A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) alertou, segunda-feira, que o aquecimento global pode representar uma séria ameaça para a segurança alimentar mundial. Segundo o subdiretor-geral da FAO, Alexander Muller, as mudanças climáticas cada vez mais visíveis no planeta estão se transformando em um dos grandes desafios que humanidade enfrentará nos próximos anos, devido a seu impacto na produção, distribuição e acesso aos alimentos.
A agricultura é hoje, destacou
Muller, o setor mais afetado pelas mudanças climáticas decorrentes do
aquecimento global, exigindo políticas imediatas para assegurar a segurança
alimentar da população do planeta. A situação de risco é mais grave nos países
em desenvolvimento que possuem menor volume de recursos par enfrentar os danos
decorrentes deste fenômeno.
As variações climáticas extremas,
exemplificou, podem colocar em risco a produção de arroz, alimento básico de
mais da metade da população do planeta. O funcionário da FAO defendeu medidas
como a introdução de novas variedades melhoradas deste cereal, com maior
tolerância à salinidade. Além disso, propôs uma rápida transição para um maior
uso de biocombustíveis, levando em conta a segurança alimentar e a preservação
ambiental.
Mas a agricultura, acrescentou, é ao mesmo tempo vítima e
culpada pelo que está acontecendo com o clima. A produção de arroz, assinalou, é
hoje uma das principais fontes de gases causadores do efeito estufa. A pecuária,
por sua vez, é responsável por 18% das emissões de gases do efeito estufa em
nível mundial, enquanto que o desmatamento responde por 18% das emissões de
dióxido de carbono. Para reverter esse quadro, Muller defendeu a mudança na
gestão da pecuária e das práticas agrícolas e florestais, com a adoção de
práticas de conservação que ajudem a manter grandes quantidades de carbono no
solo.
Refugiados ambientais
Outro alerta sobre os efeitos do
aquecimento global foi feito, sexta-feira, pela organização espanhola
Ecologistas em Ação. Segundo a organização, nos próximos 30 anos, as mudanças no
clima farão com que cerca de 200 milhões de pessoas sejam forçadas a deixar o
local onde vivem. Até 2020, os processos de desertificação expulsarão de suas
casas cerca de 135 milhões pessoas. O alerta foi feito pela entidade durante um
evento paralelo à Cúpula contra a Desertificação, realizada m
Madri.
Esses efeitos, defendeu a Ecologistas em Ação, exigirão uma
revisão urgente do conceito jurídico de refugiado, adequando-o a essas novas
realidades sociais. Entre essas revisões, está a regulamentação da categoria do
"refugiado ambiental", necessária para garantir um mínimo de proteção jurídica
às pessoas obrigadas a deixar seus lares em função de questões
ambientais.
A Organização das Nações Unidas (ONU) define hoje como
refugiados somente aquelas pessoas que são forçadas a deixar suas casas por
causa de distúrbios políticos ou sociais. Mas o debate sobre a necessidade de
ampliar esse conceito está aberto. A ONU reconhece que cada vez mais pessoas
estão sendo deslocadas por problemas ambientais, como a desertificação, o
esgotamento do solo, enchentes e outros tipos de desastres naturais.
Os
ecologistas espanhóis criticaram os países que estão adotando políticas cada vez
mais restritivas contra a migração e acusaram tais políticas de violar
sistematicamente os direitos humanos e o Estatuto dos Refugiados, da Convenção
de Genebra. Além disso, defenderam que governos e empresas dos países ricos
devem parar com a exploração indiscriminada de recursos naturais dos países
pobres, o que só vem agravando os problemas ambientais.
Aproximando-se do
limite
O noticiário sobre os efeitos do aquecimento global renova,
praticamente todos os dias, as advertências sobre as ameaças que pairam sobre
todo o planeta. Nesta terça-feira, uma matéria da agência Reuters apresenta a
conclusão de um grupo de cientistas britânicos, após uma pesquisa que durou
cinco anos: o mundo provavelmente vai ultrapassar o limite de aquecimento global
que a União Européia considera perigoso.
Em março deste ano, líderes da
União Européia reiteram a importância de limitar o aquecimento global médio a
2°C acima dos níveis pré-industriais. Com base neste limite, a UE propôs novas
metas para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Mas, na comunidade
científica, há um clima de pessimismo tanto em relação ao limite proposto quanto
às novas metas propostas pelas lideranças dos principais governos
europeus.
O MetOffice, órgão meteorológico do governo britânico e
responsável pela nova pesquisa duvida que essas metas sejam atingidas. Segundo
Vicky Pope, gerente do programa de pesquisas sobre mudanças climáticas do Hadley
Center, disse que "já está bem aceito que a meta de 2°C será superada". A
própria meta já é problemática. Os cientistas acreditam que o aquecimento de
dois graus já será suficiente para iniciar o degelo das calotas polares, com
conseqüências graves e irreversíveis.
No último século, a temperatura
média do planeta subiu cerca de 0,7°C. Os cientistas acreditam que uma nova
elevação de 0,6° C é inevitável, já que os oceanos estão absorvendo aquecimento
mais rápido das terras emersas. Caso, os atuais níveis de emissão de gases não
caírem nos próximos anos, esse número deve subir, aproximando-se perigosamente
da casa dos dois graus. O derretimento da calota polar da Groenlândia, em uma
velocidade maior do que a prevista, é um sinal de que essa é a tendência mais
forte hoje. Enquanto isso, as lideranças dos países mais ricos do mundo seguem
empurrando com a barriga um problema que não cessa de lançar sinais de
alerta.
(Envolverde/Agência Carta Maior)