Buenos Aires, 18/09/2007 – Muitas reservas naturais da América Latina se debatem entre a degradação e o isolamento.
Para definir formulas de superação do problema e valorizar a contribuição desse patrimônio à luta contra a pobreza a Argentina será sede, no final deste mês, de um congresso internacional de ampla participação. "Nossa maior expectativa é ampliar a participação de todos os envolvidos. Não apenas acadêmicos, conservacionistas ou administradores de parques. Queremos ouvir os indígenas, os pescadores, as comunidades locais, o setor do turismo", disse à IPS o coordenador do II Congresso Latino-americano de Parques Nacionais e Outras Áreas Protegidas, Victor Inchausteguy.
"Temos de criar um espaço plural
de intercâmbio de idéias e acordar princípios de conservação. É necessário
transcender ao grupo dos tradicionalmente comprometidos com estes temas",
insistiu Inchausteguy, membro do escritório regional da América do Sul da União
Mundial para a Natureza (UICN-Sul). O encontro acontecerá entre o próximo dia 30
e 6 de outubro em San Carlos de Bariloche, 1.500 quilômetros a sudoeste de
Buenos Aires, na província de Rio Negro. Do encontro participarão cerca de duas
mil pessoas de 20 países da América Latina, Europa, Canadá e Estados
Unidos.
Dados da Rede Latino-americana de Cooperação Técnica em Parques
Nacionais, Outras Áreas Protegidas, Flora e Fauna Silvestre (Redeparques),
mostram que sua superfície na região duplicou entre 1992 e 2002. A América
Latina, com uma extensão total de quase 21 milhões de quilômetros quadrados,
conta com mais de 2,1 milhões de quilômetros declarados áreas protegidas. Também
aumentaram as reservas co-administradas por governos e comunidades. Os
especialistas afirmam que é cada vez mais evidente o vínculo estreito entre as
reservas e sue entorno.
A partir de um informe regional que será
apresentado na abertura do congresso, os participantes discutirão sobre pobreza,
impacto da mudança climática e estratégias para combatê-la, e a criação de uma
rede de áreas marinhas protegidas para sustentar a pesca. Também serão
examinadas as contribuições do conhecimento de comunidades indígenas na
conservação destas áreas e o impacto dos projetos de infra-estrutura em
ecossistemas críticos. Além disso, serão debatidos mecanismos novos de
financiamento para as áreas e será feita uma avaliação da efetividade no
manejo.
"É muito importante que o conceito de conservação esteja incluído
nas políticas de desenvolvimento e integração de nossos países, porque, se ficar
de fora, as áreas protegidas podem acabar se transformando em ilhas", alertou
Inchausteguy em conversa telefônica com a IPS desde Quito, onde fica a sede da
UICN-Sul. A proteção da biodiversidade – acrescentou o especialista – é uma
questão que deve estar na agenda quando se discute investimentos ou quando se
planeja e se destina recursos. Nesse sentido, destacou que os governos locais
são os que têm mais consciência sobre este aspecto. Mas, há muito por fazer,
ressaltou Inchausteguy.
A idéia desta reunião surgiu pela primeira vez
durante o IV Congresso Mundial de Parques Nacionais realizado em Caracas em
1992. Nessa oportunidade se decidiu realizar um congresso latino-americano na
metade do período entre as reuniões mundiais que acontecem a cada 10 anos. O
primeiro encontro regional foi em Santa Marta, na Colômbia, em 1997. Suas
conclusões foram uma grande contribuição para o V Congresso Mundial de 2003 em
Durban, na África do Sul, e agora o escritório para a América do Sul da UICN deu
sua colaboração para esta segunda reunião regional.
Também estão
convocados, em ter outros, a Administração de Parques Nacionais da Argentina, o
Escritório Regional para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e a Redeparques, que opera na órbita da Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. O objetivo é avaliar,
valorizar e projetar a contribuição das áreas protegidas da região para a
conservação da biodiversidade. Mas, também se busca analisar quais serviços são
prestados por estas áreas, o uso sustentável em seu interior e no entorno e as
estratégias de alivio da pobreza dentro delas.
O lema do encontro é
"Conservação, Integração e Bem-estar para os Povos da América Latina". Em
conferencias, simpósios e painéis de debate e intercâmbio de experiências serão
debatidos quatro temas: conservação da biodiversidade, os avanços e desafios no
conhecimento sobre manejo de áreas, fortalecimento de capacidades e
governabilidade, igualdade e qualidade de vida. Os participantes do congresso
divulgarão uma declaração política ao término do encontro e redigirão as
recomendações da América Latina para a próxima reunião mundial.
"De Santa
Marta a Bariloche, melhorou muito a participação social, mas as áreas protegidas
são parte de um contexto", explicou Inchausteguy. Ele se referia aos projetos de
infra-estrutura viária, represas, gasodutos e expansão da monocultura, que podem
contribuir para degradar as reservas ou isolá-las completamente. Também a
mineração, o uso da madeira, a pesca e o turismo podem ser uma ameaça para as
áreas protegidas. Por isso Inchausteguy considera fundamental a participação no
congresso do setor privado, das comunidades e dos governos, para que todos
estejam envolvidos em projetos de desenvolvimento sustentável.
(Envolverde/
IPS)