Tufão Haiyan, que atingiu as Filipinas em novembro, deixou cerca de 7,5 mil pessoas mortas ou desaparecidas e quatro milhões de desabrigados, e causou perdas seguradas de US$ 1,5 bilhão. Foto: Oxfam
Seguradora Swiss RE revela que as catástrofes naturais ou causadas pelo homem resultaram em 26 mil mortes; mudanças climáticas devem agravar quadro
No último ano, o mundo enfrentou 308 desastres, dos quais 150 foram catástrofes naturais e 158 decorridas de atividades humanas. Os números são um pouco menores do que os de 2012, quando ocorreram 318 desastres, mas ainda assim assustam. E segundo a seguradora suíça Swiss RE, que divulgou os dados, as mudanças climáticas devem fazer com que esses índices cresçam cada vez mais, tanto por causar mais catástrofes naturais quanto por aumentar o risco dos desastres humanos.
O relatório da seguradora aponta que as perdas econômicas decorridas de catástrofes naturais ou causadas pelo homem chegaram a US$ 140 bilhões em prejuízos em 2013, abaixo dos US$ 196 bilhões em 2012.
Dos US$ 140 bilhões, a maior parte – US$ 131 bilhões – está relacionada a desastres naturais, enquanto as catástrofes causadas pelo homem foram estimadas em US$ 9 bilhões. Do total das perdas, cerca de um terço, US$ 45 bilhões, estava segurado. Contudo, o número de mortes saltou de 12 mil em 2012 para 26 mil em 2013.
E de acordo com o estudo, o aumento das temperaturas levará a extremos climáticos mais severos nos próximos anos, fazendo com que a falta de ação para reduzir as emissões de gases do efeito estufa contribua com ainda mais perdas.
“Do total, as catástrofes naturais geraram US$ 37 bilhões em perdas [seguradas], e os desastres causados pelo homem, outros US$ 8 bilhões. As maiores perdas vieram de enchentes em grande escala na Europa e no Canadá, de vários eventos de vendaval na Europa e eventos de tempestade e tornado nos EUA”, indica o relatório.
No caso da Europa, os dois eventos de desastres naturais de 2013 mais caros foram as enchentes que ocorreram em maio e junho, causando danos na Alemanha, República Tcheca, Hungria e Polônia. As perdas econômicas foram de US$ 16 bilhões, dos quais US$ 4,1 bilhões estavam segurados.
No final de junho, partes da Alemanha e da França vivenciaram tempestades severas, e os prejuízos segurados ficaram em torno de US$ 3,8 bilhões, fazendo dessa a maior perda já ocorrida em um evento de granizo.
Na América do Norte, os gastos com as grandes enchentes ocorridas em Alberta, no Canadá, foram de US$ 4,7 bilhões, dos quais US$ 1,9 bilhão estava segurado. Nos Estados Unidos, tempestades e tornados no início de maio causaram perdas seguradas de US$ 1,8 bilhão, e no final do mesmo mês levaram prejuízos de US$ 1,4 bilhão. Uma tempestade de inverno trouxe gelo, tornados e chuvas pesadas em abril e resultou em perdas seguradas de US$ 1,2 bilhão.
Entretanto, ao menos esses países desenvolvidos, além de apresentarem mais medidas de adaptação, têm uma porcentagem maior de bens segurados, o que significa, no final, é mais fácil de recuperar os gastos.
“Por exemplo, os prejuízos com enchentes no centro e oeste da Europa no último ano teriam sido muito piores se as medidas de proteção para estes eventos não tivessem sido fortalecidas depois que a mesma região sofreu com enchentes severas em 2002”, sugere a pesquisa.
Já em países emergentes e mais pobres, além da falta de medidas de adaptação, o índice de seguros é muito menor, então os impactos acabam causando prejuízos muito maiores em longo prazo. Entre esses países, os que foram mais prejudicados foram os da Ásia.
O Tufão Haiyan, que atingiu as Filipinas em novembro, deixou cerca de 7,5 mil pessoas mortas ou desaparecidas e quatro milhões de desabrigados, e causou perdas seguradas de US$ 1,5 bilhão, pouco mais de 10% dos prejuízos totais, avaliados em US$ 12,5 bilhões.
Em outubro, o ciclone Phailin destruiu mais de 100 mil casas no estado indiano de Orissa, acabando com mais de 1,3 milhão de hectares de colheitas e deixando perdas de US$ 4,5 bilhões, a maioria sem seguro.
Felizmente, neste último caso, o plano de evacuação evitou uma tragédia ainda maior: 984 mil pessoas de 18 mil vilarejos foram removidas da zona de desastre, o que significa que o número de mortos foi relativamente pequeno.
Por tudo isso, o relatório ressalta a importância que as companhias de seguros podem ter na busca pelo desenvolvimento de cidades e comunidades mais resilientes. “A urbanização, o agrupamento de propriedades, a atividade comercial e a migração para áreas de alto risco como a costa e planícies de inundação precisam ser monitorados de perto”, diz o estudo.
No entanto, caso essas medidas não sejam tomadas, o que se verá é o contrário: um aumento no número de desastres e também de prejuízos econômicos e perdas de vidas relacionadas a eles, uma tendência que já se observa atualmente.
“De acordo com a Avaliação Stern sobre a Economia das Mudanças Climáticas, se não for controlado, o custo das mudanças climáticas pode aumentar para cerca de 20% do PIB global até o final deste século”, informa o documento.
“A lacuna de proteção, ou seja, a diferença entre as perdas totais e as perdas seguradas, aumentou progressivamente nos últimos 40 anos. Os desastres continuam a gerar cada vez mais perdas totais com o desenvolvimento econômico, o crescimento populacional e a urbanização”, continua.
“Lidar com as mudanças climáticas exige uma redução nas emissões de gases do efeito estufa, juntamente com uma abordagem integrada para a gestão do risco de desastres. Esse relatório descreve como medidas de adaptação custo-efetivas poderiam evitar até 68% dos riscos de mudanças climáticas”, conclui.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.
(CarbonoBrasil)