Imagino que na hipótese do goleiro Bruno vir a ser solto a grande discussão que a mídia vai propor é sobre se o Flamengo deve ou não ao jogador por todo esse tempo que passou na prisão e se Bruno volta a jogar e onde. Com certeza vão rolar pesquisas para que a torcida do Flamengo opine se o jogador pode ou não retornar ao clube e em última instância, se Bruno correr para outro clube, se o Flamengo ainda fica a dever, ou se tem direito a alguma importância na transação.
Uma semana e meia, no mínimo para definir essa “prioridade” caso venha a acontecer, como antes aconteceram casos semelhantes – crimes que comovem a opinião pública e desviam a atenção dos fatos principais. E, lógico, se Bruno retornar ao futebol, isso tudo na hipótese de vir a ser solto, ou absolvido, a transmissão direta da partida de reestréia com entrevista exclusiva e direito a falar que “graças a Deus estou aqui e espero fazer um bom jogo e contribuir para a vitória do meu time”.
Vai daí que o assalto praticado por bancos contra os cofres públicos na crise que afeta o sistema financeiro e começa a dar sinais que pode bater no Brasil fica no segundo plano. No máximo, aliás, de preferência, anúncios também comoventes de bancos, vendendo a ilusão do crédito fácil e paraísos que terminam na hora da cobrança.
Será que alguém já se perguntou se essa febre de automóveis com IPI reduzido traz algum benefício real ao País além da desculpa de manter empregos? Cidades entupidas de automóveis, o número de mortes no trânsito, os índices de poluição nos médios e grandes centros urbanos em decorrência do monóxido de carbono, dos metais contidos na gasolina, etc, etc?
Sequer temos um carro brasileiro. Todas as montadoras que operam em nosso País são estrangeiras.
Samuel Pinheiro Guimarães, em seu livro QUINHENTOS ANOS DE PERIFERIA, editado pela CONTRAPONTO e pela UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 3ª. edição, 2001, afirma que “no quadro das disparidades internas, adquire grande importância o papel da mídia. Sob o ponto de vista econômico, a mídia relevante – a que atinge grande audiência, na imprensa, na radiodifusão, mas em especial na televisão – está organizada como grande empresa com finalidade lucrativa. Suas vinculações com o setor privado, através das agências de publicidade, fazem com que elas sejam, acima de tudo, veículos de difusão de anúncios comerciais e, portanto, indutoras do consumo”.
E prossegue, “essa indução agressiva ao consumo se choca de frente com a necessidade de aumentar a taxa de poupança interna cm vistas a aumentar a taxa de investimentos sem dependência excessiva da poupança externa”.
“Sob o ângulo social, e, a televisão em especial, tem-se permitido uma exploração excessiva da violência, do individualismo e do sexo, com repercussões sobre os padrões de comportamento da juventude em geral e dos segmentos da população mais sensíveis a tal exploração.
Quando Fernando Henrique Cardoso – então presidente – propôs e o Congresso aprovou, a emenda constitucional que abria a participação do capital estrangeiro no limite de 33% nas empresas de rádio e televisão, estava dando seqüência ao projeto de colonização do Brasil, implantado nos seus oito anos de governo, seja pelas privatizações de setores essenciais da economia, seja pela adoção plena do modelo neoliberal, que Lula não mudou em quase nada, pelo menos na essência, apenas o adornou com políticas assistencialistas e de caráter eleitoral, já que não implicaram em nenhuma mudança estrutural e seu partido hoje se alia a Paulo Maluf.
Como afirma o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, no mesmo trabalho, “a internacionalização da economia e da sociedade americana, em termos de investimento, de acesso a materiais estratégicos, de dependência de sua indústria de insumos estratégicos importados, de mercados para seus bens e capitais, da necessidade de estacionamento de tropas americanas no exterior, de livre acesso de seus navios a águas e portos estrangeiros, de proteção de grande número de homens de negócio “expatriados” americanos, fazem com que constitua um objetivo de enorme importância a existência de governos em terceiros países que melhor assegurem a influência e a proteção dos interesses políticos e econômicos americanos”.
A mídia de mercado relevante, como fala o embaixador, no Brasil, é apêndice, braço desse processo.
