Suva, 11/12/2007 – Os países insulares do oceano Pacifico representados na conferência internacional sobre mudança climática na ilha de Bali, na Indonésia, comemoram como um triunfo a ratificação do Protocolo de Kyoto por sua vizinha Austrália. Analistas políticos do Pacifico Sul atribuem, em parte,o fracasso eleitoral do ex-primeiro-ministro australiano John Howar, do conservador Partido Liberal, ao fato de não ter previsto a forma de pensar da cidadania em matéria de mudança climática. O Protocolo, acordado na cidade japonesa de Kyoto em 1997 e em vigor desde 2005, obriga 38 países industrializados (um, os Estados Unidos, retirou sua assinatura e outro, a Austrália, não o havia ratificado até a semana passada) a reduzir suas emissões em pelo menos 5,2% até 2012, em relação aos níveis de 1990.
A Austrália
ratificou o Protocolo de Kyoto no mesmo dia em que tomou posse seu novo
primeiro-ministro, o trabalhista Kevin Rudd, fato que coincidiu com a data de
início da conferência em Bali. Isto avivou as esperanças no Pacifico Sul de que
as nações industriais aumentem seu compromisso para reduzirem suas emissões de
gases que provocam o efeito estufa e forneçam fundos suficientes para lidar com
a mudança climática. A emissão desses gases, como o dióxido de carbono, metano e
óxido nitroso, é considerada pela maioria dos cientistas com responsável por
grande parte do atual ciclo de aquecimento do planeta.
Representantes de
14 nações insulares do Pacifico Sul participam da conferência das partes da
Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, assinada por 180
países. Estes delegados aproveitam a oportunidade para expor sua situação nas
diversas instancias que começaram no último dia 3 e terminarão na próxima
sexta-feira. A queda do governo de John Howard com a conseqüente mudança de
política a esse respeito é considerada um grande apoio às nações insulares, em
sua luta para conseguir que o mundo industrializado se comprometa mais com a
redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.
O ministro do
Meio Ambiente de Tuvalu, Tuvalu Teii, disse que a decisão do novo governo da
Austrália de ratificar o Protocolo de Kyoto é uma boa notícia para as pequenas
nações insulares em perigo por causa do aquecimento da Terra. "As nações que já
sofrem as conseqüências do aquecimento global, como Tuvalu, agora consideram a
Austrália um modelo a ser seguido por outras nações industrializadas", afirmou
Teii. A insistência de Howard em negar-se a ratificar o Protocolo desagradou as
ilhas pequenas do sul do oceano Pacifico, as mais vulneráveis à mudança
climática e que já sofrem suas conseqüências. Tuvalu, com cerca de 10 mil
habitantes, foi descrita como a "face da mudança climática" e alguns cientistas
prevêem que estará submersa em 50 anos.
Cada um dos 14 Estados insulares
tem sua própria agenda prevista para a conferência de Bali, segundo o programa
para o sul do Pacífico do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Porém, para todos
é importante que se chegue a um "novo acordo" em matéria de mudança climática
para 2009. "Se o desejo é evitar os perigos da mudança climática é urgente que
os países cheguem a um acordo para depois de 2012", quando vence o Protocolo de
Kyoto, diz uma declaração do WWF. "Um acordo exige um tempo de elaboração, mas é
muito importante que na conferência de Bali as nações cheguem a um acordo para
iniciar as negociações rapidamente. Estas devem levar a novos e maiores
compromissos entre todos os países que emitem grandes quantidades de gases que
provocam o efeito estufa", acrescenta a organização.
As nações insulares
pressionam para que seja incluído um financiamento adequado para a adaptação à
mudança climática no novo acordo. Os custos para que os países em
desenvolvimento se adaptem ao fenômeno são estimados em US$ 50 bilhões por ano,
e ainda mais se as emissões de dióxido de carbono não diminuírem em todo o
mundo, afirmou a organização humanitária Oxfam Internacional. As atuais
promessas de fundos chegam a US$ 163 milhões, muito abaixo do estimado, diz um
informe dessa instituição de origem católica.
Os Estados insulares
sentem-se especialmente impotentes e frustrados porque emitem menos gases e,
entretanto, figuram entre os países mais vulneráveis às conseqüências da mudança
climática por causa de seu pequeno tamanho, grande população litorânea, enorme
dependência dos recursos naturais e baixo relevo. É importante que, por haver
tantos países insulares na região que precisam se adaptar à mudança climática, o
novo acordo internacional preveja um financiamento adequado capaz de fazer
frente ao fenômeno, disse o WWF. "Sem um acordo internacional firme nessa
questão, estará em jogo a sobrevivência das ilhas do Pacifico", acrescenta o
estudo.
O eventual desaparecimento de muitas dessas ilhas de baixo
relevo, caso fracassem as ações para enfrentar a elevação do nível do mar,
integra a agenda de Bali. O representante da Aliança de Pequenos Estados
Insulares (Aosis, sigla em inglês),Angus Friday, de Granada, disse que o
fracasso na redução das emissões de gases causadores do efeito estufa e de
tratados efetivos após o vencimento do Protocolo de Kyoto terá conseqüências
catastróficas, incluindo a perda de ilhas inteiras.
A Aliança reúne 43
países com menos de 15 milhões de habitantes que incluem desde Cingapura até
Tuvalu. Os governos de ilhas pequenas devem repensar as estratégias de adaptação
e criar formas para reduzir sua vulnerabilidade diante de novos golpes
ambientais e econômicos, afirmou Friday. Além disso, devem dispor das respostas
tradicionais, com melhores barreiras costeiras, capacitação na gestão de
desastres e diversificação econômica, acrescentou.
As nações com baixo
relevo já sofrem as conseqüências da mudança climática e têm milhões de pessoas
em zonas de risco e outras que já tiveram de ser deslocadas e mudaram para
outros países, disse Friday. "Já se vê refugiados por motivos ambientais nas
Maldivas e em outras ilhas pequenas. Cria-se acordos pelos quais se aconselha as
pessoas a mudarem para outros países", acrescentou. As nações ricas devem ser
responsabilizadas porque "acreditamos que elas se beneficiam do rápido
desenvolvimento econômico e industrial, basicamente responsável pelo problema",
ressaltou Friday. (IPS/Envolverde)
(*) Com colaboração de Imelda Abano,
desde a Indonésia.
(Envolverde/ IPS)