Foto: Wikimedia Commons
No dia 11 de março de 2011, um enorme terremoto seguido de tsunami ocorrido no leste do Japão teve como consequência um dos mais graves acidentes nucleares da história na usina de Fukushima Daiichi I.
A catástrofe foi responsável por mais de 15,9 mil mortes e 2,6 mil desaparecimentos, além de danos de infraestrutura que excederam US$ 200 bilhões. Três dos seis reatores da usina foram danificados, liberando materiais radioativos e levando à evacuação de cerca de 100 mil famílias, muitas das quais continuam fora de seus lares até hoje.
Para alertar para a gravidade desse tipo de acidente e tentar evitar que aconteça novamente, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS) publicou na última terça-feira (22) um relatório sobre os erros ocorridos na usina de Fukushima, que permitiram que a catástrofe tomasse essas proporções, e as lições que devem ser aprendidas com esses erros.
O documento, intitulado ‘Lessons Learned From the Fukushima Nuclear Accident for Improving Safety of US Nuclear Plants’ (‘Lições Aprendidas a partir do Acidente Nuclear de Fukushima para Melhorar a Segurança das Usinas Nucleares dos EUA’), como o próprio nome já diz, foca-se na segurança das usinas norte-americanas, mas faz apontamentos que podem servir para o protocolo de segurança de qualquer central nuclear.
O relatório explica que o terremoto derrubou a energia da rede elétrica, e o tsunami inundou os geradores de emergência da usina. A inundação de equipamentos essenciais resultou na perda prolongada de energia e das funções de monitoramento, controle e resfriamento dos reatores. Três deles – unidades 1, 2 e 3 – tiveram prejuízos severos, e as edificações de outros três – das unidades 1, 3 e 4 – foram danificadas por explosões.
A liberação de materiais radioativos contaminou terras em Fukushima, e muitas cidades vizinhas à usina realizaram evacuações generalizadas. Os problemas causados, entre as perdas humanas e econômicas, foram tantos, que culminaram com o fechamento de todas as centrais de energia nuclear do país.
Muitos fatores relacionados à gestão, projeto e operação da usina fizeram com que houvesse dificuldades em ter mais êxito no controle da catástrofe, e contribuíram para a severidade do desastre.
Um dos pontos observados pelos autores é a falta de treinamento de alguns dos empregados da Tokyo Electric Power Company (Tepco). Outro é a falha em não ter implementado medidas para proteger os equipamentos vitais de segurança em caso de um evento de inundações na usina nuclear, algo que deveria ter sido previsto, já que a central foi construída às margens do oceano visando utilizar a água do mar para fazer o resfriamento dos reatores.
Segundo o documento, a culpa não é apenas da empresa que geria a usina, a Tepco, mas também da Agência de Segurança Nuclear e Industrial do Japão, órgão que regula as centrais nucleares japonesas, que não supervisionou apropriadamente as falhas encontradas na usina de Fukushima Daiichi.
Por isso, é recomendada uma atenção particular à melhoria da disponibilidade, confiabilidade e diversidade de sistemas de segurança de usinas nucleares, através dos seguintes pontos: ferramentas para estimar o estado da usina em tempo real durante a perda de energia; remoção do calor, despressurização e sistema de ventilação do reator e protocolos; instrumentação para monitoramento de parâmetros termodinâmicos, como temperatura e pressão, nos reatores e contêineres; instrumentação para monitoramento de segurança da radiação; comunicação e sistema de informação em tempo real, etc.
Representantes do setor nuclear nos Estados Unidos afirmam que o país já está tomando as medidas necessárias para a segurança das usinas.. “A indústria de energia nuclear dos EUA começou a agir depois de alguns dias do acidente de Fukushima Daiichi para garantir que os reatores dos EUA respondessem a eventos que podem desafiar as operações de segurança das instalações”, comentou Anthony Pietrangelo, vice-presidente e diretor do escritório nuclear do Instituto de Energia Nuclear.
Mesmo assim, afirmam que o setor está revendo o impacto de terremotos e enchentes e tomando medidas para manter as usinas a salvo. “Somos uma indústria em contínua aprendizagem, e os últimos três anos confirmaram isso. Simplesmente não podemos deixar tal acidente acontecer aqui”, concluiu Pietrangelo.
Foto: Kamanaka, Centro de Pesquisas com Primatas da Universidade de Quioto
Outros efeitos
Infelizmente, além dos impactos danosos aos seres humanos, o acidente de Fukushima também pode ter apresentado consequências para os animais.. De acordo com artigo publicado na revista Nature, pesquisadores encontraram anomalias no sangue de macacos que vivem perto do local onde ocorreu o acidente nuclear de Fukushima.
O estudo indica que os macacos apresentam uma presença menor de glóbulos brancos e vermelhos, o que pode causar maior vulnerabilidade nos primatas. “O resultado é consistente com o que nosso grupo descobriu no conteúdo de glóbulos vermelhos e hemoglobina das crianças que vivem em Chernobyl”, disse Tim Mousseau, biólogo da Universidade da Carolina do Sul, que não estava envolvido no estudo.
Contudo, os cientistas envolvidos na pesquisa afirmaram que mais testes precisam ser feitos para confirmar que essas anomalias são mesmo causadas pela presença da radiação nuclear na região.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)