Belgrado, 21/09/2007 – Com a chegada do outono no hemisfério Norte, os países do Balcãs fazem as contas dos prejuízos causados por um dos verões mais quentes da história, com temperaturas muito elevadas desde junho até o início deste mês. A temporada causou uma seca sem precedentes na Bósnia-Herzegovina, Croácia e Sérvia, três países muito dependentes da agricultura. Uma conseqüência imediata da menor produção foi que os preços da farinha, do pão, da carne e do óleo de cozinha aumentaram mais de 50%.
"É
preciso tomar medidas para que não tenhamos de olhar para o céu e pedir a
benção", disse Ratko Marjanovic, de 62 anos, do povoado de Staro Mirijevo, nos
arredores de Belgrado. "Isto quem fazia era meu país, mas estamos no século XXI,
não?". Como muitos agricultores da localidade onde mora, que cultivam verduras
para vender na capital sérvia, Marjanovic pensa em comprar um sistema de
irrigação para sua plantação. "Vai me custar vários milhares de euros, mas é
nada em comparação com o que perdi com a seca", afirmou.
O Ministério da
Agricultura da Sérvia calcula as perdas em cerca de US$ 494 milhões. A produção
agrícola representa 20% das exportações do país. Os produtos mais procurados no
estrangeiro são milho, cereais e frutas, especialmente com polpa. "As
exportações agrícolas crescem 20% ao ano. É o setor mais saudável da economia
local", afirmou o ministro da Agricultura, Slobodan Milosavljevic. "Esperamos
que este ano as vendas ao exterior passem de US$ 1,5 bilhão". Mas, dificilmente
isso acontecerá com uma colheita 25% menor do que a habitual, como se espera
para esta safra, especialmente nos casos do milho, girassol, dos cereais e da
soja. Os agricultores argumentam que não receberam ajuda.
Na Sérvia,
como no Croácia, se fala de irrigação somente depois da ocorrência de grandes
secas, o que acontece uma vez em cada três ou cinco anos. "Somente 1,2 % dos 3,2
milhões de hectares de terras cultiváveis são irrigadas neste país", disse à IPS
Branislav Gulan, da Câmara de Comércio Sérvia. "Isso é 15 vezes menos do que a
média mundial", acrescentou. Gulan e outros membros da Câmara de Comércio
disseram que devem ser usados fundos do novo Plano Nacional de Investimentos e
US$ 47,8 milhões de um crédito do Banco Mundial em projetos de
irrigação.
As necessidades são as mesmas na Croácia, onde a perda de
colheitas por causa da seca é estimada em aproximadamente US$ 260 milhões. O
Ministério da Agricultura desse país informou que cerca de cem mil famílias
sofreram grandes perdas. A seca não afetou apenas os cultivos, mas matou gado e
prejudicou a pesca. Muitos agricultores fizeram empréstimos a curto prazo para
impulsionar a produção, que não prosperou. "Vamos morrer de fome junto com o
gado neste outono e inverno", disse à imprensa local Franjo Odobasic, agricultor
da cidade de Pozega. "O preço do milho duplicou nos últimos meses devido à
escassez e não temos como pagar", ressaltou.
A situação da
Bósnia-Herzegovina é particular. O país, dividido em duas entidades, a República
Srpska (República Sérvia da Bósnia) e a Federação da Bósnia-Herzegovina, de
maioria croato-muçulmana, nunca estimulou a produção agrícola. Para as duas
entidades foi mais fácil importar entre 350 mil e 450 mil toneladas de cereais e
milho para cobrir o consumo anual local do que investir em sua produção.
Estatísticas do Ministério da Agricultura Federal indicam que a produção
nacional atende apenas a 10% do consumo dos quatro milhões de habitantes de todo
o país. Devido à complexa estrutura administrativa, não foram criadas reservas
comuns e agora o país precisa importar com urgência. "Não há reservas para uma
intervenção no mercado a fim de evitar aumento de preços", disse o ministro da
Agricultura Federal, Damir Ljubic, que se negou a informar quando acontecerá a
compra urgente de alimentos.
Na cidade bósnia de Brcko, as poucas
reservas de cereais e farinha fizeram o preço do pau aumentar 50%. "A seca
afetou todo mundo, mas alguns se beneficiaram dela", afirmou a economista
Natalija Bogdanov, da Universidade da cidade sérvia de Novi Sad. "Isso se aplica
aos monopólios: aqueles que ainda tendem a controlar o mercado, compram por
preço baixo e vendem quando ocorre a alta. Ainda não saímos desse circulo,
apesar das tentativas de introduzir uma verdadeira economia de mercado",
escreveu Bogdanov no semanário Ekonomist.
(Envolverde/ IPS)