O ex-jogador Zico chegou ao Brasil depois de demitido do clube europeu onde tentava aprender a ser técnico e de cara foi dizendo que seu sonho é ser técnico do Flamengo. “Dirigente não, quero ser técnico”. E olha que o atual técnico é Andrade, que jogou junto com Zico e foi responsável por inúmeros passes para gols do dito cujo.
E mais, tirou o Flamengo do buraco e levou-o ao título de campeão brasileiro, o sexto.
Uma vez alguém perguntou numa dessas resenhas esportivas no lugar de quem Zico entraria nas seleções de 1958, 1962 e 1970? No de Garrincha? No de Pelé? No de Vavá? No de Amarildo? No de Tostão, ou de Jairzinho? De Rivelino? De Gérson?
É claro que Zico foi um grande jogador. Mas jamais um fora de série como muitos que desfilaram pelos campos de futebol do Brasil. Feola perdeu noites de sono em 1958 para decidir se levava Zizinho ou não para a Suécia. Não levou, pesou a idade de um dos maiores jogadores da historia do futebol brasileiro.
Um ano antes Bela Gutman, um dos integrantes da célebre seleção húngara de 1954, chegou ao Brasil para treinar o São Paulo e disse de saída – “me dêem Zizinho e serei campeão”. Foi. Gentil Cardoso já havia dito isso quando no Fluminense pediu Ademir Queixada. E foi campeão também.
Dia desses vi uma seleção carioca de todos os tempos montada por cronistas esportivos. Zizinho não estava lá. Brito (um excelente zagueiro) foi o titular da zaga central. Esqueceram Mozer, Aldair e entenderam, os cronistas, que Leandro, notável lateral-direito merecia ser titular e Carlos Alberto Torres reserva.
Trem de louco. Se formos mexer mais lá para trás cabe perguntar por Heleno de Freitas. E nem vale a pena levar em conta os anteriores, digamos assim, os que conhecemos pelas narrativas dos cronistas das décadas de 20, 30, 40 e 50.
Leônidas da Silva virou paulista, mas andou pelo Flamengo, foi ídolo rubro-negro. Outra ausência.
Pior que isso só a dúvida de Feola em 1958 sobre se escalava Moacir na antiga meia-direita, ou Didi. Prevaleceu o bom senso de Carlos Nascimento, supervisor, falaram mais alto os conselhos de Newton Santos e acabamos campeões do mundo pela primeira vez, até porque, Didi e Newton impuseram a presença de Garrincha e Pelé. Eram reservas de Joel e Dida, dois excelentes jogadores, sem dúvida.
Em 1970 Zagalo teve que, a contragosto, falou isso, deixar por aqui Dirceu Lopes, um extraordinário meio campista do Cruzeiro, tamanha a inflação de craques, digamos assim. Nem estou falando de Zé Carlos, ou lembrando que Wilson Piazza virou quarto zagueiro na fantástica máquina que massacrou a Itália na final.
Cláudio Coutinho, em 1978, na copa organizada para a Argentina vencer em retribuição ao apoio dado à candidatura de Havelange á presidência da FIFA, deixou Rivelino na reserva e inventou Edinho na lateral esquerda. Eram os tempos da ditadura. Reinaldo encrespava a turma com suas opiniões políticas e acabamos “campeões morais”. O goleiro do Peru, Quiroga, argentino de nascimento, entregou o ouro e no saldo de gols os portenhos foram à final.
Para se ter uma idéia da plêiade de grandes jogadores, como se costumava dizer, à época que fomos campeões em 1958, só pontas direita tínhamos, além do fantástico Garrincha, Joel, Maurinho (São Paulo e depois Fluminense) e Júlio Botelho (Fiorentina). Na esquerda, além de Pepe e Zagalo, uma dessas preciosidades em matéria de futebol, artista, Canhoteiro, Jogava no São Paulo.
Quando substituiu Dino Sani por Zito na copa de 58 o argumento de Feola foi singelo e honesto. “O Dino é globetrotter, sabe tudo, mas precisamos ganhar e não exibir”. E Zito foi insuperável.
A obsessão de determinados setores da crônica esportiva carioca de colocar Zico a qualquer preço como técnico do Flamengo, a persistir, vai desmanchar um dos trabalhos mais lúcidos e eficientes, pela simplicidade e honestidade, que um técnico, Andrade, consegue executar.
E olhe, não torço pelo Flamengo. Como diz Millôr Fernandes, “sou tricolor saudável”.
Fontana foi o quarto-zagueiro da tal seleção de todos os tempos. Jogador aplicado, guerreiro, mas e Zózimo ou Orlando, respectivamente campeões mundiais em 1962 e 1958?
Ou mesmo Edinho do Fluminense, guerreiro e dos primeiros zagueiros a ter vocação de atacante.
Entre algumas concordâncias, outras discordâncias, uma unanimidade. Carlos Castilho como goleiro. Insuperável. Dia desses, num jogo do Fluminense, vi uma torcida organizada exibindo uma bandeira com o rosto de Castilho. Emociona.
Telê Santana numa entrevista disse que os jogadores do Fluminense, em sua época, deviam dividir o bicho da maioria das vitórias com o goleiro. Com Castilho.
Cá entre nós, se levarmos em consideração o futebol carioca, só o carioca, o único jogador realmente fora de série depois da geração de ouro como são chamados os das décadas de 50, 60 e início de 70, só Romário. Grandes jogadores? É óbvio, inclusive Zico. Outros fora de série? Falcão sem dúvida.
Mas... Deixa pra lá. É como diz Romário sobre Pelé – “se fosse mudo seria um gênio completo”. E Pelé era um gênio, Zico não. Tim, que segundo os especialistas de sua época “passava meses sem errar um passe”, costumava dizer sobre determinados jogadores, ótimos por sinal, “temos um monte aí”.
Tivemos um monte de Zicos, mas nunca um monte de Garrinchas, ou de Zizinhos e tampouco de Gérsons que a mesquinhez de Pelé excluiu da seleção do mundo de todos os tempos. Outro fora de série.
Mas como especialistas são especialistas fica Zico na seleção e fica Zizinho de fora.
Se puxar mais um pouquinho chego a Evaristo Macedo, Flamengo, Barcelona, Real Madrid. Ponta esquerda de dar saudades.
Deviam fazer uma enquete junto à crônica que escolheu a tal seleção. Quem é torcedor do Zico e quem é cronista ou comentarista de fato.