Buenos Aires, 11/09/2007 – Com um acampamento pendurado em árvores na selva de Yungas, noroeste da Argentina, ativista da organização Greenpeace exigem do senado o fim do desmonte das florestas nativas em todo o país. "De noite é espetacular, a temperatura baixa e tem vento, mas durante o dia o calor é sufocante", disse à IPS Romina MacGibbon, uma das ativistas. As barracas de campanha foram armadas a 25 metros de altura em árvores de uma propriedade árvores na Reserva de Biosfera de Yungas, na província de Salta.
A reserva foi assim declarada pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1992, para contribuir com a
conservação da biodiversidade mundial. Porém, a área sofre a ação de produtores
agropecuários usando tratores, autorizados pelo governo de Salta. Nas últimas
semanas, as autoridades provinciais permitiram ao dono da propriedade desmatar
1.670 hectares dentro dos limites da reserva. Os ambientalistas convocaram uma
assembléia demoradores da zona, que rejeitaram o desmatamento, interromperam a
passagem de caminhões para o campo e agora acampam nas alturas.
As
voluntárias MacGibbon, Nidia Barrientos e Roxana Florelli, todas com treinamento
em sobrevivência na selva e o apoio de um grupo do Greenpeace na localidade de
Orán, a 20 quilômetros da reserva, acampam desde sábado nas árvores para vigiar
que não se avance no desmatamento. Os donos das terras não impediram a
instalação do acampamento. Mas outras ameaças rondam os campistas, que irão se
revezando. Na região há pumas, jaguatiricas, tapires, cobras e grande variedade
de insetos. Durante o dia a temperatura passa dos 30 graus, e à noite tem queda
brusca, contou MacGibbon.
Segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável, existe na Argentina um patrimônio de 33 milhões de
hectares de florestas nativas, ameaçado na última década pelo avanço da
fronteira agropecuária que causa a perda de 250 mil a 300 mil hectares ao ano,
inclusive em áreas protegidas. A maior aceleração acontece em Salta. Em 2003,
nesse distrito, o governo autorizou desmatamento em uma reserva da província na
localidade de Pizarro, onde vivem comunidades indígenas wichí. Para deter esse
avanço, a Administração de Parques Nacionais adquiriu a reserva.
Porém,
este gesto, empurrado por uma forte campanha do Greenpeace, não serviu para
deter o desmatamento em outras áreas da província de Salta. Diante deste
fenômeno, o Greenpeace e outras organizações ambientalistas conseguiram apoio na
Câmara de Representantes para avançar em um projeto de lei sobre "orçamentos
mínimos de proteção ambienta para florestas nativas". Entre as organizações
patrocinadoras da iniciativa figuram Fundação Ambiente e Recursos Naturais,
Fundação Proteger e Fundação Vida Silvestre, além da Secretaria de Meio
Ambiente.
O projeto foi aprovado em março pela Câmara de Representantes e
está parado no Senado. Mas, segundo informou à IPS uma fonte do Greenpeace,
agora se discute a criação de um fundo de compensação para as províncias que
poderia ajudar a destravar a iniciativa pendente de aprovação. O texto com média
sanção declara a emergência florestal em todo o país e detém o desmatamento nas
províncias até que apresente seu informe de ordenamento territorial à Secretaria
de Meio Ambiente, com as distintas categorias de uso para a floresta dentro de
sua jurisdição.
As zonas verdes, de baixo valor de conservação, poderão
ser transformadas total ou parcialmente. As amarelas, de maior valor, aceitariam
um uso sustentável em atividades como extração, turismo ou pesquisa. As áreas
vermelhas, de valor bastante alto de conservação, não poderiam ser modificadas.
Com algumas resistências, o projeto foi aprovado na Câmara Baixa. Mas, parou no
Senado, especialmente pela reticência dos senadores de três províncias do norte
do país onde se registram os maiores atritos pelo avanço da fronteira
agropecuária: Formosa, Misiones e Salta.
No começo de agosto,
organizações ambientalistas iniciaram uma campanha para coletar mais de um
milhão de assinaturas e que já conta com mais de 585 mil. Mas, com o acampamento
se pretende, conscientizar e pedir urgência aos legisladores para que avancem. O
subsecretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Miguel Pellerano,
explicou à IPS que o governo acredita que a criação de um fundo de compensação
servirá com incentivo às províncias e também aos produtores privados que têm
terras em áreas de florestas nativas.
"A idéia é que a lei seja aprovada
no Senado tal como foi votada pelos deputados, mas que se acrescente um capitulo
criando um fundo de fomento, de modo a acompanhar a lei com uma contrapartida
que sirva para manutenção, proteção e uso sustentável da floresta nativa",
acrescentou Pellerano. Trata-se de um reconhecimento ao serviço florestal que
prestam espaços, tanto para os governos provinciais que necessitam apoio para
sua manutenção, quanto para os produtores que podem requerer ajuda financeira
para projetos de conservação ou uso sustentável, disse o subsecretário.
A
proposta, aceita pelas organizações ambientalistas, foi bem recebida por
senadores contrários à aprovação da lei. "Com este complemento, poderemos
avançar na iniciativa, embora dificilmente isso aconteça antes das eleições de
28 de outubro", afirmou o senador oficialista Marcelo López Arias, da província
de Salta. Enquanto isso, ativistas do Greenpeace continuarão "pendurados" com
suas barracas de campanha na umidade da selva de Yungas.
(IPS/Envolverde)
(Envolverde/ IPS)