O golpe contra o presidente Fernando Lugo no Paraguai se situa dentro desse contexto.
Para se ter uma idéia do peso do agronegócio nesses interesses, além do que cita o embaixador, a simples idéia que a reforma agrária seja uma realidade coloca em risco gigantes como a MONSANTO e a DOW CHEMICAL e todo o entorno que se materializa no consumo de 25% de todo o agrotóxico consumido no mundo, pelo Brasil.
É fácil supor a importância da indústria automobilística para essa política de globalização que Milton Santos chamava de “globalitarização” por conta da força das armas (visível na destruição do Iraque, do Afeganistão, da Líbia, da guerra civil provocada de fora para dentro na Síria, do massacre de palestinos, de grandes bases na Colômbia, agora em breve no Paraguai e na demonização do Irã.
“Impedir a transferência de tecnologia que permita o surgimento de competidores efetivos nos mercados de ponta mais lucrativos”.
Foi um dos grandes dilemas da RIO + 20. Os grandes inventaram a expressão desenvolvimento sustentável em padrões tais que as tecnologias, quaisquer que sejam, não sejam acessíveis a países como o Brasil, os chamados emergentes, no durmo mesmo periféricos de uma nova Idade Média, a da tecnologia. De um novo horizonte de países colonizados, isso em pleno século XXI.
Quando a mídia se refere a Raul Castro como “ditador”. Ou a Mahamoud Ahamdinejad como “terrorista”, a Chávez como ditador, na verdade está apenas cumprindo o papel de braço do capitalismo para “apresentar o modelo socialista de organização política, econômica e social como intrinsecamente mau, destruidor dos valores ocidentais”. E o Irã não é um país socialista. É uma república islâmica com normas econômicas capitalistas.
Que valores? O das bombas despejadas sobre Hiroshima e Nagazaki? Os cinco mil bombardeios das forças da OTAN devastando a Líbia? Ou por trás disso o controle do petróleo, das riquezas naturais e o cerco a países que, porventura, se oponham a esse modelo que é de fato terrorista e hoje tem nítidas colorações nazi/sionistas.
O livro do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães não fala na transformação dos EUA em uma grande corporação sob controle de grupos sionistas – ISRAEL/EUA TERRORISMO HUMANITÁRIO S/A –, mas permite que se defina essa realidade.
O professor universitário, por exemplo, que busca melhores condições de trabalho, algo além de salários justos, decentes, é ignorado pela mídia. O aluno robotizado no processo constante de alienação é instado a reclamar da perspectiva de aulas em período que deveria estar de férias e no atraso da formatura.
Em 2007 um cidadão subiu ao topo de um edifício em sua cidade e ameaçou pular. Afogado em dívidas, desempregado, logo atraiu a atenção de centenas de pessoas à espera do desfecho. O grito dessas pessoas era de “pula, pula, pula!”
Salvo por um soldado do Corpo de Bombeiros tomou uma tremenda vaia ao chegar ao térreo e ser colocado numa ambulância. A massa se dissolveu, sequer foi notícia nos jornais locais ou regionais. Não pulou, não atrapalhou o trânsito.
O papel que as organizações GLOBO (construídas no regime militar), VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO, ÉPOCA, RBS, ESTADO DE MINAS e outros exercem nesse processo que o apresentador do JORNAL NACIONAL chamou de “telespectador Homer Simpson”, apresentando o cidadão normal como idiota, é mais ou menos o de substituir o Saci Pererê pela festa de Haloween.
Breve os desfiles de escolas de samba, já glamourizados para turistas, transformados naquelas marchas insossas que costumamos assistir nos filmes que mostram os EUA como centro da salvação mundial.
A luta pelo resgate da mídia passa pelas ruas, ou como disse Sérgio Porto, ou Stanislaw Ponte Preta, como queiram, pelo botão de desligar. “O melhor da televisão é o botão de desligar”.
O que está em jogo é a própria espécie humana como tal. Ou vamos nos empanturrar de catchup e mostarda e nos acostarmos obesos e obedientes a essa ordem nazi/sionista, ou vamos reagir e a exemplo de Marlene Dietrich afirmar que "americano tem essa mania de cathcup, comida com catchup não é comida, é catchup".