As  altas temperaturas fazem com que o Oceano Ártico, que costumava estar congelado  na maior parte do ano, agora seja um canal de navegação aberto mais da metade  do tempo. Foto: Domínio público
  Os “problemas” globais a economia e as guerras, provavelmente serão como  um piquenique numa tarde de verão frente ao derretimento do Ártico
  Os maiores assuntos globais hoje incluem a recuperação das economias da  crise financeira de 2008 e das guerras regionais por controle territorial, como  no Iraque. De qualquer maneira, primeiramente e mais importante, os líderes do  mundo deveriam na verdade estar focados como laser nos riscos inerentes vindos  do derretimento completo do Ártico, que hoje é o canário na mina de carvão para  o planeta inteiro.
  As lutas territoriais no Oriente Médio e na Ucrânia, quando comparadas com a  situação do Ártico, é o equivalente de crianças brincando com bonecos de  borracha. De fato, mais um passo à frente e consequência final de um Ártico sem  gelo faria Hiroshima parecer como um piquenique em uma tarde de verão.
  Já é bastante óbvio que nenhuma grande nação está se antecipando para a  crise no Ártico, pois caso contrário, elas estariam correndo o mais rapidamente  e humanamente possível para trocar seus combustíveis fósseis para fontes de  energias renováveis.
 Cuidado: gelo fino à frente
  Da maneira como as coisas estão, as condições do gelo marítimo no Ártico  estão perigosamente próximas do abismo. Essa é a situação: a extensão do gelo  no início do mês de julho por mais próxima que esteja de um recorde baixo para  essa época do ano, a principal preocupação é a velocidade com que esse declínio  está acontecendo. Continuando nessa corrente, o derretimento tenderá a ficar  cada vez mais veloz.
  Como publicado na última sexta-feira (4), em Arctic News: “A atual corrente  no declínio da extensão do gelo marítimo está muito mais inclinado do que o  comum para essa época do ano, além disso, o total colapso do gelo ártico pode  ocorrer se tempestades continuarem a acontecer – forçando mais gelo ártico a  cair no Oceano Atlântico.
 Compreendendo a crise de um Ártico sem gelo
  As ramificações terríveis e destrutivas de um colapso total do Ártico não  são completamente compreendidas por 99,99% das pessoas no planeta.
  Todavia, os detalhes sobre as prováveis consequências de um Ártico sem gelo  já estão disponíveis. Como no brilhante vídeo  tutorial, tudo o que uma pessoa precisa saber sobre o derretimento do  Ártico em 40 minutos.
  Para aqueles que têm déficit de atenção e não conseguem assistir, o resumo  seria esse: o planeta pode virar um inferno, e isso em décadas e não séculos.  Baseando-se em observações diretas e não de modelos científicos, o volume do  gelo marítimo já está em colapso, por exemplo: o volume durante a década de  1990 era cerca de 15 mil km³, em 2006 era de 10 mil e em 2012, apenas 3 mil –  além disso, a mudança no padrão da perda da massa de gelo está acelerando: a  perda era estável ao longo da década de 1980, nos anos 1990 foi para 4,5 mil  km³, durante os anos 2000 foi para 9 mil e em 2013 era de 13 mil.
  Então sim, parece que se passou do ponto em que a “atividade humana jogando  muito CO2 na atmosfera”, já nem seja mais aplicável para a perda de massa de  gelo, pois aparentemente a situação já está próxima de se autoreplicar.
  Seguindo a fileira de dominós, uma vez que o Ártico esteja livre de gelo no  verão de setembro, toda a energia solar que anteriormente derreteu esse gelo  está agora disponível para aquecer os mares e o pergelissolo. Assim sendo,  quando o inverno voltar a congelar as águas, o gelo estará mais fino e, no ano  seguinte, o derretimento será mais rápido e assim, se autoperpetuando e  derrubando os dominós, nós teremos:
  - a liberação de metano (CH4) congelado por milênios nos blocos de gelo e  que é o gás mais efetivo para a aceleração do aquecimento global
  - acelerando um eventual colapso do gelo da Groenlândia, causando um aumento  em potencial de 21 pés no nível da água do mar,
  - distorcendo as correntes do Golfo
  - distorcendo as correntes de ar acima de 30 mil pés de altitude, criando  temperaturas anômalas por todo o hemisfério norte.
