Agência FAPESP – Para uma floresta em perigo, nada como o nascimento de novas árvores. Pelo menos é isso o que o senso comum permite imaginar, mas a realidade não é bem essa. À lista de ameaças às florestas tropicais pode-se acrescentar uma nova: árvores.
Segundo um estudo feito
por pesquisadores dos Estados Unidos, árvores não nativas ao ingressar em
florestas tropicais provocam alterações na estrutura biológica básica encontrada
nos locais. Ou seja, elas fazem com que a floresta se torne menos hospitaleira à
miríade de plantas e espécies de animais que dela dependem.
O estudo será
publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista
Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
O grupo, liderado
por Gregory Asner, do Departamento de Ecologia Global do Instituto Carnegie,
usou uma tecnologia inovadora para sensoriamento remoto. Por meio do
Observatório Aéreo Carnegie, instalado em uma aeronave, os pesquisadores
desenharam mapas tridimensionais para avaliar o impacto de espécies invasoras em
uma área de mais de 220 mil hectares de floresta no Havaí.
"Espécies
invasoras de árvores freqüentemente apresentam propriedades bioquímicas,
fisiológicas e estruturais diferentes das espécies nativas. Nós combinamos essas
'impressões digitais' com imagens tridimensionais para ver como essas árvores
estão alterando a floresta", disse Asner.
No Havaí, estima-se que metade
de todos os organismos não seja nativa e que cerca de 120 espécies de plantas
podem ser consideradas como altamente invasivas. Áreas de vegetação original em
floresta tropical no arquipélago são geralmente dominadas pela ohia
(Metrosideros polymorpha), mas essa espécie que cresce muito lentamente está
perdendo terreno para outras mais novas no local, como a Morella faya,
originária das Ilhas Canárias.
De acordo com os pesquisadores, árvores
introduzidas também podem abrir caminho para mais invasores a partir da
alteração da fertilidade do solo. A Falcataria moluccana, por exemplo,
considerada uma das espécies mais invasoras, fixa nitrogênio da atmosfera,
concentrando-o no solo, o que estimula a velocidade de crescimento de outra
espécie invasiva e menor, a Psidium cattleianum.
A P. cattleianum, por
sua vez, forma uma densa cobertura que evita que a maior parte da luz solar
atinja o solo e promova o crescimento de plantas nativas jovens.
Os
pesquisadores ressaltam que as análises foram feitas em reservas protegidas pelo
governo. Ou seja, o cenário pode ser ainda pior. "Essas espécias conseguem se
espalhar por áreas protegidas e sem a ajuda de alterações promovidas pelas
atividades humanas. Isso sugere que as abordagens tradicionais de conservação
não são suficientes para a sobrevivência a longo prazo das florestas", disse
Asner.
Crédito da imagem: Gregory Asner
(Envolverde/Agência
Fapesp)