Um mapa inédito, baseado em dados obtidos por satélite, revela que navios operam em 2oo milhões de km2, uma área quatro vezes maior que a empregada na agricultura global
Dois pesqueiros chineses no porto de Abidjan em 2007
Esta é uma nova ilustração da colossal pressão que o ser humano exerce sobre os oceanos. A pesca industrial explora no mínimo 55% da superfície dos mares no mundo – seja mais de quatro vezes a superfície ocupada pela agricultura sobre a terra. Aqui estão as conclusões de um amplo estudo, publicado na revista Science, nesta sexta-feira, 23 de fevereiro que passa pelo crivo, com um grau de precisão inédito a respeito da coleta de peixes em todo o planeta até os deslocamentos dos navios e suas atividades hora a hora. O estudo fornece um mapa interativo e acessível ao grande público da atividade pesqueira mundial.
Para obter esses resultados, os pesquisadores ligados às ONG (Vigilância Global sobre a Pesca, Sociedade Geográfica Nacional e Verdade do Céu), Universidades (da Califórnia e Stanford, dos EUA e Dalhousie, do Canadá) além do Google que recuperaram 22 bilhões de mensagens difundidas por suas posições nos sistemas de identificação automáticas (SIA), concebidas na origem para evitar choques, dando a identificação dos barcos, sua posição, sua velocidade e seu ângulo de rotação a cada intervalo de segundos, registradas pelos satélites e pelas estações no solo.
Tecnologia de aprendizagem automática
Os cientistas exploraram esta gigantesca massa de dados graças a uma tecnologia de aprendizagem automática que eles desenvolveram (duas redes neuronais convolutivas, perfis correntemente utilizados no reconhecimento avançado de imagens). O algoritmo pode identificar 70.000 navios comerciais, seu tamanho, sua potência, seu comportamento (pesca ou navegação), o tipo de pesca que eles praticam, bem como o local e o momento onde eles operam naquele instante e suas coordenadas. Esta amostra representa mais de três quartos das localizações de mais de 36 metros no mundo.
Resultado: esses barcos exploraram 55% da superfície dos mares em 2016, ou seja, 200 milhões de km2 (contra 50 milhões ocupados pela agricultura). “Porém, esses dados não levam em conta as regiões onde a cobertura por satélite é fraca ou as zonas econômicas exclusivas (ZEE) que apresentam uma baixa percentagem de navios que utilizam sistemas de identificação automática”, observam os autores. Para efeito de exploração, eles consideram que a pesca industrial envolve cerca de 73% da superfície dos oceanos.
Imagem de satélite das áreas de pesca no mundo
600 vezes a distância da Terra à Lua
No detalhe, os números nos causam vertigens. Algo que, em 2016, a equipe de pesquisadores observou. Foram 40 milhões de horas de pesca que os navios gastaram, além de dispenderem 19 bilhões de kWh de energia e percorrido mais de 460 milhões de quilômetros, algo como 600 vezes a distância de ida e volta da Terra à Lua.
As áreas mais envolvidas são o Atlântico Nordeste (Europa) e o Pacífico Noroeste (China, Japão, Rússia), bem como algumas regiões ao largo da América do Sul e da África Ocidental. Se a maior parte dos países pescam preferencialmente em suas próprias ZEE, a China, Espanha, Taiwan, Japão e a Coreia do Sul representam 85% da atividade em alto mar. A pesca com espinhel é a técnica mais difundida (em 45% dos oceanos) seguida pelo cerco (17%) e pela rede de arrasto (9%).
O estudo mostra igualmente que os períodos e as intensidades da pesca dependem muito pouco dos ciclos naturais tais como as variações climáticas e a migração dos peixes ou ainda do preço do combustível. São, por outro lado, influenciadas por decisões políticas, como uma moratória de verão na China e a cultura – a atividade cai durante os fins de semana e os feriados de Natal no hemisfério norte.
Gestão durável da pesca
“Ao permitir que todo mundo possa baixar nossos dados, em especial os tomadores de decisões políticas, nós buscaremos melhorar a transparência no setor da pesca comercial e reforçar as possibilidades de uma gestão durável”, explica David Kroodsma, principal autor do estudo e diretor de pesquisas e desenvolvimento da Global Fishing Watch (Observatório Global da Pesca).
Esses trabalhos, todavia, não dizem nada a respeito das quantidades de pesca e de sua evolução ao longo do tempo. “Podemos saber durante quanto tempo os barcos pescam, mas seria necessário combinar estes dados com outros, explica Kristina Boerder, uma das coautoras e doutoranda na Universidade de Dalhousie. Graças a nosso mapa, podemos proteger ecossistemas frágeis como os arrecifes de corais de água fria, ameaçados pelo arrasto profundo, trabalhar sobre a superpesca, a pesca ilegal e igualmente conhecer as áreas melhor geridas ou a eficácia das zonas marinhas protegidas”.
A partir do último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação a Agricultura (FAO), temos que 31% dos estoques mundiais de peixe são superexplorados, o que significa que essas espécies são coletadas a uma taxa maior que sua taxa de reprodução. Este fenômeno é atualmente três vezes mais massivo que há 40 anos. “A iniciativa mundial da pesca é muito mais importante que as outras fontes de produção de nutrição, visto que a pesca fornece apenas 1,2% das calorias consumidas pelos humanos, ou seja, 34 kcal por habitante por dia”, comentam os autores. É isto que reforça a necessidade de uma gestão durável.
