Nações Unidas, 10/09/2007 – A Organização das Nações Unidas convocou uma reunião de cúpula extraordinária para debater a mudança climática, em meio a uma crescente preocupação mundial pelo ritmo lento das negociações internacionais sobre essa questão. Considerando que a mudança climática tem enormes implicações para a economia mundial e o desenvolvimento internacional, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convidou todos os chefes de Estado a examinarem o assunto em Nova Yorque. A reunião, que, provavelmente, terá a participação de mais de cem representantes de alto nível, entre eles presidentes e primeiros-ministros, acontecerá um dia antes da abertura da sessão anual da Assembléia Geral, no próximo dia 25.
"Não é apenas um problema
ambiental. A mudança climática também é um problema de desenvolvimento e um
problema político", disse à imprensa Richard Kinley, subsecretário-executivo da
Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Kinley explicou que,
ao convocar a reunião, Ban demonstra "preocupação" com a possibilidade de a
próxima conferência das partes da Convenção, marcada para dezembro, na ilha de
Bali (Indonésia) "não tenha resultados positivos", porque as negociações não
avançaram "com a rapidez necessária".
O objetivo da reunião em Nova
Yorque é incentivar a conferência em Bali a atingir um acordo sobre reduções nas
emissões de gases causadores do efeito estufa para depois de 2012, ano em que
expira o Protocolo de Kyoto. Este documento da Convenção Marco, assinado em 1997
e em vigor desde 2005, determina aos países industrializados signatários reduzir
suas emissões desses gases em 5%, em média, até 2012, com relação aos valores de
1990. Entre 27 e 31 de agosto foi realizada em Viena uma nova rodada de
conversações entre representantes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre
Mudança Climática, que não chegou a um acordo concreto.
A maioria das
nações industrializadas rejeita o estabelecimento de pautas rígidas para 2020 em
matéria de redução das emissões. Um texto que circulou na reunião de Viena
exortava as nações industrializadas a se "guiarem" pela necessidade de reduzir
as emissões entre 25% e 40% abaixo dos níveis de 1990, em um esforço de longo
prazo contra o aquecimento do planeta. Muitos países em desenvolvimento, como
China e Índia, querem que as nações industrializadas usem o ambicioso espectro
de 35% a 40% para orientar as futuras negociações que levem a uma dependência
menor dos combustíveis fósseis, responsabilizados pelo aquecimento
global.
Consultado sobre o fracasso de Viena, Kinley disse sentir-se
"animado com o resultado da reunião", acrescentando que parecia "haver um acordo
geral sobre os componentes que algum futuro processo climático conteria. O fato
de se olhar um espectro de redução entre 25% e 40% é animador. Foi uma corrente
de ar fresco", disse o subsecretário. Entretanto, os ambientalistas que
acompanharam as conversações de Viena têm um ponto de vista muito diferente.
Para eles, o contínuo fracasso na hora de alcançar um acordo é desastroso para o
futuro da humanidade.
"O espectro de 25% a 40% é necessário para ajudar a
evitar a perigosa mudança climática, o aumento dos níveis domar, o derretimento
de geleiras e termpestades devastadoras", disse Stephanie Tunmore, da
organização Greenpeace Internacional. Em junho, um informe do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) considerou provável que o futuro de
"centenas de milhões de pessoas" seja afetado pela graduaç redução das camadas
de neve e gelo.
De acordo como estudo "Global Outlooik for Ice and Snow"
(Perspectiva Global para Gelo e Neve), o derretimento de geleiras e corpos de
água gelada em todo o mundo faz com que a terra e os oceanos polares absorvam
mais calor solar, o que, por sua vez, acelera a mudança climática. Este ano. O
Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC), rede
vinculada à ONU e com mais de mil cientistas, divulgou três volumosos informes.
Neles adverte sobre o aumento do nível do mar e as inundações devastadoras, uma
generalizada escassez de alimentos e a extinção de muitas espécies de animais e
plantas, se não se agir de maneira drástica.
Ban Ki-moon, que disse
reiteradamente que a mudança climática é uma de suas prioridades, também
convidou representantes da sociedade civil internacional e empresas privadas a
participarem da conferência de um dia em Nova Yorque. Segundo funcionários da
ONU, mais de dois mil representantes de organizações não-governamentais de mais
de 80 países participaram na semana passada, na sede das Nações Unidas, do
encontro "Mudança climática: Como afeta a todos nós".
Enquanto isso, os
Estados Unidos, que retiraram sua assinatura do Protocolo de Kyoto, convocaram
representantes de 126 importantes economias do mundo para uma conferência à
parte sobre mudança climática que acontecerá nos próximos dias 27 e 28 em
Washington. Sobre os vínculos entre a conferência da ONU e a realizada pelo
governo norte-americano, Kinley disse que ambas "seguem na mesma direção, para
uma reconhecida necessidade de um acordo mais exaustivo sobre mudança climática
em 2009 e 2010".
Para Kinley, as duas reuniões "são complementares",
apoiando-se mutuamente nos esforços para enfrentar a mudança climática. Há pouco
tempo o governo de George W. Bush propôs incorporar os Estados Unidos a um
processo pós-Kyoto em 2012, com planos visando abordar a mudança climática. Mas,
como destacaram muitos críticos, isso só se concretizará depois que o presidente
Bush deixar a Casa Branca. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/ IPS)