A denúncia só foi feita por insistência de alguns parentes e amigos, mesmo assim recheada de medos e como confessou diante de câmeras e microfones, não lhe importava mais o que acontecia. Perdera a vontade de reagir. Admitiu que a partir de um dado momento interagia com o assaltante e estuprador. Passou a tratá-lo como um amante que ia buscar dinheiro e sexo. Fazia parte de sua rotina. Na solidão confessa, admitiu ter ganho alguém.
O aspecto da mulher na entrevista em que narrou todos os momentos terríveis que viveu não sugeriam exatamente momentos terríveis (exceto o primeiro), mas fatos normais no mundo de hoje. Chegou a dizer que acabou aceitando tudo aquilo como parte do seu destino e por isso buscou torná-lo menos dolorido. Havia desaparecido a chama de vida que caracteriza o olhar de cada ser vivo. Eram olhos opacos, sem brilho.
Desenvolveu uma relação silenciosa e passiva com o algoz. Doentia, evidente.
O major do exército dos EUA que matou treze pessoas e feriu outras trinta numa dependência da base norte-americana de Fort Hood, a maior base militar em território norte-americano, ou pelo menos é apontado como autor dos disparos, é muçulmano informam as agências de notícias e médico. Fazia parte da equipe médica que realizava o último exame em soldados antes de serem enviados às linhas de frente das guerras no Iraque e no Afeganistão.
As declarações do presidente dos EUA, Barack Obama, feitas num congresso de apoio à causa indígena (estava lá quando recebeu a notícia) foram frias, protocolares e não diferem nem em pontos e nem em vírgulas das declarações de outros presidentes em situações semelhantes. Por exemplo, os constantes massacres em escolas públicas e privadas do país. Há dois anos um cidadão morreu em seu gabinete de trabalho numa empresa nos EUA e só foi descoberto uma semana depois, embora centenas de pessoas passassem por ele diariamente.
Pediu orações pelos mortos, pelas famílias, pediu à sociedade norte-americana que reflita sobre o fato e se pergunte a causa. Garantiu providências para apurar todo o acontecido e ao final disse que os soldados mortos eram jovens que “lá estavam para nos defender”.
Defender de que cara pálida?
Obama é um branco com pele negra e história de “eu venci”, que se espalha pelas livrarias de todo o mundo com o indicativo que “você também pode”, feito de barro do cinismo mais deslavado e característico da sociedade de zumbis moldada pela mídia e vivendo um gigantesco jogo de vídeo game onde o sangue jorra limpo, azul, verde, sem que se perceba a dimensão exata do abismo.
O que aconteceu em Fort Hood é um momento de pico da barbárie que caracteriza a sociedade capitalista neoliberal no seu expoente maior, os Estados Unidos. E numa hora de crise em que a agressividade se torna maior e se reveste de explosões de violência.
Norte-americanos não vão entender ou pensar sobre os fatos determinantes da tragédia, mas sobre a capacidade ou não do presidente e dos militares de garantir a Broadway nossa de cada dia. Ou a Disneylândia. Depende do ângulo que se queira olhar.
Os mortos serão enterrados com honras militares, como heróis, suas famílias receberão telegramas do Departamento de Defesa afirmando que morreram “cumprindo seu dever e com heroísmo”, tudo envolto na bandeira dos EUA, ao som de tambores, cornetas, toque de silêncio, produção e direção da Cervejaria Casa Branca, no melhor estilo Steven Spielberg com laivos de Silvester Stallone.
Breve, no mercado, documentário de Michael Moore mostrando ponto por ponto toda a podridão das contradições da maior nação do mundo, mas onde noventa milhões de cidadãos não são assistidos pela saúde pública. Outros tantos moram em barracas, traillers, despejados pelos bancos pobres falidos e sustentados pelo governo.
É preciso que os bancos, a GENERAL MOTORS, e toda a estrutura patriótica esteja de pé para garantir que milhares de afegãos e iraquianos sejam mortos em nome da liberdade e da democracia.
Num momento em que a economia dos EUA vai por água abaixo a agressividade se torna maior. Mais brutal, perde as peias. É uma característica do capitalismo e sua natureza perversa.
Bill Gates, há duas semanas, falando a estudantes de uma universidade em seu país, disse que não se importaria de pagar mais imposto de renda se isso significasse melhores condições de vida para aqueles que não tiveram sucesso. Sucesso! A palavra mágica do mundo contemporâneo.
Importante é estar na mídia. Imagino, entre outras coisas, que a jornalista brasileira Miriam Leitão, que pensa e age em função do capitalismo neoliberal e especificamente de interesses norte-americanos, neste momento, esteja querendo que Gates seja fuzilado por crime de heresia. Justo agora que ela acusa o governo brasileiro de uma super carga tributária e fiscal contra exatamente os ricos.
Os Estados Unidos são uma nação de zumbis. Zumbis que matam, zumbis que morrem. Zumbis que acreditam.
Uma das facetas mais cínicas e perversas do neoliberalismo norte-americano é seduzir pessoas com o estupro de suas consciências, culturas, de sua total integridade, no exibir o poder que se torna “fascinante”, de reduzir o ser humano a nada.
