Vancouver, 12/09/2007 – No ano passado as abelhas produtoras de mel morreram na América do Norte em quantidades sem precedentes. Até este mês, ninguém parecia capaz de demonstrar qual pode ser o motivo. O que se chama "desordem do colapso de colônias" pode devastar uma colônia de abelhas em questão de semanas. Estes insetos voam para colher o pólen, mas nunca regressam ou, simplesmente, enfraquecem e morrem nas colméias. Além dos efeitos maiores na cadeia alimentícia, as implicações econômicas destas mortes são imediatas, porque as abelhas são essenciais para a polinização de cultivos no valor de dezenas de bilhões de dólares na América do Norte. Cientistas da Universidade do Estado da Pensilvânia disseram ter encontrado uma ligação entre o Vírus Israelense da Paralisia Aguda e a desordem do colapso de colônias.
Em convocação para uma conferência na semana passada, os
pesquisadores disseram que o vírus, junto com outros fatores estressantes, é a
provável causa da desordem, que já causou a perda de 50% a 90% das colônias de
abelhas da América do Norte. Foi descoberto em Israel em 2004, mesmo ano em que
os Estados Unidos importaram abelhas australianas. A desordem do colapso de
colônias também foi observada na Polônia, Grécia, Itália, Portugal e Espanha, e
informes não verificados surgiram na suíça e Alemanha. Também foram registrados
casos no Brasil e na Índia.
David Hackenburg, apicultor que vive perto da
baía de Tampa, no Estado da Flórida, perdeu quase duas mil de suas três mil
colméias em questão de semanas no inverno boreal passado. Desde então apresenta
o caso a pesquisadores universitários, burocratas de agências estatais e
políticos eleitos. Hackenburg disse a vários meios de comunicação que novos
pesticidas sintéticos elaborados com base na nicotina e conhecidos como
neonicotinóides, ou neonics, são o principal fator que contribui para esta
situação. Alguns pesquisadores disseram as IPS que novos estudos incluirão estes
pesticidas como possíveis causas. Organizações ambientalistas, como o Sierra
Club, também acreditam que os alimentos geneticamente modificados podem estar
influindo. Um estudo britânico mais extenso concluiu que cultivos geneticamente
modificados combinados com poderosos produtos químicos são prejudiciais para
abelhas, borboletas e pássaros.
Pesquisadores do Departamento de
Agricultura da Pennsylvania e de outros Estados norte-americanos realizam testes
com base em dados geográficos para compreender a magnitude do problema e
constatar se há ligação com a desordem do colapso de colônias. Porém, outros
cientistas alegam que existe pouca evidência de que a toxina Bacillus
thuringiensis, produzida por cultivos geneticamente modificados, seja uma das
causas das mortes em massa de abelhas. Segundo o Science Daily, uma equipe de
cientistas do Centro Químico Biológico Edgewood e da Universidade da Califórnia,
em São Francisco, identificaram um vírus e um parasita que são prováveis
culpados pelas recentes mortes. Somente na semana passada o Grupo de Trabalho
sobre o Colapso das Colônias, da Universidade do Estado da Pennsylvania
apresentou conclusões claras sobre quais podem ser as causas.
Em julho de
2007, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos divulgou um plano de ação
sobre a desordem do colapso de colônias que declara: "A estratégia atual para
abordar este mal envolve quatro componentes principais. 1) pesquisas e coleta de
dados, 2) análise de amostras, 3) pesquisas guiadas por hipóteses e 4) ações
preventivas de mitigação". Mariano Higes, cientista radicado na cidade espanhola
de Guadalajara, concluiu que as abelhas européias que sofrem desordem do colapso
de colônias são vítimas de fungo Nosema ceranae. A equipe de pesquisadores
liderada por Higes estuda esta questão desde 2000 e assim pôde descartar
qualquer outra causa. Cientistas dos Estados Unidos afirmaram que, embora esse
possa ser um fator, não é o único a gerar a desordem.
Eric Mussen,
especialista em apicultura da Universidade Davis, da Califórnia, acredita que
pequenas variações no estado do tempo causadas pela mudança climática podem
afetar a água, o néctar e o pólen dos quais as abelhas dependem. Mussen também
alega que as abelhas têm muitos vírus, mas são seus sistemas imunológicos
debilitados que as tornam susceptíveis à morte. Os primeiros casos vieram a
público no final de 2006. Desde então, as especulações variam sobre as causas,
com uma variada série de teorias que incluem os novos pesticidas, os cultivos
geneticamente modificados, os produtos agrícolas, a mudança climática, os vírus
e os telefones celulares.
Calcula-se que nos anos 40 existiam na América
do Norte cinco milhões de colônias de abelhas administradas. Agora há apenas
cerca de dois milhões. As condições climáticas adversas e os furacões também
contribuíram para grandes perdas de colônias de abelhas nos últimos anos. Por
exemplo, a temporada de amêndoas começa em fevereiro para as abelhas. É uma
estação fria na América do Norte, o que pode afetar sua resistência. A economia
da temporada de amêndoas é particularmente lucrativa para os apicultores. A
criação migratória também está muito difundida nos Estados Unidos. Os
apicultores ganham mais dinheiro alugando abelhas para a polinização do que com
a produção de mel.
Freqüentemente os apicultores trasladam suas colônias
para Florida, Texas, Califórnia e outros Estados. A criação migratória de
abelhas acontece nos Estados Unidos desde 1908.
A mudança climática
também poderia ser um fator de enfraquecimento das abelhas afetando a
polinização de cultivos em muitas áreas agrícolas da América do Norte. O valor
dos cultivos para os quais as abelhas são as principais polinizadoras é
calculado em torno de US$ 15 bilhões nos Estados Unidos. Somente a indústria de
amêndoas, que depende da polinização das abelhas, vale US$ 1,5 bilhão. As
abelhas produtoras de mel não são nativas da América do Norte. Embora as plantas
autóctones possam sobreviver sem elas, a polinização das abelhas é fundamental
para cultivar frutas e verduras, como maçã, cereja, tomate, abóbora e muitos
outros cultivos.
"Certamente está ocorrendo algo nos Estados Unidos, e é
difícil dizer se isso se deve a uma bactéria ou a um fungo. É difícil detectar a
causa com os métodos atuais", explicou à IPS Leonard Foster, professor
assistente de bioquímica na Universidade de Columbia Britânica. "Podem ser
vários fatores combinados, mas são difíceis de verificar neste momento: mudança
climática, antibióticos e uso de pesticidas onde as abelhas possam posar. Temos
vários antecedentes históricos mostrando que há flutuações nas colméias a cada
sete ou oito anos, as quais são afetadas pelas condições climáticas e pelos
rendimentos dos cultivos. Ainda é muito cedo para se tirar conclusões",
acrescentou Foster.
"Nos últimos tempos não temos ouvido muitos casos, já
que estamos no verão. As perdas parecem estar associadas com o inverno, pois é o
fim natural do ciclo de vida de uma colônia", disse à IPS Troy Fore, presidente
da Federação de Apicultores Norte-americanos. "Fico sabendo pelos apicultores,
mas muitos foram prejudicados no começo do ano. As colônias afetadas não são tão
produtiva. Porém, ainda não temos uma arma fumegante", concluiu.
* Este
artigo é parte de uma série sobre desenvolvimento sustentável produzida em
conjunto pela IPS (Inter Press Service) e IFEJ (siglas em inglês de Federação
Internacional de Jornalistas Ambientais).
Crédito de imagem: Sxchu
(Envolverde/ IPS)