Para minimizar a mudança climática, um restaurante de Santiago do Chile aproveita melhor o calor e a energia, compra eletricidade limpa e certificados de carbono.
SANTIAGO, 10 de dezembro (Terramérica).-
O restaurante vegetariano El Huerto, em Santiago, é o primeiro do Chile a
decidir combater suas emissões de dióxido de carbono. E agora, graças a uma
iniciativa independente, qualquer cidadão poderá fazer o mesmo pela Internet. El
Huerto, com capacidade para cem pessoas, abriu suas portas em 1980 no calmo
bairro de Providencia e hoje goza de fama entre os amantes da comida saudável e
da natureza.
Fiéis à sua consciência ecológica, seus proprietários, José
Fliman e Nicole Mintz, decidiram, em junho, dar um passo que os levará para além
das famosas tortas de alcachofra e verduras sauté: neutralizar o dióxido de
carbono, um dos gases causadores do efeito estufa, liberado na atmosfera pela
cozinha e pelo serviço aos clientes. "Queremos reduzir nosso consumo de energia
e compensar o que não podemos economizar", disse ao Terramérica Fliman, que
deixou o processo nas mãos do governamental Instituto de Ecologia Política
(IEP).
Inicialmente, o IEP fez a análise energética do El Huerto, que
emite anualmente 64,65 toneladas de dióxido de carbono pelo consumo de
eletricidade térmica e combustíveis fósseis como gás, parafina, carvão e
benzina. Depois fez um plano de economia energética de 12% ao mês com conselhos
práticos e painéis educativos para mudar os hábitos dos mais de 20 trabalhadores
do concorrido restaurante. "A explicação que o Instituto nos deu sobre a mudança
climática nos fez tomar consciência da gravidade do problema", disse ao
Terramérica a garçonete Isabel Carvajal.
As lâmpadas foram trocadas pelas
de baixo consumo, foram selados vazamentos de ar para reduzir o uso de calefação
no inverno e instalados toldos do lado de fora das janelas para reduzir a
entrada de calor no verão. As panelas são tapadas para reduzir o tempo de
cozimento dos alimentos, armazena-se água em recipientes próprios e apaga-se as
luzes desnecessárias. A avaliação final do processo acontecerá em novembro de
2008. Por outro lado, o restaurante decidiu compensar todo o dióxido de carbono
emitido em 2007 comprando eletricidade limpa e bônus de carbono, destinados a
financiar projetos de baixa ou nenhuma liberação de gases causadores do efeito
estufa.
El Huerto compra eletricidade da El Rincón, uma central
hidrelétrica que aproveita a energia natural dos rios sem acumular a água em
represas. Em agosto, o próprio IEP certificou que a El Rincón produzia energia
limpa, respeitando o meio ambiente e a população, segundo os padrões da Rede
Européia de Eletricidade Verde. O restaurante também compra bônus de carbono da
Climate Care, que utiliza o dinheiro para implementar projetos limpos em nome de
seus clientes. O El Huerto desembolsou US$ 770 pela compensação de 2007. No dia
30 de novembro, entregou US$ 295 à El Rincóin, que gera 2,4 quilowatts por
hora.
À Climate Care, que concede certificados ou autorizações para
emitir uma tonelada de carbono por US$ 15, correspondem cerca de US$ 475. A
proprietária da El Rincón, a Associación de Canalistas de Maipo, principal rio
que abastece de água a capital, utilizará o dinheiro na operação da geradora e
na manutenção da rede de canais que a abastecem, disse ao Terramérica seu
gerente-geral, Alejandro Gómez. A Climate Care investirá o dinheiro em seu
portfólio de projetos de energias renováveis não convencionais e de eficiência
energética. "Isto reforçará nossa imagem diante dos consumidores. Se eu fosse
exportador, não pensaria duas vezes para competir com empresas de outros
países", disse Fliman.
O El Huerto utiliza 20% de suas matérias-primas
orgânicas, elaboradas sem agroquímicos. A proporção não é maior porque o mercado
interno é pequeno e por problemas de distribuição, explicou o proprietário. "Ser
responsável por sua marca ecológica proporciona às empresas benefícios de imagem
ou de competitividade no mercado", disse ao Terramérica Matias Steinacker,
representante da Climate Care na América Latina. Porém, essa tendência apenas
começa no Chile. Em novembro, foram compensadas emissões de dióxido de carbono
produzidas em um encontro organizado pelo governo com investidores em energias
renováveis e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Os MDL permitem a
governos e empresas de nações industrializadas, obrigadas a reduzir seus gases
causadores do efeito estufa, a cumprir em parte esse objetivo investindo em
projetos limpos em nações em desenvolvimento para obter reduções certificadas de
emissões a custos menores. Para Fliman, o mais reconfortante foi ver a mudança
de hábitos de seus funcionários "porque dessa forma vai se criando uma rede".
Segundo dados das Nações Unidas, o Chile é o país latino-americano que mais
aumentou suas emissões anuais de carbono entre 1990 e 2004, de 35,6 milhões de
toneladas para 62,4 milhões.
Porém, a contribuição chilena para a mudança
climática é de 0,2% do total. A emissão de dióxido de carbono por habitante é de
3,9 toneladas anuais. Para comprometer os cidadãos na cruzada contra a mudança
climática, o IEP lançou a iniciativa "Zerodióxido de carbono", em uma página da
Internet, onde qualquer pessoa pode calcular suas emissões desse gás e encontrar
orientações para reduzi-las e compensá-las pagando de forma eletrônica.
* A autora é correspondente da IPS.
LINKS
EXTERNOS
+Instituto de Ecología Política
http://www.iepe.org/
+Climate Care, en inglés
http://www.climatecare.org/
+Cerodióxido de carbono
http://www.ceroco2.cl
(Envolverde/Terramérica)