Ambientalista e prefeitura discordam

Obra no canal foi retomada depois de seis meses paralisada pela Serla por falta de um projeto de execução

O Canal do Cula gera polêmicas. Na estrada do contorno, próximo ao condomínio Recanto das Palmeiras, duas dragas estão abrindo uma vala onde será manilhado um trecho do canal para escoamento das águas pluviais. Mas, segundo o ambientalista Arthur Soffiati, o canal é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) que só ficou sabendo da existência desta obra após ser comunicado pelo próprio ambientalista.


Para Arthur, a obra está sendo executada irregularmente. Ele contou ainda que a Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla) foi quem autorizou a Secretaria Municipal de Obras retornar, há duas semanas, a construção da manilha, obra embargada no início deste ano pela própria Serla por falta de documentação. “Mas tanto Alan Vargas e José Luiz Puglia sabiam que ali é um patrimônio tombado pelo Inepac, portanto esta obra não deveria ser autorizada”, disse.
O ambientalista mostrou-se preocupado com as obras, pois o Canal do Cula é um braço antigo do Rio Paraíba do Sul e desemboca no Canal Campos-Macaé. Ele volta ao século 19 quando o Canal do Cula chegava até a localidade de Mussurepe, na Baixada Campista. “O Canal do Cula passou a desembocar no Canal Campos-Macaé depois de sua abertura”, contou.
Tombamento - Soffiati informa que quem propôs o tombamento do canal em 2002, ao Inepac, foi um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Norte Fluminense (Uenf), Universidade Federal Fluminense (UFF), Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos (Cefet/Campos) e da própria Prefeitura de Campos. “Para se fazer uma obra num patrimônio tombado tem que ter autorização do Inepac”, frisou. O tombamento do Canal do Cula foi publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, no dia 20 de dezembro de 2002. Arthur explicou ainda que o procedimento para tombamento acontece quando é encaminhada ao Inepac a proposta, e representantes do instituto vão até o local para verificar a procedência do pedido, e acatar ou não como um patrimônio tombado.
Afirmações - O ambientalista insiste em afirmar que o canal é tombado pelo Inepac com base em outras três afirmações. A primeira baseia-se no engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, que fez o primeiro plano diretor do município em 1902, no qual fez uma planta da cidade mostrando o canal onde exatamente está construída a galeria de águas pluviais. Arthur faz a segunda afirmativa através do segundo plano diretor de Campos, feito pelo escritório de urbanismo de Coimbra Bueno, em 1944, que também fez uma planta de drenagem assinalando o canal no mesmo local. O geólogo Alberto Ribeiro Lamego fez um mapa detalhado, em 1954, informando que o Canal do Cula é na mesma área, e que este mesmo canal passa em frente a Usina do Queimado. “Eu estudo o Canal do Cula há 15 anos”, afirmou.
De acordo com Soffiati, o Inepac não disse que o canal não é onde a Serla autorizou e a Secretaria de Obras executa as obras. “O Inepac está querendo confirmar estas informações que rondam pela prefeitura quando dizem que o Canal do Cula não é um patrimônio tombado”. Para o ambientalista, o secretário de Obras, José Luiz Puglia não poderia mexer no local, mas se o Inepac chegar a conclusão de que ali não é o Canal do Cula e fazer o destombamento, a Secretaria de Obras pode executar as obras. “O que não pode acontecer na prefeitura são dúvidas e o que está acontecendo é um crime”. 

Dúvidas continuam
A secretária de Planejamento, Silvana Castro, o secretário de Obras, José Luiz Puglia e o gerente da 5ª Agência Regional da Serla, Alan Vargas, garantem não ter informações que aquele canal é do Cula. Puglia, disse que não teria nada a falar sobre o caso, já que o Inepac disse que o canal não é o Canal do Cula. “Peço ao ambientalista que vá ao Ministério Público e faça suas denúncias”, Alan Vargas admitiu saber que o Canal do Cula é tombado pelo Inepac, mas não tem informações que lá, onde a obra está sendo executada, é o mesmo canal, através de abordagens feitas pela prefeitura e pelos documentos verificados. Ele confirmou ainda que a obra foi embargada há seis meses pela Serla por falta do projeto da obra e liberado recentemente pelo mesmo órgão.
Representante do Inepac – Silvana Castro, se reuniu na última semana com o representante do Inepac, Roberto da Luz, que colocou em pauta o caso das obras que estão sendo executadas no canal, e vai levar esta discussão ao Rio para tomar as cabíveis providências. “Até então não tenho uma informação oficial que o canal é um patrimônio tombado e se ali realmente é o Canal do Cula”, concluiu.

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