A diferença está nas gôndolas dos supermercados e nas lojas dos shoppings.
Uma trilogia em torno de um suposto projeto de defesa dos EUA, mostra um agente treinado para matar “inimigos” sem qualquer drama de consciência, por motivos patrióticos. Jason Bourne. À parte a luta do tal agente para recuperar o mínimo de dignidade e condição de humano, os três filmes mostram todo o aparato de “garantia” da democracia. Fez tal sucesso que Hollywood está anunciando um quarto filme.
As pessoas não se perguntam e passam ao largo de toda a estrutura predadora da máquina de matar dos EUA, para se fixarem na capacidade de Jason Bourne de tentar ser gente. O que querem que você, todos, pensemos. Sem deixar de perceber que não há escapatória, exceto no filme. “Isso é só cinema, não é realidade” dizia Fellini sobre seus filmes que, curiosamente, eram a mais clara realidade transposta dos âmagos para a tela.
Esse estupro resta sendo aceito e visto como natural desde que se possa ter os dentes brilhando por indicação de super dentistas, ou a roupa sem manchas, por conta de um detergente – sabão em pó – que procura as manchas e elimina-as. E importante, aquele negócio que perfuma o interior dos carros e faz com que moças deixem o posto de recebimento do pedágio e se realizem no tal spray. Dura dias, é barato. Tem vários aromas, como o capitalismo neoliberal.
Metáfora perfeita para a sociedade de zumbis.
Na base de Fort Hood além de soldados prontos para entrar em combate, estão soldados que retornaram das duas principais linhas de frente dos EUA, Afeganistão e Iraque e apresentam distúrbios de comportamento, problemas psiquiátricos por conta das guerras.
São matadores, treinados para serem matadores em nome de algo sem consistência e que são jogados a um canto qualquer, quando se tornam imprestáveis na tarefa de matar.
O foco das investigações, é lógico, vai centrar-se no fato do major, suspeito principal, ser muçulmano. A “encarnação do mal” segundo os norte-americanos.
Não se justifica um crime porque o criminoso foi, digamos, uma criança pobre, abandonada pela sociedade, jogada própria sorte, mas explica-se a violência a partir das formas e contornos do mundo neoliberal. E até porque, filhos de condomínios fechados assaltam uma trabalhadora para roubar um misero dinheiro e comprar drogas. Como defesa, estavam justiçando uma “vagabunda”.
O diretor de um dos maiores programas de tevê no Brasil, a edição brasileira do Big Brother, tem o hábito de jogar água suja da janela de seu apartamento em pessoas que julgue desqualificadas para essa sociedade de imagens e espetáculo.
Essa barbárie é conseqüência do modelo político e econômico. Vendida pela mídia a seres sôfregos de vida, como se vida fosse um par de tênis produzido em várias partes do mundo através de trabalho escravo.
Obama enfrenta um dilema nos EUA. Quer, em nome da paz, enviar mais quarenta mil homens ao Afeganistão para tentar acabar com a guerra, garantindo essa “paz” e a “democracia”. Parte da sociedade norte-americana, a maioria, sem perceber que todo aquele feérico festival de abundância de privilegiados sustenta-se nas centenas de Afeganistão espalhados pelo mundo, é contra, quer que os afegãos se danem.
Paz, democracia, ordem internacional são eufemismos até para essa maioria de norte-americanos incapazes de compreender a necessidade de explorar, matar, saquear (estuprar) povos do mundo inteiro, afegãos ou colombianos, hondurenhos (na farsa de um acordo que garante as bananas de cada dia em Miami), do contrário some o império.
O papel de Obama é fingir que governa essa máquina desgovernada de estúpida boçalidade. Que é diferente de Bush sendo igual.
O papel da mídia é mostrar que é necessário para o bem da humanidade aceitar esses saques e esses estupros constantes. O caso da moça no Rio de Janeiro é apenas um disfarce de falsa indignação dos donos do poder, como Jason Bourne é alguém que vai matar sempre, pois foi treinado para matar, perdeu qualquer referência e duas ou três medalhas de honra ao mérito serão bastante para garantir um telegrama de condolências à família e a bandeira dos EUA a cobrir o caixão.
Fora isso, PMs no Rio de Janeiro (pode ser em São Paulo, Minas, qualquer lugar, são iguais) invadem uma favela a pretexto de combater o tráfico de drogas (ao qual boa parte da polícia é ligada) e dão um tapa e jogam água num cidadão. Indefeso e inocente.
Norte-americanos são zumbis e exportam o modelo para todo o mundo.
Ah! O ministro das Comunicações do Brasil, Hélio Costa, quer “perdoar” a GLOBO, sua antiga empregadora (hoje o contrato de trabalho é outro a “remuneração” chega de outra forma). É que a GLOBO cometeu várias irregularidades, bandidagem mesmo, no passado e agora “regenerou-se”. Apóia Hélio Costa para o governo de Minas se a medida for concretizada.
Pode ter absoluta certeza que tudo isso foi engendrado no Irã, com apoio de “terroristas” palestinos e Chávez está no meio.