Japão busca protagonismo em Bali

Tóquio, 04/12/2007 – O Japão espera ter um papel-chave na conferência internacional sobre mudança climática que começou ontem na ilha de Bali, na Indonésia. O encontro vai até o próximo dia 14 organizado pela Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CMNUCC). "A mudança climática e as questões ambientais são oportunidades para que o Japão promova positivas relações transfronteiriças com seus vizinhos", disse à IPS o analista Andrew Horvat, professor visitante de economia na Universidade de Keizai, em Tóquio.


"A chuva ácida não respeita as fronteiras nacionais, nem tampouco o derretimento dos gelos. Assumir um papel de liderança na questão do aquecimento global é justamente o que Tóquio precisa para demonstrar que pode contribuir de forma positiva com a ordem mundial", disse Horvat. Segundo o professor, as contribuições militares e de segurança sempre foram problemáticas para o Japão, em particular pela falta de consenso interno e em parte porque Tóquio ainda tem disputas pendentes com seus vizinhos relativas à Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Durante décadas o Japão teve problemas para ganhar a confiança de seus vizinhos asiáticos – especialmente China e Coréia do Sul – por causa dos crimes que as tropas japonesas cometeram contra os habitantes desses países durante o conflito. Tóquio precisa influenciar todos os países para criar um novo contexto sobre o aquecimento do planeta, afirmou Mitsune Yamaguchi, um dos autores do terceiro e quarto informe do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática, da Organização das Nações Unidas, e conselheiro do governo japonês.

"Será possível atrair os Estados Unidos, e depois os maiores emissores, como China e Índia, se continuarmos com os atuais esquemas de comércio e regulamentações?", perguntou Yamaguchi. "Se as novas regulamentações depois do Protocolo de Kyoto – único instrumento internacional que atua contra a mudança climática – forem mais severas, Washington nunca as aceitará. Os governo norte-americano se retirou do Protocolo em parte porque cumprir os compromissos era algo muito caro. E, sem a participação de Estados Unidos, China e Índia nunca irão aderir", acrescentou o especialista.

O Japão é o quinto maior emissor de gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento planetário, atrás de Estados Unidos, China, Índia e Rússia, e é alvo de forte pressão para que cumpra suas metas de redução de emissões. "Por outro lado, se permitirmos um objetivo mais flexível somente para Washington e mais severos para a União Européia e o Japão, nenhum destes dois os aceitarão. Particularmente, no Japão prevalece o sentimento de que ter aceito o injusto Protocolo de Kyoto foi um erro", disse Yamaguchi. "É impossível estabilizar a mudança climática se as pessoas não transformam seus estilos de vida e valores. Necessitam ver menos televisão, que consome muita eletricidade, e não dirigir automóveis. É chave trabalharem juntos como uma comunidade global", acrescentou.
O especialista destacou que isto não significa que Tóquio não esteja disposto a contribuir na luta contra a mudança climática. A visão geral é que os gases causadores do efeito estufa devem ser reduzidos de forma substancial, para menos da metade do nível em um século. O forte aumento das emissões de dióxido de carbono no Japão procede do setor de serviços. Isto se deve à grande demanda de eletricidade para calefação durante o inverno. As companhias são renitentes em pedir aos clientes e trabalhadores para usarem menos calefação.

"Reduzir nossas emissões pela metade até 2050 é muito otimista. Por meio de quais tecnologias e cálculos podemos cumprir esta meta? Os atuais objetivos manejados nas conferencias não são viáveis. Os países baseiam seus objetivos em seus desejo, não em cálculos realistas. Depende do Japão fazer com que as nações percebam isto", afirmou Yamaguchi. O Japão acredita que esta é sua oportunidade, e na semana passada prometeu um pacote de US$ 2 bilhões para ajudar a combater a contaminação e a mudança climática. O pacote inclui programas de capacitação e créditos para o período de cinco anos.

"Os países da Ásia oriental enfrentam graves problemas ambientais enquanto experimentam um rápido crescimento econômico como o que o Japão já teve uma vez", disse o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, em entrevista coletiva ao anunciar o pacote. "Quero que esses países aprendam as lições do Japão em superar os graves desastres ambientais", acrescentou. O pacote tem o objetivo de ajudar países asiáticos em desenvolvimento que sofrem contaminação da água e do ar e também prepará-los para enfrentar desastres naturais. (IPS/Envolverde)

(Envolverde/ IPS)

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