No "turismo climático" misturam-se o interesse legítimo em proteger a natureza, um desejo exacerbado por ver raridades prestes a se extinguirem e a busca do lucro.
Toronto, 14 de janeiro (Terramérica) -
Rápido! É preciso ver os ursos polares do Ártico, as geleiras antárticas e as
pequenas ilhas do Pacífico antes que desapareçam para sempre por causa do
aquecimento global. O desastre ambiental constitui uma nova fonte de renda para
as agências de viagens que oferecem "turismo climático", com ofertas como "Veja
a paradisíaca ilha de Tuvalu, que será tragada pelas águas do Oceano Pacifico
nos próximos 30 a 50 anos, e o Pólo Norte antes que perca o gelo e os ursos
polares".
Algumas empresas exploram a idéia de "veja agora antes que
desapareça", explica ao Terramérica Ayako Ezaki, diretora de Comunicações da
Sociedade Internacional de Ecoturismo (Ties), em Washington. Porém, "as
companhias de ecoturismo são cautelosas porque queremos que nossos clientes
vejam e depois atuem para proteger (esses lugares), evitando que desapareçam",
acrescentou. A mudança climática está transfigurando o planeta. Algumas ilhas
desaparecerão e outras emergirão na medida em que geleiras e plataformas de gelo
derreterem. Animais e plantas se extinguirão de maneira acelerada enquanto a
temperatura do planeta continuar aumentando.
"As mudanças climáticas
estão tendo impacto em todos os aspectos do sistemas humanos e naturais, entre
eles locais que são patrimônios mundiais", disse, em 2006, a Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Centenas de
sítios naturais e históricos insubstituíveis estão em perigo, como as antigas
ruínas da Tailândia, arrecifes de coral em Belize, mesquitas do século XIII no
Saara ou a Região Floral do Cabo, na África do Sul, segundo um estudo da Unesco.
Também existe um forte, e talvez perverso, desejo em muita gente disposta a
viajar para ver raridades como os últimos tigres ou as orquídeas
sapatinho-de-dama ou uma geleira que derrete em ritmo acelerado.
Por essa
razão, os cientistas são muito reticentes em revelar informações sobre estas
espécies, inclusive para impedir que os colecionadores recolham amostras e as
vendam pela Internet, disse ao Terramérica o biólogo Rranck Courcham, da
Université de Paris-Sud. Porém, os turistas se aventuram a lugares cada vez mais
distantes. "O turismo cresceu 4,3% anualmente nos últimos dez anos", disse
Louise Oram, porta-voz do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), uma
associação empresarial que reúne as cem principais companhias do setor. "E esse
crescimento continuará", disse Oram ao Terramérica, de seu escritório em
Londres.
No ano passado, a indústria do turismo faturou US$ 7 bilhões,
equivalentes a 10,7% do produto bruto mundial. Além disso, é responsável, direta
e indiretamente, por 231 milhões de empregos, assegurou Oram. O turismo é o
principal gerador de riqueza e postos de trabalho no mundo, segundo o WTTC.
Entretanto, também traz consigo um enorme impacto ambiental, algo que apenas
começa a assumir, reconheceu Oram. O ecoturismo e o turismo natural – que
incluiria o "turismo climático" – cresce quase três vezes mais rápido do que o
setor em geral, calculou Ezaki.
Os operadores de ecoturismo tentam
minimizar seus impactos, assegurou a diretora da Ties. "Quando o turismo não é
sustentável prejudica o meio ambiente, e na Ties procuramos mudar isso",
acrescentou. Embora os operadores da Ties prometam seguir um código de conduta
verde, não existem inspeções e nenhum foi expulso por cometer infrações, admitiu
Ezaki. O turismo de massa (as típicas férias em praias tropicais) não é
sustentável e continuará sendo o principal problema. Os governos terão de tornar
o mais ecológico possível cada aspecto desta atividade, acrescentou. "O setor
precisa mostrar que o ecoturismo é emocionante e diferente, e que não é apenas
para mochileiros ou ambientalistas", ressaltou.
Os turistas podem reduzir
seu impacto pessoal utilizando vôos diretos e viajando por períodos mais
prolongados, em lugar de fazer várias viagens curtas de poucos dias. Deveriam
escolher o trem ou o ônibus onde for possível, e realizar passeios a pé ou de
bicicleta, que oferecem uma nova maneira de conhecer um país, ressaltou Ezaki.
"A chave do negócio é manter o ambiente limpo", disse ao Terramérica Prisca
Campbell, da Quark Expeditions, uma agência de turismo verde dos Estados Unidos,
especializada em viagens ao Ártico e à Antártida. Na Antártida, há muitos anos
que há um acordo entre os operadores de turísmo com pautas rígidas para reduzir
os impactos sobre essa região tão delicada, acrescentou.
"Os clientes nos
dizem que viajam para ver pingüins, icebergs e geleiras e para conhecer o que
fizeram os primeiros exploradores", disse Campbell. Embora os turistas não
mencionem a mudança climática, seus guias os instruem sobre os impactos que
estão causando nos dois pólos. E seis em cada dez visitantes dizem estar
dispostos a agir contra o aquecimento global, acrescentou. "Não são turistas
'climáticos', mas alguns se converterão em ativistas 'climáticos'", assegurou
Campbell.
* O autor é correspondente da IPS.
LINKS EXTERNOS
+Ilhas que podem sumir do mapa
www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=92
+Tuvalu:
Um pequeno luta para sobreviver
ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=41646
+Mudança
Climática - África do Sul: Reino floral perde a coroa
ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=41067
+Sociedade
Internacional de Ecoturismo, em inglês
www.ecotourism.org/
+Conselho Mundial de Viagens
e Turismo, em inglês
www.wttc.org/
+Quark
Expeditions, em inglês
www.quarkexpeditions.com/
Legenda: Geleiras que
derretem entusiasmam turistas ricos.
Crédito: Charly W. Karl
Artigo
produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado
pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência
Envolverde.
(Envolverde/Terramérica)