"Um encontro da indústria de carvão junto de um encontro para discutir o clima é como uma exposição sobre o cigarro num congresso de oncologistas"
Em parceria com o governo polonês, as grandes empresas de energia a carvão (em inglês chamadas de Big Coal) vão organizar seu encontro mundial ao lado do debate sobre mudanças climáticas da ONU em Varsóvia, um evento que grupos de ambientalistas dizem que ilustra a influência que essa indústria tem nas políticas que estão destruindo o planeta.
“Organizar um encontro da indústria de carvão ao lado de um encontro para discutir o clima é como fazer uma exposição sobre o cigarro ao lado de um congresso de oncologistas”, afirmou Jamie Henn, diretor de estratégia para o movimento internacional sobre o clima350.org.
A 19ª Convenção Sobre Mudanças Climáticas da ONU, que acontece de 11 a 22 de novembro, vai reunir representantes de cerca de 200 países, em uma tentativa de se chegar a um novo acordo. A ideia é substituir o Protocolo de Kyoto, que expirou ano passado e que os EUA ainda não ratificaram.
Ativistas da questão climática dizem que esse encontro já estava marcado pela influência da indústria, assim como por desigualdades globais, que permitem que superpotências mundiais como os EUA possam continuar emitindo carbono impunemente. O encontro das indústrias de carvão enfureceu ambientalistas, que começaram a se referir ao encontro da ONU como um Conselho dos Partidos do Carvão.
Chamado de encontro internacional do carvão e do clima, o evento da indústria vai acontecer nos dias 18 e 19 de novembro, os últimos dias dos debates sobre o clima da ONU, e será organizado pela Associação Mundial do Carvão. Está sendo alardeado como “o evento mais importante da indústria do carvão no ano”.
Em um país em que o carvão é responsável por 80% da energia produzida, o governo polonês afirmou que a indústria do carvão merece um assento à mesa.
“Está sendo visto como uma provocação por parte do governo polonês, e uma demonstração clara de que eles não pretendem substituir o carvão”, disse Wendel Trio, diretor da organização Climate Action Network na Europa, em entrevista para o The Guardian.
“O Hayan [a supertempestade que atingiu as Filipinas] deveria ser mais um chamado à realidade para os países ricos, para que eles finalmente se comprometam de maneira séria”, disse Henn. “Ao invés disso, eles continuam empurrando com a barriga e dormindo abraçados com a indústria carvoeira”.
Tradução de Rodrigo Mendes.
Créditos da foto: A maior usina movida a carvão da Europa fica em Belchatow, na Polônia (Maciek Nabrdalik para o The New York Times)