Accra (Gana), 22/04/2008 – Uma nova sessão da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) acontece na capital de Gana em meio a temores de que os problemas financeiros globais que nascem no Norte afetem o crescimento do Sul em desenvolvimento. É a primeira vez que se organiza uma conferência do fórum mundial neste país e, de fato, na África ocidental. O debate geral começou na tarde de ontem e terminará na próxima quinta-feira. As nações em desenvolvimento têm muitas expectativas sobre os resultados desta 12ª sessão da Unctad, cuja última edição aconteceu há quatro anos no Brasil.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban
Ki-moon, disse perante a junta da Unctad que a comunidade internacional tem o
"especial dever" de ampliar o crescimento econômico prometido há pouco aos "mais
pobres dos pobres", e acrescentou que "Accra também dever articular uma
estratégia efetiva para que a globalização, o comércio e o investimento
contribuam para reduzir a pobreza e fomentar o crescimento econômico".
A
reunião da Unctad é um bom lugar para promover esse objetivo ao reunir apoio
para um sistema financeiro, comercial e econômico mais sensível aos assuntos de
desenvolvimento. Ban afirmou que o papel da ONU é utilizar a globalização para
reduzir a pobreza. Também qualificou 2008 como o ano dos países menos avançados,
e acrescentou que a globalização ainda marginaliza a população indigente,
especialmente na África subsaariana. Os Objetivos de Desenvolvimento das Nações
Unidas para o Milênio, que inclui reduzir pela metade, até 2015, a proporção de
pessoas que vivem na indigência e sofrem fome, em relação aos números de 1990,
não serão alcançados neste ritmo.
O ministro de Comércio, Indústria e
Desenvolvimento do Setor Privado de Gana, Joe Baidoe-Ansah, disse que o encontro
de cinco dias permitirá que os políticos discutam problemas graves em matéria de
energia, migrações e a emergência das nações em desenvolvimento como motores do
crescimento econômico. Por meio do trabalho conjunto para enfrentar esses
desafios, "os Estados-membros da Unctad procurarão identificar soluções
políticas apropriadas bem como ações e medidas especificas", disse
Baidoe-Ansah.
Acontecendo em Gana, "a conferência oferece uma
oportunidade para realçar o papel da África na economia internacional e destacar
assuntos de especial preocupação para as nações africanas. É particularmente
necessário porque muitas pessoas neste continente não se beneficiam dos ganhos
da globalização", destacou o ministro. Por ocasião da assinatura do acordo de
recepção da 12ª sessão da Unctad, em 18 de dezembro passado, Baidoe-Ansah
destacou o compromisso do governo ganense com a realização de um encontro com
resultado positivo que combine eficiência com calorosas boas-vindas.
O
secretário-geral da Unctad, o tailandês Supachai Panitchpakdi, disse que as
propostas enviadas há pouco por ban à Assembléia Geral da ONU para reforçar o
"pilar de desenvolvimento" da ONU e "enfrentar importantes vazios sofridos pela
secretaria, incluída essa agência", são bem-vindas pela Unctad. As propostas
devem ajudar a organização a prosseguir seu trabalho e ampliar seus recursos.
Panitchpakdi também disse que o papel da agência é "ajudar as nações a acelerar
seu desenvolvimento e reduzir a pobreza mediante a maximização dos benefícios
procedentes da globalização".
Esta conferência acontece no contexto das
inseguranças que ameaçam o mais promissor crescimento econômico dos países em
desenvolvimento nos últimos 30 anos, disse Panitchpakdi, acrescentando que "o
mandato da Unctad é mais importante do que nunca no contexto atual de
aprofundamento da interdependência". Na "segunda metade da década passada, os
países do Sul tiveram um crescimento econômico médio de 5% ou mais em um
contexto internacional marcado pelo surgimento de pesos pesados na economia,
fora das nações industrializadas, incluídos Brasil, China e Índia", diz um
comunicado da secretaria da Unctad.
O panorama da economia mundial
depende em grande parte do fato de essas nações em desenvolvimento, que
aumentaram o volume de comércio, terem o impulso suficiente para se tornarem
menos vulneráveis à queda da América do Norte e Europa ocidental, prossegue o
documento. "Um problema associado que deve ser examinado em Accra é o parente
paradoxo de que, apesar do grande crescimento registrado na América Latina, Ásia
e África a pobreza ter diminuído em pouquíssimos casos, especialmente nas nações
menos desenvolvidas", acrescenta o comunicado.
A agenda da 12ª sessão da
Unctad inclui a discussão de oportunidades e desafios que supõe a globalização
para o desenvolvimento. Se tentará, também, analisar forma de incentivar o
desenvolvimento econômico sustentável e a redução da pobreza mediante políticas
globais. Entre os assuntos-chave da agenda se destaca o comércio e o
desenvolvimento e a nova realidade da economia mundial. Espera-se, ainda, que os
delegados analisem a melhora da capacidade produtiva, comercial e de
investimento. Outra questão-chave a ser discutida é o fortalecimento da Unctad,
a melhoria de seu papel em assuntos de desenvolvimento, seu impacto e sua
eficiência institucional. A conferência é presidida pelo secretário-geral da ONU
e moderada pelo secretário-geral da Unctad.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)