  Essas consequencias são horrendas, impensáveis e aterrorizantes e, como tudo  parece sugerir, o derretimento do gelo é, de fato, exponencial, o que torna os  “modelos” usados pelo Painel Intergovernamental da Mudança Climática (IPCC,  sigla em inglês), que luta para evitar um Ártico sem gelo no futuro,  irrelevantes e inúteis.
 Usando biquinis no Pólo Norte
  Um dos grandes problemas do planeta é muito calor em todos os lugares  errados.
  Na Groelândia, “Segundo o instituto nacional climático, a maior temperatura  já registrada para o mês de junho, foi atingida no dia 15, de 23,2 °C.
  Em 2 de julho, a temperatura na gélida região de Labrador, no Canadá, chegou  a 30°C. O aquecimento do Ártico está alterando as correntes de ar e mudando  drasticamente os padrões climáticos do Norte.
  “Ao passo que o Ártico está esquentando mais rápido que o Equador, a  diferença nas quedas de temperaturas entre os dois reduz a velocidade na qual o  ar quente se move do Equador para o Pólo Norte. Isso, por consequência, diminui  a velocidade na qual as correntes de ar circunavegam o globo no hemisfério  norte, deformando assim as correntes de ar”, lia-se na matéria “O que está de  errado com o clima”, do Arcitc News.
 Política: a cúmplice da negação do aquecimento global
  A evidência tangivel da mudança climática radical, especialmente no Ártico,  torna muito difícil de aceitar, sem dar risada, da geralmente repetida  afirmação de que os EUA são os “líderes do mundo livre”.
  Afinal, nas últimas duas décadas, os EUA tem sido um destemido obstáculo  para o mundo livre conseguir solucionar a controversa mudança  climática/aquecimento global. Quando foi a última vez que o Congresso  norte-americano fez qualquer coisa construtiva sobre a crise climática?
  Ah…
  O cenário politico norte-americano está recheado de declarações ingênuas e  mentirosas sobre a mudança climática que vão além da falha, banal e simplistas  referências ao aquecimento global como uma farsa; ou questionar a ética dos  cientistas ou dizer que isso é uma conspiração de Hollywood com Al Gore.
  Essas são respostas de criança para um assunto de adultos, e algumas das  declarações mais infantis vêm, invariavelmente, de candidatos presidenciais.
 E se o Ártico ficar sem gelo até 2020, ou mesmo antes?
  De acordo com o maior especialista mundial sobre gelo polar, Peter Wadhams,  professor de Físicas do Oceano Polar na Universidade de Cambridge – que  conduziu pessoalmente 40 expedições polares, incluindo 10 missões em submarinos  nucleares debaixo do gelo para medir precisamente a espessura do gelo: uma vez  que o gelo vai ficando cada vez mais fino, ele irá desaparecer…para sempre.
  As consequências resultantes são terríveis ao passo que o aquecimento se  autoamplifica e o planeta passa do ponto de ebulição – sendo essa apenas uma  das várias consequências já mencionadas.
  Por mais dificil que seja acreditar que tudo isso possa de fato acontecer e,  francamente, é muito difícil de visualizar a realidade disso além de uma  possibilidade, é a ainda mais exasperante saber que a liderança dos EUA  permanece ociosa, enquanto o gelo vai embora cada vez mais rápido.
  Afinal de contas, há opções construtivas e técnicas, algumas experimentais –  outras como conversões para fontes de energia renovável, que podem mitigar a  situação, até mesmo prevenir o colapso, mas quem é que sabe?
  De agora em diante, no final do dia, ninguém sabe ao certo quando, ou se já  é, tarde demais.
  Mas, baseando na atua taxa de perda de gelo, que esteve ali desde o tempo em  que mundo era mundo, algo desastroso está destinado a acontecer.
 * Tradução: Vinicius Gomes.
  ** Publicado originalmente pelo Counterpunch e retirado do site Revista Fórum.

 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  





























