Um dos piores momentos do governo Lula terá sido o de aceitar a resolução da OEA – ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS – de enviar tropas ao Haiti. A decisão foi tomada logo no inicio do governo Lula, sob forte pressão do presidente norte-americano à época, George bush e naquela história de usar nações latinas americanas para impor suas políticas, bush confiou à tarefa de “liderar” as tropas da OEA ao Brasil. Ou seja, o tipo da honraria dispensável, é missão suja.
A intervenção, em princípio, teria como objetivo, intervenções pela “paz” sempre têm esse objetivo para dissimular os verdadeiros interesses – de pacificar o país à beira de uma guerra civil e promover a reestruturação da democracia.
Em novembro do ano passado a ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – que também participa da farsa, repatriou soldados do Sri Lanka acusados de violência e estupros sistemáticos contra mulheres do Haiti. Um total de 108 criminosos fardados de democratas foi mandado de volta.
O gasto anual da missão de “paz” é de 535 milhões de dólares, representa 9% do PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO – do Haiti e o salário mínimo no país é menor que 4 dólares diários. Um cálculo feito por organizações internacionais mostra que não se pode viver no limite da sobrevivência, no Haiti, sem um ganho de 12 dólares diários, algo como 360 dólares mensais, mais ou menos 800 reais. O número de desempregados atinge a 80% da população considerada economicamente ativa naquele país.
Para ajudar o Haiti de fato, se isso fosse interesse, não é, bastaria que obama, ou bush antes tivessem enviado ao país tropas para promover uma democracia real e 3% da ajuda dada às montadoras de automóveis dos eua. Ou 0,5% do dinheiro a ser emprestado/doado a pobres banqueiros internacionais assolados pela “crise”.
Militares do Brasil e outros países estão por lá há cerca de seis anos e nada mudou. Pelo contrário. O governo do presidente René Préval representa interesses das elites, segue as ordens da OMC – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO – o que transforma o Haiti numa espécie de fazenda coletiva dos negócios de empresas norte-americanas e brasileiras, principalmente.
O deputado Fernando Ferro, sem entrar no mérito da intervenção militar em negócios internos de outro país, disse em discurso no plenário da Câmara que não se justifica uma ação militar desse porte, por tanto tempo, sem que avanços tenham sido alcançados e a situação no todo seja pior. Como de fato é.
Organizações internacionais como a Batay Ouvriye afirmam que além da violência e apesar do salário mínimo proposto por René Préval – indicado pelos norte-americanos – cerca de 80% da população recebe menos de 2 dólares por dia.
No Haiti existe uma elite controlada por empresas norte-americanas e agora brasileiras com aval dos militares de alguns países – a maior força e o comando é de militares brasileiros –. Essa elite é a mesma que se mantinha e mantinha a ditadura de François Duvivier, um dos últimos tiranos latino-americanos varridos do mapa por reações populares.
Como aconteceu na República Dominicana em 1961, quando norte-americanos promoveram uma intervenção e um massacre para depor o governo de Juan Bosh eleito após a queda da ditadura de Trujillo e assim manter seus interesses, o Brasil acaba participando desse processo de violência e que contraria princípios elementares de política externa, como o da não intervenção. Em 1964, como um grupo de militares nacionalistas sob o comando do coronel Caamaño tivesse tomado o poder, a pedido dos eua a ditadura militar brasileira enviou tropas para garantir o controle dessa “democracia” sobre o país e Joaquim Balaguer – ministro de Trujillo – virou presidente, pela vontade dos... norte-americanos.
Tem sido assim historicamente, do ponto de vista dos eua e nessas duas oportunidades o Brasil acabou cúmplice.
Países como a Nicarágua, o Panamá – parte da Colômbia arrancada para a construção do canal, construção e controle a partir de Washington – a República Dominicana, Granada, o Haiti, toda a América Central, inclusive Cuba até a vitória da revolução socialista comandada por Fidel Castro, são sistematicamente ocupados por norte-americanos. São considerados quintal dos eua.
O Haiti hoje é o país mais pobre da América Latina, um dos mais pobres do mundo e é só avaliar os dados acima para concluir-se que o trabalho escravo e a barbárie são imposições das elites garantidas por tropas de ocupação, inclusive do Brasil.
Neste momento, quando a violência das tropas estrangeiras atinge a níveis intoleráveis, aumentaram os protestos de trabalhadores, desempregados, da população oprimida e nos últimos dias o número de mortos já passa de cinco.
É uma notícia que não passa no jornal nacional e nem vai constar do livro do “acadêmico” e “imortal” william bonner sobre como se produz a notícia no principal veículo de ficção da televisão brasileira.
O que acontece no Haiti sob a responsabilidade das tropas brasileiras é puro genocídio contra um povo inteiro subjugado aos interesses de elites podres – e existem elites que não sejam podres? – colonizadas pelos norte-americanos. Confirmando que elites são apátridas.
É o Vietnã do Brasil. Um atoleiro que o governo Lula meteu o país e que a grande e imensa maioria dos brasileiros ignora.