Achar petróleo é uma tarefa ingrata, de risco, que exige muito esforço e, nos tempos atuais, conhecimento tecnológico avançado. No passado, técnicos estrangeiros chegaram a afirmar, categoricamente, que não havia petróleo em território brasileiro. É claro que esta afirmação foi feita com base no conhecimento da época, que sequer levava em conta a possibilidade de exploração do ouro-negro além da costa.
Um fato anedótico aconteceu na história do petróleo no Brasil.No final da década de 70, o então governador de São Paulo, Paulo Maluf, alardeou que encontraria petróleo em território paulista. Criou a Paulipetro e começou sua batalha nada naval. Porém, só acertou em água. A Paulipetro fechou, após quatro anos de fracassos, sem extrair um barril sequer de óleo.
A história tem lá seus caprichos. O título de capital do petróleo, tão almejado por Maluf para São Paulo, acabou nas mãos da pequena e caótica Macaé. Isto não significa que o petróleo esteja sob o solo macaense. Ao contrário, o óleo mais próximo encontra-se no espaço geologicamente conhecido como Bacia de Campos, sendo que os primeiros reservatórios aparecem a cerca de100 quilômetros da costa.A cidade, utilizada como base operacional pelas empresas que prospectam, perfuram e produzem petróleo, recebeu o título de nobreza.
Quem chega à cidade de aproximadamente 130 mil habitantes pelo acesso principal, pode vislumbrar um monumento, uma torre de plataforma estilizada que, observada a partir de variados ângulos, lembra também uma grande letra S. Comenta-se entre a população que o S não surgiu apenas a partir de inspiração artística, mas seria capricho do ex-prefeito Silvio Lopes que, de certa forma, estaria demonstrando megalomania malufeana, ao mandar construir a torre. A posse do cargo de prefeito da cidade que recebe R$ 350 milhões anuais só de royalties é capaz de provocar delírios.
O que lamenta a população é que o ex-prefeito não tenha canalizado o desejo de imortalização para a tentativa de encontrar petróleo em subsolo macaense, a exemplo do que fez Maluf em São Paulo. Quem sabe, então, teria encontrado o bem mais precioso para a cidade: a água. Na cidade do petróleo, o líquido incolor, inodoro e insípido - é assim que aprendemos na escola, vale mais que o petróleo. Pelo menos para os moradores de quase todos os bairros. E o ex-prefeito teria a oportunidade, através de uma malufada, de ter seu nome eternizado como o homem que acabou com a falta de água em Macaé.
O fornecimento do precioso líquido seria, desde 2004, por força de decreto da câmara dos vereadores, de responsabilidade da EMHUSA - Empresa Municipal de Habitação, Urbanização, Saneamento e Águas. Entretanto, existe uma relação promíscua, pouco compreendida, entre a empresa e a CEDAE. O que se diz é que a Compania Estadual ameaçou exigir o ressarcimento de tudo o que investiu em Macaé, caso a prefeitura lhe tirasse a concessão. Para não se embrenhar nos meandros legais, a EMHUSA teria tentado parceria com a CEDAE. E, como conseqüência do limbo que se formou a partir da indefinição entre CEDAE e EMHUSA, quem expia os pecados é a população.
Não há nada mais democrático, mais cristão, que a falta de água em Macaé. Atinge brancos e negros, ricos e pobres, magros e gordos. É claro que quem tem conhecimento na prefeitura ou na CEDAE sempre consegue um caminhão-pipa de graça. Porém, para a maioria dos moradores, o destino é ficar sem água ou pagar pelo transporte, à base de R$120,00 por 10.000 litros, cerca de nove vezes o que seria pago por uma família média, caso o abastecimento viesse pela rede de distribuição. Porém, vinda da CEDAE, que cobra faturamento mínimo sem prestar o serviço, a conta nunca falta, chega religiosamente.
Embora a região seja pródiga por natureza - os rios Macaé, São Pedro, Duas Barras e Sana seriam suficientes para garantir, com folga, o abastecimento da cidade, o poder público não olha para a população. Se o ex-prefeito, que cumpriu dois mandatos, nada fez a respeito, seu sobrinho e substituto, Riverton Mussi, está perdendo a oportunidade de realizar o monumental feito. E o segmento de distribuição de água por caminhões prospera e agradece. Enquanto isto, os habitantes da capital do petróleo padecem, à espera de algum lunático que resolva encontrar óleo no subsolo macaense e, quem sabe, encontre água.