O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) declarou o elefante da bacia do rio Congo espécie ameaçada. Foto: Richard Ruggiero/USFWS/CC By 2.0
Goma, República Democrática do Congo, 30/7/2011 – Um popular mercado de arte nesta cidade da República Democrática do Congo (RDC) oferece pinturas e esculturas de bronze, cobre, malaquita ou madeira que atraem muitos turistas. Contudo, apenas quem é do lugar sabe que também é comercializado artesanato de marfim ilegal. “Apesar de ser ilegal, o marfim atrai os amantes da arte, especialmente estrangeiros que contratam intermediários”, contou um artesão que preferiu não se identificar.
Vigora uma proibição quase geral para a venda de marfim desde 1989, mas o tráfico de dentes de elefantes da bacia do rio Congo continua nas grandes cidades deste país. O major John Bonyoma, juiz de um tribunal militar de Goma, disse à IPS que os caçadores ilegais costumam ser soldados e comandantes das forças armadas da RDC (FARDC).
Em 2010, a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres acusou o exército congolense de ser “responsável por 75% da caça ilegal em nove dos 11 lugares” onde este país tem elefantes. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) declarou a população de elefantes da bacia do Congo espécie ameaçada.
O Instituto Congolense de Conservação da Natureza (ICCN) estima que foram mortos mil elefantes neste país entre 2010 e 2013. A organização também acredita que os chefes locais são cúmplices da caça furtiva. Segundo o ICCN, 70% da selva da bacia do Congo está em território da RDC. Um estudo do WWF divulgado em maio mostra que há sete mil elefantes neste país, bem abaixo dos cem mil de 20 anos atrás.
“A demanda por esculturas e curiosidades de marfim no mercado asiático alimenta a caça ilegal de elefantes”, disse à IPS Emmanuel de Mérode, diretor do ICCN na província de Kivu do Norte. Um quilo de marfim custa mais de US$ 1,9 mil no mercado negro. A caça ilegal se tornou uma “rede de crime organizado que usa armas de guerra”, advertiu. Mérode se referia a um incidente de março de 2010 no Parque Nacional Garamba, quando soldados ugandenses que, aparentemente, pilotavam um helicóptero de combate, dispararam contra 22 elefantes.
A RDC tem nove parques nacionais e cerca de 60 reservas e áreas de caça a cargo do ICCN. Essas zonas representam 10,47% do território desse país, isto é, 250 mil quilômetros quadrados, e inclui cinco áreas protegidas que constam da lista de Patrimônio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No entanto, o ICCN nada pode fazer para deter os caçadores ilegais, fortemente armados, que costumam cruzar a fronteira oriental com tecnologia de GPS (sistema de posicionamento global) e telefones via satélite.
A legislação congolesa também estabelece obstáculos para responsabilizar quem caça elefantes, pois permite a deportação de estrangeiros envolvidos nessa atividade ilegal. “A deportação prejudica a luta contra a caça ilegal. A lei deveria ser aplicada para proteger escrupulosamente os animais e deter os estrangeiros”, argumentou Bonyoma. O ambientalista Justin Mufuko disse à IPS que os elefantes da selva têm um papel vital na preservação da biodiversidade. Dispersam grãos, raízes e frutas de árvores tropicais por intermédio do esterco, que também aduba a terra.
O programa de incentivo do ICCN, iniciado em 2010 para proteger os parques da RDC, é a única solução contra a caça de elefantes. O Instituto incentiva as populações locais a denunciar os caçadores e oferece em troca assistência econômica às organizações comunitárias com projetos econômicos viáveis. “Ao dar fundos para a agricultura de pequena escala e para projetos comunitários com animais, o ICCN desestimula os camponeses a serem cúmplices dos caçadores e acabem se envolvendo em atividades ilegais”, pontuou Mufuko.
A quantia total depende do custo do projeto, mas a maioria é relativamente pequena. “Esta campanha de conscientização ajuda a reduzir a matança desenfreada de elefantes na RDC”, ressaltou Mufuko. Os problemas que este país tem também afetam outros da bacia do Congo, como Camarões, Congo-Brazzaville, Gabão, Guiné Equatorial e República Centro-Africana, apontou Mérode. “O elefante é um patrimônio mundial em perigo de extinção”, ressaltou. O WWF alertou que, se nada for feito para deter o processo, nos próximos anos não haverá mais elefantes na África central. Envolverde/IPS