Quando o senador João Agripino (DEM/RN) aparece nos noticiários de televisão, rádio ou jornal está sempre assumindo a postura de defensor da moral, dos bons costumes na política, uma espécie de paladino da dignidade.
Como a mídia é venal, defende interesses (e é parte desse esquema de corrupção) de grupos econômicos que detêm o controle acionário do Estado brasileiro desde a chegada de Cabral e agora, na oficialização, os oito anos de FHC, a imagem do senador é exatamente aquela que é vendida.
A realidade é outra. Você está comprando azul e levando amarelo. Vai ter que brigar muito no PROCON e na Justiça para receber o seu de volta e anular o logro.
O Rio Grande do Norte, como boa parte dos estados da Federação brasileira é dividido em feudos políticos que ora se aliam, ora se distanciam, mas todos, sem exceção, participam do processo de saque de cofres públicos, da máquina estatal, de entrega das riquezas de cada estado para grupos privados, acentuando o caráter de entreposto e corporação do aparelho estatal, agora mais claro com as revelações feitas pelo jornalista Amaury Ribeiro em seu livro A PRIVATARIA TUCANA.
O mais recente escândalo envolve João Faustino, ex-sub-chefe da Casa Civil do governo José Serra em São Paulo e empresas a partir de um determinado centro, envolvidas nos “negócios” de inspeção de veículos automotores e grossas propinas. Para o PSDB, para os adereços que o seguem (PPS, DEM, etc), tendo como ponto de partida o governo de Paulo Maluf na Prefeitura de São Paulo e perdurando, a despeito das denúncias, até os dias de Gilberto Kassab.
A Operação Sinal Fechado como foi chamada poderia ser realizada em qualquer estado governado por tucanos, por figuras do DEM, do PPS e adendos menores e em alguns casos de governos aliados do PT no plano federal. PC do B e PMDB.
O que o livro de Amaury Ribeiro revela, para além dos negócios de José Serra, FHC, a filha de Serra, o banqueiro Daniel Dantas e outros tantos, é bem mais que a corrupção. É uma espécie de BRASIL S/A sob controle de grupos estrangeiros (governo dos EUA, bancos e corporações) associados a grupos nacionais, latifúndio e bancada evangélica como chamam, ou a invasão de seitas neopentecostais transformadas em arapucas especializadas em ludibriar fiéis incautos e vender casas no céu.
O governo Dilma, como o governo Lula, não faz mais que navegar ao sabor das ondas tentando equilibrar-se e parecer diferente num ou noutro ponto, sem mudar nada na essência.
Aécio Neves é o dono do pedaço Minas Gerais e seu afilhado a aberração política Antônio Anastasia prossegue na destruição do estado. Sérgio Cabral não faz coisa diferente no Rio de Janeiro, como fizeram o casal Garotinho e Marcelo Alencar, o centro é São Paulo, governado sucessivamente por tucanos (Covas, Alckimin, Serra e agora de novo Alckimin).
A Bahia a despeito do governo petista ainda tem forte presença do grupo de ACM. O Rio Grande do Sul tenta recuperar-se das tragédias Germano Righotto e Yeda Crusius e vai por aí afora.
São os donos do pedaço.
Ao sair da ditadura militar o Brasil não se constituiu como democracia plena, ou em seu sentido real. A morte de Tancredo levou ao governo uma figura pusilânime como José Sarney (dono do Maranhão e do Amapá), um Congresso Nacional Constituinte e não uma Assembléia Nacional Constituinte foi contida – a despeito de avanços – na tutela imposta pelos militares em assuntos variados, como a própria reserva de mercado que as forças armadas estabeleceram de guardiãs da democracia – na ótica deles, tortura, etc – ou os interesses de grupos políticos geridos por banqueiros, grandes empresários, interesses norte-americanos e materializados no tal CENTRÃO, que transformou a Constituição de 1988 em entrave a conquistas significativas para os trabalhadores, à medida que até o fecho foi feito às escondidas – como confessado – pelo ex-ministro e então deputado Nélson Jobim.
A redemocratização está incompleta, que o diga a resistência de militares à verdade sobre o que foi o golpe de 1964 e toda sua marca de barbárie e a presença das mesmas vestais, como Sarney, Agripino, etc, ao lado ou contra um governo supostamente de esquerda, ou progressista.
E nem estamos falando da mídia de mercado. Podre, parte desse processo de transformação do Brasil em entreposto do grande capital e obstáculo às transformações políticas, econômicas e sociais na América Latina, até porque, exerce o papel vergonhoso de potência emergente e sub-imperialista.
O governo Lula e o governo Dilma não perceberam que estão envolvidos numa teia que cerca o trapézio do poder e o campo de manobras é estreito, sem contar que não existe rede de proteção no caso de queda.
Lula superou essas contradições mantendo-as intocadas, mas bem administrando-as, por conta de seu carisma. Dilma é menor que o cargo e o País corre o risco de cair em mãos privatistas nas eleições de 2014, na sedução do marketing de um senador irresponsável, Aécio Neves.
O retrocesso será sem tamanho e a volta muito difícil.
Para acabar com os donos do pedaço o governo terá que tomar atitudes de confronto, como a CPI DA PRIVATARIA (o PT está tentando abafar, na prática é um PSDB com cores diferentes), enfrentar a mídia podre e venal e buscar nas forças populares o meio de superação de obstáculos e dificuldades que se tornam cada vez maiores à medida que o próprio governo Dilma, fraco e escorado no neoliberalismo diante da crise mundial e da aceitação de suas regras, se esvai na dimensão política da presidente, uma figura menor e sem rumo.
Os donos do pedaço continuam engolindo nacos do Brasil e breve vão devorá-lo por inteiro.
A luta vai ser nas ruas como está acontecendo em boa parte do mundo. E o PT vai ser apenas um lamentável fracasso no processo de construção do socialismo.