La pêche industrielle exploite plus de la moitié de la superficie des océans
C’est une nouvelle illustration de la colossale pression que l’humain exerce sur les océans. La pêche industrielle exploite au moins 55 % de la surface des mers dans le monde – soit plus de quatre fois la superficie occupée par l’agriculturesur terre. Voilà les conclusions d’une vaste étude, publiée dans Sciencevendredi 23 février, qui passe au crible, avec un degré de précision inédit, l’ampleur des prises de poissons partout sur la planète jusqu’aux déplacementsdu moindre navire et à ses activités heure par heure. Elle fournit une carte interactive, accessible au grand public, de l’empreinte mondiale de la pêche.
Pour obtenir ces résultats, les chercheurs appartenant à des ONG (Global Fishing Watch, National Geographic Society, SkyTruth), des universités(Californie et Stanford aux Etats-Unis, Dalhousie au Canada) ainsi que Googleont récupéré 22 milliards de messages diffusés depuis les positions des systèmes d’identification automatique (SIA) des navires entre 2012 et 2016. Ces SIA, à l’origine conçus pour éviter les collisions, donnent l’identité des bateaux, leur position, leur vitesse et leur angle de rotation chaque poignée de secondes, enregistrés par des satellites et des stations au sol.
Technologie d’apprentissage automatique
Les scientifiques ont exploité cette gigantesque masse de données grâce à une technologie d’apprentissage automatique qu’ils ont développée (deux réseaux neuronaux convolutifs, outils couramment utilisés dans la reconnaissance avancée d’images). L’algorithme a pu identifier 70 000 navires commerciaux, leur taille et leur puissance, leur comportement (pêche ou navigation), le type de prises qu’ils pratiquent, ainsi que le lieu et le moment où ils opèrent à l’heure et au kilomètre près. Cet échantillon représente plus des trois quarts des bâtiments de plus de 36 mètres dans le monde.
Résultat : ces bateaux ont exploité 55 % de la surface des mers en 2016, soit 200 millions de km2 (contre 50 millions occupés par l’agriculture). « Mais ces données ne tiennent pas compte des régions où la couverture par satellite est mauvaise ou des zones économiques exclusives [ZEE] présentant un faible pourcentage de navires qui utilisent un système d’identification automatique », notent les auteurs. Par, ils jugent que la pêche industrielle a plutôt concerné 73 % de la superficie des océans extrapolation.
600 fois la distance Terre-Lune
Dans le détail, les chiffres donnent le tournis. Rien qu’en 2016, l’équipe de chercheurs a observé 40 millions d’heures de pêche par des navires qui ont consommé 19 milliards de kWh d’énergie et parcouru plus de 460 millions de kilomètres, soit 600 fois la distance aller-retour de la Terre à la Lune.
Les zones les plus concernées sont l’Atlantique Nord-Est (Europe) et le Pacifique Nord-Ouest (Chine, Japon, Russie), ainsi que quelques régions au large de l’Amérique du Sud et de l’Afrique de l’Ouest. Si la plupart des pays pêchent principalement dans leur propre ZEE, la Chine, l’Espagne, Taïwan, le Japon et la Corée du Sud représentent 85 % de cette activité en haute mer. La pêche à la palangre est la technique la plus répandue (dans 45 % des océans), suivie par la senne coulissante (17 %) et le chalutage (9 %).
L’étude montre également que les périodes et les intensités de la pêche ne dépendent que très peu des cycles naturels tels que les variations climatiques ou la migration des poissons, ni même du prix du fioul. Elles sont en revanche influencées par les décisions politiques, comme un moratoire estival instauré en Chine, et la culture – l’activité baisse durant les week-ends et les vacances de Noël dans l’hémisphère Nord.
Gestion durable de la pêche
« En permettant à tout le monde de télécharger nos données, et notamment aux décideurs politiques, nous cherchons à améliorer la transparence dans le secteur de la pêche commerciale et à renforcer les possibilités d’une gestion durable », explique David Kroodsma, auteur principal de l’étude et directeur des recherches et du développement au Global Fishing Watch.
Ces travaux ne disent toutefois rien des quantités de prises de pêche ou de leur évolution dans le temps. « Nous pouvons savoir pendant combien de temps les bateaux pêchent mais il faudrait le combiner à d’autres données, précise Kristina Boerder, l’une des coauteurs et doctorante à l’université Dalhousie. Grâce à notre carte, nous pouvons protéger des écosystèmes fragiles comme les récifs coralliens d’eau froide menacés par le chalutage profond, travailler sur la surpêche et la pêche illégale et connaître également les zones mieux gérées ou l’efficacité des aires marines protégées. »
D’après le dernier rapport de l’Organisation des Nations unies pour l’alimentation et l’agriculture, 31 % des stocks de poissons sont surexploités dans le monde, ce qui signifie que ces espèces sont prélevées plus rapidement qu’elles ne peuvent se reproduire. Un phénomène trois fois plus massif qu’il y a quarante ans. « L’empreinte mondiale de la pêche est beaucoup plus importante que les autres sources de production de nourriture alors que les pêcheries ne fournissent que 1,2 % des calories consommées par les humains, soit 34 kcal par habitant et par jour », remarquent les auteurs. Ce qui renforce la nécessité d’une gestion durable.