessoas mais vulneráveis em terras degradadas".
Mundo seco
As Nações Unidas apontam para mais de 100 países afetados pela
desertificação. Há desertos em toda a extensão do planeta: no México, cerca de
70% do território está vulnerável; enquanto a África possui uma expectativa de
25 milhões de refugiados até 2023. No Brasil, a região mais frágil é o
semi-árido – onde vivem 15 milhões de brasileiros (10% dessa região são
atingidos pelo fenômeno da desertificação, incluindo nove estados do Nordeste e
o norte de Minas Gerais).
O processo de desertificação atinge diretamente
mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo e ameaça os meios de
subsistências de aproximadamente 1 bilhão de habitantes, podendo obrigar outros
135 milhões a abandonarem suas terras – principalmente os mais
pobres.
Desde 1990, cerca de 6 milhões de hectares de terras produtivas
foram perdidos por ano e a previsão é de que os custos para recuperação das
áreas mais afetadas seja de 2 bilhões de dólares em 20 anos.
Alternativa orgânica
O combate à desertificação requer ações integradas. A Federação
Internacional de Movimentos pela Agricultura Orgânica (Ifoam, sigla em inglês)
conta com mais de 700 membros em mais de 100 países e está convencida de que a
agricultura orgânica pode contribuir significativamente para mitigar e até mesmo
reverter os impactos negativos do uso insustentável da terra e da
desertificação.
A aplicação de técnicas próprias conhecidas como
"windbreaks" ou "shelterbelts" (que protegem a plantação do vento e o solo da
erosão); assim como a prática de reflorestamento, fazem da agricultura orgânica
uma medida socioeconômica para se lidar com as questões de posse de terra e
promover o desenvolvimento humano sustentável.
A agricultura orgânica
ajuda a aumentar a fertilidade do solo, previne erosão provocada por vento ou
chuva, melhora a infiltração e retenção da água e reduz o consumo de água pelo
solo e sua contaminação - ações contribuem para trazer a terra de volta à
vida.
O presidente da Ifoam, Gerald A. Hermann, enfatiza que as práticas
de plantio que não cuidam do solo e de seus conteúdos orgânicos vivos prejudicam
o principal recurso da agricultura – a terra.
A diretora-executiva da
Federação, Angela B. Caudle de Freitas, sugere que governos, agências de
desenvolvimento e proprietários promovam o uso da agricultura orgânica como
forma de reverter a desertificação onde esse fenômeno já ocorre e também para
prevenir a sua expansão.
(Envolverde/Carbono Brasil)