Evento registra a história de antigos colonos de café de Trajano de Moraes

Livro e fotografias revelam culinária e tradições dos descendentes do colonato

Um dia de muita alegria, orgulho e a sensação do dever cumprido. Foi neste clima que os descendentes de colonos e moradores de Trajano de Moraes - município da serra centro-fluminense - comemoraram neste sábado (4) o encerramento do projeto Saberes do Cotidiano: Práticas da casa e da lavoura dos antigos colonos da cafeicultura fluminense, patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural. A comemoração, realizada no assentamento rural Santo Inácio, constou de uma exposição fotográfica e do lançamento do livro Vida de Colono, ambos realizados pelos próprios assentados, a partir de oficinas realizadas pelo projeto.
Para a antropóloga e responsável pela iniciativa Elizabeth Linhares, o livro com tiragem de 2mil exemplares e o acervo de mais de mil fotografias tiradas pelos assentados contribuirão para a preservação da cultura popular daquela região para gerações futuras. “Hoje a Petrobras desenvolve pesquisa para o uso da mamona como fonte de energia e este conhecimento veio do saber popular. Basta lembrarmos que nossos colonos já usavam o óleo da mamona para iluminar quartos de enfermos e de mulheres após o parto”, destacou a antropóloga na abertura do evento que teve ainda um baile com os sanfoneiros trajanenses.

Os assentados envolvidos também se emocionavam ao constatar que aquele trabalho era resultado do esforço coletivo para registrar a memória de uma luta. “Nossa história é longa e retrata um tempo muito difícil, em que produzíamos café praticamente como escravos. Hoje, com o assentamento, somos felizes de produzir na nossa própria terra, mas não esquecemos de nossas raízes”, conta Sebastiana Teixeira, assentada e descendente de colonos. “Quando peguei no livro, eu quase chorei porque nunca pensei que ia escrever um”, conta ela, que participou da oficina de texto e voltou a freqüentar a escola depois do projeto.

Saiba mais sobre o projeto

O projeto Saberes do Cotidiano: Práticas da casa e da lavoura dos antigos colonos da cafeicultura fluminense começou com uma pesquisa que virou a tese de doutorado da antropóloga Elizabeth Linhares. Durante um ano, os ex-colonos e descendentes de escravos que hoje ocupam o assentamento criado pelo Incra em 1987 participaram de oficinas de leitura e escrita para o registro de depoimentos e entrevistas citados no livro, aulas de fotografia, ilustração e coleta e embalagem de 140 espécies de plantas.

A iniciativa foi viabilizada pelo Instituto Trabalho e Cidadania, do Rio de Janeiro e recebeu patrocínio da Petrobras, através da seleção pública de projetos do Programa Petrobras Cultural edição 2005-2006. O livro Vida de Colono estará disponível, em breve, nas bibliotecas públicas e de escolas do Estado do Rio de Janeiro.

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