Brasília - A comunidade científica espera ver, em Bali, um maior protagonismo do Brasil. A avaliação é do professor Carlos Nobre, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que disse que o país deveria assumir um papel de liderança entre as nações com florestas tropicais, numa proposta "arrojada" e "inovadora" de redução dos desmatamentos.
"Gostaríamos de ver o Brasil liderando e buscando
mecanismos que recompensem os países tropicais que reduzirem suas taxas de
desmatamento", comentou Nobre, em entrevista à Rádio Nacional. Ele disse que o
Brasil tem a melhor tecnologia de monitoramento de florestas por satélite e que,
por isso, deve buscar maneiras alternativas de desenvolver as regiões tropicais
sem desmatar.
Para o pesquisador, o país tem investido em tecnologias
limpas, como a produção do biocombustível de segunda geração, produzido a partir
de resíduos agrícolas. No entanto, ele defende que os investimentos em recursos
humanos e equipamentos tecnológicos na área deveriam ser dez vezes
maiores.
O professor disse que o mais importante na Conferência de Bali é
que os representantes das 190 nações reunidas concordem numa estratégia que
possibilite um novo acordo até 2009. O acordo deve buscar uma redução das
emissões para a próxima década, quando, segundo Nobre, elas chegarão ao nível
máximo. "A partir daí, iniciamos uma queda das emissões, para chegar em 2040, ou
2050, com 50%, 60% ou até 70% de redução das emissões".
A grande questão,
segundo o professor, é quem vai pagar os custos das mudanças nos países pobres,
que pouco contribuem para as mudanças de temperatura e estão entre os que sofrem
os impactos mais severos. Ele disse que os países desenvolvidos são
"superdesenvolvidos" e deveriam repassar tecnologias, conhecimento e recursos
para que os países pobres também possam contribuir. "Eles [países mais
industrializados] não precisam se desenvolver mais, precisam apenas manter uma
qualidade de vida para sua população", observou.
Além disso, o
climatologista disse que os países ricos têm muita "gordura" para queimar em
relação às suas emissões de carbono, enquanto os países mais pobres consomem
pouco petróleo, carvão e gás natural.
Relatório do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado em 27 de novembro, mostra que as
nações ricas são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito estufa,
enquanto os países em desenvolvimento respondem por 28%, e as nações pobres, por
2% delas.
(Envolverde/Agência Brasil)