“O Núcleo Santa Virgínia se mostra propício para este estudo, já que abriga diversas cachoeiras, rios, paisagens, inclusive protegendo o Rio Paraibuna, o qual forma o Rio Paraíba do Sul”, relata o biólogo. Segundo Bacchi, no interior do Núcleo existem 6 trilhas interpretativas abertas para a visitação e o rafting (descida em corredeiras em equipe utilizando botes infláveis e equipamentos de segurança), que ocorre no Rio Paraibuna. “Todas as visitas são agendadas e acompanhadas de um monitor ambiental ou do guia do rafting”.
Na prática, o biólogo aplicou questionários com os visitantes que realizaram ou alguma das trilhas ou o rafting. O questionário analisou a aceitação dos participantes em relação à educação ambiental no ecoturismo, o que as pessoas buscam em um passeio ecoturístico e sua percepção em relação às atividades. Os dados qualitativos foram coletados a partir de entrevistas com os monitores do núcleo, com o gestor da área e com um responsável pela operadora de rafting. “Ainda foram realizadas observações em campo, quando acompanhamos diversos grupos nas trilhas do parque e durante a descida de rafting”.
Após a coleta de dados, o estudo comparou os resultados com os princípios e diretrizes de documentos que regem a educação ambiental no Brasil, como o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e a Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental no Âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (ENCEA). “Posteriormente, discutimos a educação ambiental realizada no Núcleo baseando-se nas diversas vertentes da educação ambiental, a fim de entender as potencialidades e benefícios que estas atividades podem trazer”.
Aceitação
Segundo o pesquisador, os principais resultados mostram a grande aceitação dos visitantes pela educação ambiental no ecoturismo. “Praticamente 99% dos participantes do rafting e 98% das trilhas disseram que deve existir educação ambiental durante atividades de ecoturismo. Ainda estes disseram que a motivação para realizar ecoturismo é o contato com a natureza em primeiro lugar e a vontade de aprender algo novo em segundo lugar, mostrando assim um grande interesse na prática educativa em contato com a natureza”.
Bacchi lembra ainda que foi possível perceber um esforço extremamente positivo por parte do Núcleo em incorporar a educação ambiental durante as visitas, abordando desde informações sobre o ambiente local, sensibilização dos visitantes e ampliando as discussões para temas sobre o ambiente global e até questões sociais. “Durante as observações, tanto nas trilhas quanto no rafting, foi possível notar diversos comentários dos ecoturistas sobre a beleza do local, sobre os sons que escutavam, comentários positivos sobre as informações que o guia passava e uma grande satisfação por estar realizando o passeio. Nos questionários encontramos também relatos sobre emoções e sentimentos relacionados a esta sensação de relaxamento, bem-estar e de pertencimento ao ambiente visitado, sendo que não houve nenhuma reclamação em relação aos monitores ou ligadas à educação ambiental”.
Entretanto foi possível notar que, apesar de atividades e conceitos aplicados mostrarem-se positivos, a educação ambiental não tem sido discutida na teoria, nem durante os cursos de capacitação, nem no dia-a-dia dos monitores. “Essa falta de discussão e de entendimento da educação ambiental pode fazer com que os monitores do núcleo estejam apenas repetindo valores, não se beneficiando das ações realizadas e não aproveitando todo o potencial que a educação ambiental do núcleo pode oferecer, tanto para os monitores quanto para os visitantes”, observa.
O estudo teve apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e conclui que, para que se possa dar uma configuração à educação ambiental no ecoturismo se faz necessário entender como essa educação tem sido trabalhada pelos monitores e guias locais. “Somente após uma avaliação da situação atual, logicamente respeitando-se as realidades ambientais, culturais e socioeconômicas de cada local, é que se pode propor melhorias para efetivamente colocá-las em prática. O passeio à natureza faz o visitante se sentir responsável por aquele ambiente e mudar suas atitudes, adotando um comportamento ético em relação ao meio natural, principalmente se esta permanência for direcionada para a sensibilização da pessoa a partir da educação ambiental”, finaliza Bacchi.
A proliferação de atividades ligadas ao ecoturismo propiciou, nas últimas décadas, o aumento de pessoas que visitam ambientes naturais como ação de contemplação, busca de bem estar e relaxamento. No entanto, a percepção de que, em raras oportunidades verifica-se o desenvolvimento de ações de educação ambiental nesse setor, levou Bacchi a buscar entender como essa prática tem sido trabalhada durante essas ações. A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Esalq, sob orientação de Odaléia Telles Marcondes Machado Queiroz, professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) e coorientação de Zysman Neiman, do Departamento de Ciências Humanas e Educação, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Sorocaba.
* Publicado originalmente no site Agência USP.