Os Estados Unidos está se tornando um país petro-imperial e petro-déspota, pois não leva em conta os interesses de sua população nem dos outros países.
Entrevista com Shubhankar Banerjee, fotógrafo, pesquisador, ativista e escritor – autor do livro “Arctic Voices: Resistance at the Tipping Point.”
Jaisal Noor em Baltimore para The Real News Network: Então Shubhankar, falamos sobre as enchentes no Colorado e sua relação com as mudanças climáticas. Você pode nos dizer qual é o papel da administração Obama se tratando das mudanças climáticas? Ele tem sido um presidente elogiado por vincular as mudanças climáticas com atividades humanas, mas como é sua relação com o movimento ambientalista? Suas políticas têm se destinado às raízes do problema?
Shubhankar Banerjee: Junho passado, o presidente Obama liberou seu plano para a questão climática. Alguns realmente acreditam que o presidente tenha um plano, porém o que a realidade mostra – e eu venho escrevendo sobre isso há anos – é que seu único plano se resume em seguir e implementar o processo de “drill” (uso contínuo de furadeiras, brocas no solo), introduzido em 2008 por Michael Steel, ex-presidente do Partido Republicano.
E, de fato, o que eu apontei é que os Estados Unidos está se tornando um país petro-imperial e petro-déspota. Digo petro-imperial pois a política externa americana de obtenção de petróleo feita no Oriente Médio, na Nigéria e em outros lugares, agora, está sendo aplicada aqui na América do Norte por Obama e Harper (primeiro-ministro do Canadá).
A parte petro-déspota se dá na negligência do governo em relação à população indígena e às comunidades rurais, que têm seus interesses ignorados. Há uma guerra contra esses grupos para impulsionar o processo de “drilling” no Oceano Ártico (uma questão que venho analisando há 13 anos). O governo violou a Lei de Política Ambiental Nacional e a Lei de Proteção aos Mamíferos Marinhos, ignorou as preocupações das comunidades indígenas e permitiu que a Shell começasse o processo de “drilling” exploratório (o tipo mais perigoso) no Oceano Ártico, ano passado.
Agora, veja o fracking, que é uma tragédia no Colorado: mais de 1.000 poços inundaram e em várias partes há petróleo transbordando para a superfície. E ainda ouvimos hoje que há até contaminação nuclear acontecendo naquele estado. Há fracking por todo o país. No Golfo do México, irá acontecer um processo de “drilling” extremo: a Shell anunciou que irá perfurar o solo até uma profundidade de 3000 metros. A Deepwater Horizon (plataforma de petróleo que afundou no Golfo do México em 2010) tinha aproximadamente uma profundidade de 1500 metros
Noor: Simpatizantes da presidência diriam que Obama encontra-se limitado pela realidade política, falta de apoio público e dos Republicanos que não apoiarão nenhuma iniciativa na questão climática. Qual sua resposta para aqueles que dizem que o presidente está fazendo o que pode?
Banerjee: Isso é mentira, porque você acabou de mencionar o público. De eleição em eleição, o povo mostra uma preocupação mais forte com as mudanças climáticas e cada vez mais apóiam as políticas públicas endereçadas as mesmas. A liderança Republicana tem sido terrível. Bush era o presidente do petróleo e Obama está seguindo seus passos. Mas o povo – mesmo os republicanos que Chris Williams, autor de “Ecology and Socialism”, apontou no artigo que publiquei no climate.org - acredita nas mudanças climáticas, entendendo e apoiando políticas públicas endereçadas as mesmas. São os políticos mancomunados com as corporações que estão causando essa destruição. Não tem nada a ver com o público. A maior parte da população americana, tanto republicanos como democratas, agora, apóiam e entendem as campanhas de mudança climática.
Tradução de Isabela Palhares