OU TODOS IREMOS AFUNDAR NO MESMO BARCO
Nova Délhi, 06/11/2007 – Os países ricos devem reduzir drasticamente suas emissões de gases causadores do efeito estufa para minimizar os impactos da mudança climática, diz um informe da Organização das Nações Unidas sobre os efeitos do aquecimento global no Sul em desenvolvimento, cuja apresentação está prevista para o final deste mês. Para ter uma possibilidade real de evitar os perigos da mudança climática, as nações do Norte devem reduzir suas emissões em pelo menos 80% até 2050, disse Kevin Watkins, um dos autores do Informe de Desenvolvimento Humano 2007 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), durante um painel sobre mudança climática para jornalistas asiáticos na capital da Índia.
O informe, intitulado "Combatendo a mudança climática:
solidariedade em um mundo dividido", será apresentado oficialmente uma semana
antes da Conferência sobre Mudança Climática da ONU, que acontecerá em Bali, na
Indonésia entre 3 e 14 do próximo mês. Estabelecer um contexto ou um mapa para
futuras estratégias de redução de emissões é um dos objetivos desse encontro. O
informe poder ser o ponto de confluência para um futuro regime mais justo de
redução de emissões, disse Watkins. "Os países ricos devem demonstrar liderança
e realiza reduções mais profundas e antecipadas, bem como adotar um contexto
para financiar a transferência de tecnologias, provendo os países em
desenvolvimento de todos os recursos necessários para realizar uma transição
para baixas emissões de carbono", afirmou o cientista.
Entretanto,
Watkins alertou que mesmo as mais profundas reduções das emissões não impedirão
que as temperaturas do planeta aumente nas próximas três décadas. Enquanto as
nações ricas contam com capacidade para proteger seus cidadãos das
conseqüências, as populações do Sul são muito mais vulneráveis devido à falta de
recursos. "A janela de oportunidades para evitar a perigosa mudança climática
está fechando rapidamente. É uma questão séria que deve ser abordada com
urgência. É um problema mundial porque tem causas e efeitos mundiais, e exige
uma resposta global.
Cada país deve agir de acordo com sua
responsabilidade histórica e capacidades", disse o especialista, acrescentando
que China e Índia também deveriam realizar reduções mais drásticas. Os países em
desenvolvimento como China e Índia estão emergindo como grandes emissores, mas o
Protocolo de Kyoto – único instrumento mundial contra a mudança climática – não
estende resoluções obrigatórias a esses dois países. O Protocolo exige dos
países industrializados que reduzam suas emissões em 5% até 2012 com relação aos
níveis de 1990.
Enquanto o informe da ONU destaca que tanto a mitigação
quanto a adaptação têm de ser abordadas para um efetivo combate à mudança
climática e pela ameaça que significa para a humanidade, Watkins alertou que a
crescente exposição às secas, inundações, tempestades e incertezas climáticas
reforçaram a armadilha da pobreza, afetando 2,6 bilhões de pessoas, que são as
mais vulneráveis. "Líderes mundiais precisam conhecer as reais conseqüências da
mudança climática. Necessitamos urgentemente de uma mitigação severa. Se a ação
demorar, o custo humano será enorme", ressaltou.
O presidente do Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC), Rajendra
Pachauri – que dividiu o prêmio Nobel da Paz deste ano com o ex-vice-presidente
dos Estados Unidos, Al Gore – apoiou o informe do Pnud e destacou que as nações
ricas devem ajudar as mais pobres. Criado pela Organização Meteorológica Mundial
e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o IPCC tem o objetivo de
investigar o aquecimento do planeta e suas conseqüências, e se converteu em um
influente organismo nas discussões internacionais sobre este
assunto.
Pachauri disse que a mudança climática tem um enorme impacto na
saúde, na agricultura e no acesso à água potável, por isso as sociedades mais
pobres serão severamente afetadas. Cientistas do IPCC previram que as duras
condições climáticas serão mais comuns no próximo século, o que significará uma
particular ameaça para as nações pobres, que não possuem os recursos nem os
materiais para enfrentar catástrofes como inundações, tempestades e
secas.
De acordo com Pachauri, o custo do fenômeno para a economia
mundial em 2030 será inferior a 3% se a concentrações de gases causadores do
efeito estufa se estabilizar em um nível que limite o incremento médio das
temperaturas entre 2 e 2,4 graus. Além disso, afirmou que enquanto o nível domar
aumentou 17 centímetros durante o século XX, se prevê que para o final deste
século aumentará entre 18 e 59 centímetros. "Os países mais ricos deveriam fazer
maiores esforços para reduzir os gases que provocam o efeito estufa o mais
rápido possível. Precisamos de líderes que possam mudar o atual modelo de
desenvolvimento", disse Pachauri. (IPS/Envolverde)