Guatemala, 17 de dezembro (Terramérica) - "Antes não sabíamos como comercializar o café e nem quem o comprava no exterior, apenas sabíamos plantar e colher", conta o cafeicultor guatemalteco Pablo Pérez. Ele é representante de uma associação de pequenos produtores do departamento de Huehuetenango, integrada ao programa Café e Caffè, que busca melhorar a qualidade do produto para aumentar a renda dos pequenos agricultores. "Este projeto nos ajuda com os preços. Antes, os intermediários ficavam com a maior parte do lucro", disse Pérez a esta jornalista.
O programa, lançado no dia 6 de setembro, é financiado pela
chancelaria italiana e pela Organização Internacional do Café, que contribuem,
respectivamente, com US$ 1,5 milhão e US$ 600 mil. Pérez, um dos 170 pequenos
produtores guatemaltecos que participam do programa, explica que recebem "um
pouquinho mais, 45 quetzales por quintal de grão maduro", isto é, US$ 6 por 46
quilos. "Mas, se ganha pouco porque o fertilizante é caro". O preço usual fica
entre US$ 4,6 e US 5,3 o quintal. E há quatro ou cinco anos oscilava entre US$
2,6 e US$ 3,3, recorda Manrique López, coordenador técnico local do Café e
Caffè.
"Nossa filosofia é utilizar o café como eixo de desenvolvimento",
afirma Massimo Battaglia, do italiano Instituto Agronômico de Ultramar de
Florença, executor do projeto. Em dois anos, o programa pretende favorecer dois
mil pequenos cafeicultores da Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras,
Nicarágua e República Dominicana, reduzindo sua vulnerabilidade socioeconômica e
cultural, aumentando a sustentabilidade dos cultivos e promovendo o turismo
rural nas áreas de cafezal.
"O café tem a vantagem de ser colhido em
lugares lindos. Por que não aproveitar isto?", pergunta Battaglia, se referindo
ao potencial turístico de Huehuetenango, uma região montanhosa de 7.400
quilômetros quadrados com variedade de clima e paisagens. A Guatemala, com 13
milhões de habitantes, tem 75 mil cafeicultores, e dois terços deles são
pequenos produtores, explica Rodolfo González, gerente geral da Associação
Nacional do Café, que colabora com este programa e concede as licenças para a
exportação.
A indígena mam Lucía Ramírez, da aldeia Tuibosh, em
Huehuetenango, é mãe de seis filhos e colhe café há 18 anos. Agora "já pagam
melhor porque o café é de melhor qualidade', afirma. Os cafeicultores foram
capacitados em melhores técnicas de colheita, processamento e secagem do café,
com a preservação dos sistemas tradicionais de produção, bem como em formas de
reciclar os subprodutos para convertê-los em outra fonte de renda. Além disso,
defender "o produto local é trabalhar na defesa do território", diz Luca Fabbri,
representante da italiana Slow Food, fundação que dá assistência desde 2003 aos
pequenos cafeicultores de Huehuetenango.
Parte do café cultivado
manualmente à sombra, a uma altitude entre 1.500 e dois mil metros, é exportada
para a Itália, onde é distribuído pelas importadoras Pausa Café, Mokafe e
Eataly, para restaurantes e supermercados. Na colheita 2006-2007 foram
exportados para a Itália 1.500 quintais do Café Baluarte das Terras Altas de
Huehuetenango. "Os pequenos produtores podem obter café de qualidade cuidando do
meio ambiente", ressalta Iliana Martinez, representante da cooperativa italiana
Pausa Café.
Segundo Martinez, os cafeicultores aprendem a usar os
fertilizantes corretos, limpar suas terras e reciclar os subprodutos, e existe
um controle de qualidade e colheita para cada lote de produto. López, também
gerente geral da Comercializadora Baluarte de Huehuetenango, que trabalha com
diferentes associações na região, destaca que neste projeto intervêm desde
ministérios e produtores até compradores e representantes de governos locais.
"Por trás de todo produto há um território e há pessoas", ressalta. O pequeno
produtor deve ser parte principal na cadeia do café e receber benefícios
econômicos, sociais, técnicos, comerciais e ambientais,
acrescenta.
Cinqüenta e um por cento dos guatemaltecos vivem na pobreza e
oito em cada dez pobres estão em áreas rurais. Embora a agricultura gere 75% dos
empregos, contribui com apenas 23% do produto interno bruto.
* Este
artigo é parte de uma série sobre desenvolvimento sustentável produzida em
conjunto pela IPS (Inter Press Service) e IFEJ (sigla em inglês de Federação
Internacional de Jornalistas Ambientais).
Legenda: Cafeicultores
guatemaltecos em pleno trabalho.
Crédito de imagem: Gentileza da
Anacafé