O Ministério Público do Rio de Janeiro está fazendo um mapeamento sobre a presença de facções criminosas e milícias que atuam na capital, no interior e no litoral fluminenses. Os promotores tentam identificar os principais chefes do tráfico de drogas e de milícias nesses municípios com base em denúncias. O trabalho deve ser concluído até o fim deste semestre.
O levantamento ganhou peso após surgirem informações de que, com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em favelas, os traficantes cariocas poderiam estar rumando para o interior e o litoral fluminense.
Com base em informações de fontes das polícias Civil e Militar, o R7 confirmou que as facções atuam nas principais cidades do interior e do litoral como Volta Redonda e Angra dos Reis - no sul fluminense -, Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis - na região serrana -, Macaé e Campos dos Goytacazes - no norte do Estado -, e em Cabo Frio, na região dos Lagos.
Segundo policiais, essas favelas são abastecidas por traficantes cariocas. São frequentes as apreensões de drogas nessas localidades com as siglas dos grupos criminosos que atuam na capital. Um agente ouvido pelo R7 disse que as quadrilhas mais poderosas se encontram em Macaé e em Angra dos Reis, que são rotas para a entrada de drogas no Estado. Nesses dois municípios, haveria armas pesadas, como fuzis.
Migração
Em Macaé e em Cabo Frio, os traficantes já cultivam os mesmos hábitos dos cariocas: atacam ônibus nas ruas e ordenam toques de recolher para protestar contra mortes de comparsas em ações da polícia ou em confrontos com rivais. Nessas cidades, há disputas entre as facções rivais com registros de várias mortes.
Em Volta Redonda, a facção cuja base é o complexo de favelas do Alemão, na zona norte da capital, domina o principal conjunto de favelas, a Vila Brasília, além de outras localidades como Retiro, Minerlândia, Padre Josimo e Dom Bosco.
Em Angra dos Reis, na mesma região, a maior comunidade, a Sapinhatuba, que fica às margens da rodovia Rio-Santos (BR-101) é controlada pelo grupo liderado pelo traficante Matemático, que tem como base o conjunto de favelas de Senador Camará, na zona oeste. Já o bairro da Japuíba é dominado pela facção criminosa que atua no complexo do Alemão.
As cidades da região serrana também sofrem influência das organizações criminosas da capital. Em Teresópolis, as localidades de Quinta-Lebrão, Perpétuo e Rosário abrigam integrantes do grupo do complexo do Alemão. Já no morro do Tiro, o controle é da facção ligada a Matemático. No Jardim Serrano, a suspeita é que bandidos associados à quadrilha de traficantes da favela da Rocinha, na zona sul do Rio, atuem no local.
Em Petrópolis, as comunidades de 24 de Maio, Independência e Sertão do Carangola possuem traficantes ligados ao criminoso Matemático. No município de Nova Friburgo, o bando do Alemão controla o morro do Dedé e o Alto da Olaria. Já a gangue vinculada à Rocinha é responsável pelo tráfico no Vale das Rosas.
As facções também atuam nas duas maiores favelas de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense: Baleeira e Tira-Gosto - rivais entre si. A primeira sofre influência do grupo que controla a Rocinha. Já a Tira-Gosto é dominada pela quadrilha associada ao traficante Matemático.
Na vizinha cidade de Macaé, várias favelas são dominadas pelo traficante conhecido como Roupinol, ligado à facção da Rocinha. Entre elas, Malvinas, Nova Holanda, Santanna e Aroeira. O grupo rival ligado a criminosos do complexo do Alemão controla as localidades de Aeroporto, Linha e Cajueiro. O morro do Carvão é base da facção liderada pelo traficante Matemático.
Na região dos Lagos, a situação é problemática em Cabo Frio. O grupo liderado por Matemático controla as localidades do Jacaré e Buraco do Boi. A facção baseada no complexo do Alemão domina as favelas do Lixo, Rainha da Sucata e Boca do Mato.
Milícias
Os grupos formados por policiais militares e civis, agentes penitenciários, ex-policiais, bombeiros civis, as chamadas milícias, também ocupam comunidades do interior e litoral do Rio de Janeiro. Eles cobram taxas de segurança de moradores e comerciantes, além de explorarem a distribuição de gás, água e do sinal de TV a cabo clandestina (gatonet).
Uma das quadrilhas atua no Farol de São Thomé, ponto turístico famoso do município de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. Em setembro, três suspeitos de integrarem o bando foram presos.
O relatório da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembleia Legislativa que investigou as milícias também citou a presença desses grupos em várias localidades. O documento diz que um deles atua em Praia Seca e Bacaxá, na cidade de Araruama, na região dos Lagos, e conta com cerca de 60 integrantes, que cobram taxas de segurança de R$ 30 de moradores e R$ 50 do comércio.
O documento indica ainda milícias em Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, também na região dos Lagos, Macaé e São Francisco do Itabapoana, no norte fluminense, Barra Mansa e Paraty, no sul do Estado.