Agricultura sustentável é tema do Dia Mundial de Combate à Desertificação

"Combater a degradação da terra para uma agricultura sustentável" é o tema que a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD, sigla em inglês) escolheu este ano para marcar o Dia Mundial de Luta contra a Desertificação e a Seca, comemorado em 17 de junho.

A degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas é resultante de fatores como as variações climáticas e as atividades humanas. O aumento da população e, consequentemente, a maior demanda por alimentos, energias e outros recursos naturais causam impactos nessas regiões, provocando a deterioração dos solos, da vegetação e da biodiversidade.

Atualmente, a questão do uso da terra para produção de alimentos e/ou de energia tem se apresentado como um problema ambiental, social e econômico. No Brasil, a fronteira agrícola expande-se sem que haja o devido controle – e os resultados desse movimento são sentidos por todo o ecossistema.

O secretário-executivo da UNCCD, Luc Gnacadja, afirma que o tema deste ano sublinha a importância da terra e do seu manejo para uma das atividades mais significantes na nutrição da nossa civilização – a agricultura. "Relatórios sobre o aumento dos preços globais dos alimentos e as revoltas ocasionadas por essa alta destacam o desafio que o mundo enfrenta", afirma ele, reforçando que o problema é agravado pelas dificuldades já existentes para se alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Da terra

Gnacadja entende que, embora os altos preços dos alimentos possam ser mitigados temporariamente pelas novas possibilidades de produção na agricultura, as causas que limitam o alcance de uma produção sustentável permanecem. "Com o aumento da população e da demanda por diversos tipos de produção agrícola, as tentativas insustentáveis de manejo da terra estão evidentemente fracassando". Como prova disso ele aponta um estudo sobre mudanças climáticas que afirma que, até 2080, a capacidade de produção agrícola poderá ser reduzida em cerca de 16% caso se omita a fertilização por carbono; e em cerca de 3% se esta for incluída.

O uso não-sustentável da terra pode exacerbar o círculo vicioso da degradação do solo, da perda de biodiversidade e da mudança climática. A degradação da terra enfraquece a fertilização do solo, destrói o equilíbrio do ciclo da água e contribui para insegurança alimentar, fome e pobreza, assim como força a migração.

"Confrontar essa questão complexa requer uma resposta global para se elevar a produtividade de ecossistemas de terra e fazer da produção agrícola sustentável uma prioridade por meio de políticas que visem à adaptação dos mais pobres às mudanças climáticas e à proteção da biodiversidade", avalia Gnacadja.

Ele ressalta que não se pode esquecer o papel fundamental da ciência e da tecnologia no combate à degradação do solo para uma agricultura sustentável. "Um dos caminhos é desenvolverem-se diretrizes e padrões para usos alternativos de produtos e serviços agrícolas, como a produção de biocombustíveis – que tem como alvo os meios de subsistência sustentáveis das pessoas mais vulneráveis em terras degradadas".

Mundo seco

As Nações Unidas apontam para mais de 100 países afetados pela desertificação. Há desertos em toda a extensão do planeta: no México, cerca de 70% do território está vulnerável; enquanto a África possui uma expectativa de 25 milhões de refugiados até 2023. No Brasil, a região mais frágil é o semi-árido – onde vivem 15 milhões de brasileiros (10% dessa região são atingidos pelo fenômeno da desertificação, incluindo nove estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais).

O processo de desertificação atinge diretamente mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo e ameaça os meios de subsistências de aproximadamente 1 bilhão de habitantes, podendo obrigar outros 135 milhões a abandonarem suas terras – principalmente os mais pobres.

Desde 1990, cerca de 6 milhões de hectares de terras produtivas foram perdidos por ano e a previsão é de que os custos para recuperação das áreas mais afetadas seja de 2 bilhões de dólares em 20 anos.

Alternativa orgânica

O combate à desertificação requer ações integradas. A Federação Internacional de Movimentos pela Agricultura Orgânica (Ifoam, sigla em inglês) conta com mais de 700 membros em mais de 100 países e está convencida de que a agricultura orgânica pode contribuir significativamente para mitigar e até mesmo reverter os impactos negativos do uso insustentável da terra e da desertificação.

A aplicação de técnicas próprias conhecidas como "windbreaks" ou "shelterbelts" (que protegem a plantação do vento e o solo da erosão); assim como a prática de reflorestamento, fazem da agricultura orgânica uma medida socioeconômica para se lidar com as questões de posse de terra e promover o desenvolvimento humano sustentável.

A agricultura orgânica ajuda a aumentar a fertilidade do solo, previne erosão provocada por vento ou chuva, melhora a infiltração e retenção da água e reduz o consumo de água pelo solo e sua contaminação - ações contribuem para trazer a terra de volta à vida.

O presidente da Ifoam, Gerald A. Hermann, enfatiza que as práticas de plantio que não cuidam do solo e de seus conteúdos orgânicos vivos prejudicam o principal recurso da agricultura – a terra.

A diretora-executiva da Federação, Angela B. Caudle de Freitas, sugere que governos, agências de desenvolvimento e proprietários promovam o uso da agricultura orgânica como forma de reverter a desertificação onde esse fenômeno já ocorre e também para prevenir a sua expansão.

(Envolverde/Carbono Brasil)

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