Devo dizer ao dileto leitor que recentemente escrevi um trabalho relacionado ao evolucionismo mais conhecido como a teoria Big-Bang (a grande explosão) que teria ocorrido há mais de 10 bilhões de anos que marcou o início da expansão do universo quando surgiram muitos astros entre os quais a Terra. Muitas pessoas veem nosso planeta como um mundo muito grande com enormes espaços não ocupados que poderiam ser aproveitados infinitamente por milhões de anos e muitos bilhões de pessoas, entretanto chegam-nos notícias de uma equipe de cientistas afirmando que a população cresce tanto que tende a predar o planeta e indica a necessidade de mudança de hábitos da população. Como o assunto é importante decidi passar, ao nosso leitor, tais informações que foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo em outubro de 2016.
No dia 14 de fevereiro de 1990 a sonda espacial Voyager tirou uma foto do planeta Terra de uma distância recorde de 6 bilhões de Km, cerca de 40 vezes a distância entre o Sol e a Terra. Nessa foto, nosso planeta preenche um espaço mais ou menos igual a um grão de milho ou no dizer dos astrônomos “um pálido ponto azul” na imensidão do espaço. Um famoso divulgador de ciência o astrônomo Carl Sagan fala sobre essa foto: “Não há melhor demonstração da folia humana do que essa imagem. Ela deveria inspirar compaixão e bondade nas nossas relações, mais responsabilidades na preservação desse precioso ‘ponto azul’ nossa casa, a única”. Em relação as distâncias cósmicas nosso planeta é insignificante apenas mais um dentre trilhões, entretanto, nossa pequena esfera girando em torno do Sol é tudo o que temos. É necessário que todos saibam que a Terra é um planeta finito, com recursos limitados mas ignorando isso nos últimos 100 anos a população mundial cresceu de 2 para 7,5 bilhões de habitantes. O Fundo Populacional das Nações Unidas estima que a população chegará a 8 bilhões em 2025, e continuará a crescer, embora mais lentamente e atingirá 10 bilhões de pessoas valor, que especialistas apontam como o máximo sustentável.
É bom pensar que a Terra tem apenas cerca de 31 milhões de Km2 de terra arável embora se saiba que o planeta tem em torno de 150 milhões de Km2 de terra firme mas há de se descontar regiões montanhosas de grande altitude, desertos, áreas pantanosas e outras não irrigáveis ou utilizáveis para fins agrários. Pesquisas realizadas em 2013 indicavam que só 14 milhões de Km2 eram consideradas aráveis, ou seja apenas 10% do total. Considerando a taxa de produção agrária atual a quantidade de terra arável pode produzir em torno de 2 bilhões de toneladas de grãos por ano o que representa alimento suficiente para 10 bilhões de vegetarianos mas apenas 2,3 bilhões de carnívoros além da necessidade de alimentar o gado e aves, há de se levar em conta que o abastecimento de água continuará ocorrendo e não deverá haver secas prolongadas, ataques terroristas que possam comprometer a qualidade da água em grandes reservatórios, ou conflitos sociopolíticos por causa dos desvios de rios para irrigação.
Outro fato que assusta: O aumento da temperatura do planeta é um fator essencial pois impacta a área da superfície que é arável e também áreas costeiras que podem desaparecer com a subida do nível do mar deslocando em massa populações costeiras para o interior, provocando a um só tempo perda de mão de obra local e enormes pressões socioeconômicas nas regiões longe da costa. Considerando o avanço da tecnologia e os conflitos em várias áreas do globo, não se descarta a possibilidade de conflito termonuclear que teria consequência devastadora, tanto na mortalidade dos seres vivos como o comprometimento do solo pela radiação. Há algumas medidas que podem ser tomadas como, por exemplo, iniciativas pedagógicas devem ser instituídas de modo a educar número cada vez maior de pessoas sobre os perigos do crescimento populacional desmedido. Há menos que cientistas consigam mudar radicalmente os níveis de produção agrícola e possam produzir alimentos geneticamente modificados o que pouca gente acredita. Mas há algumas medidas que podem ser tomadas para atenuar a grande pressão de uma população cada vez maior e com maiores demandas sobre o ecossistema global. Entre tais populações surge a criança que precisa ser educada sobre o planeta em que vive e toda empresa precisa agir de acordo com parâmetros que reflitam a realidade global em que vivemos. Nesse conjunto de ações deve incluir acesso fácil e pouco oneroso a contraceptivos sobrepujando barreiras culturais e religiosas. Deveríamos considerar essa nova atitude como uma extensão direta da regra ética: Trate todas as formas de vida como quer ser tratado; trate o planeta como quer que sua casa seja tratada, lembrando que a Terra existe na imensidão do espaço e continuará existindo por bilhões de anos. Mas nós não podemos existir sem ela. Quero dizer ao dileto leitor que este texto tem como base o excelente trabalho do cientista e colaborador da Folha de S. Paulo, Marcelo Gleiser a quem sinceramente agradeço e ao mesmo tempo aproveito para divulgar mais este importante tema de acordo com as preocupações do autor que é professor titular em Física, Astronomia e Filosofia natural no Dartmouth College nos Estados Unidos.
Marcos Alegre, professor emérito da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) /UNESP e ex-diretor dessa mesma instituição. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
- Marcos Alegre