OS DESAFIOS DE CHÁVEZ – A VITÓRIA SANDINISTA

OS DESAFIOS DE CHÁVEZ – A VITÓRIA SANDINISTA – CORRÊA NÃO VAI PAGAR DÍVIDA/EXTORSÃO – A GM/AS MONTADORAS – A MÍDIA

O presidente Hugo Chávez enfrenta seu primeiro grande desafio desde a derrota no referendo que incluía a possibilidade de reeleição indefinida (sem limite de número de mandatos) no domingo, 23, com as eleições estaduais e municipais na Venezuela.

As pesquisas mostram que o governo pode perder o controle de estados importantes no contexto político do país. O carisma e a força do presidente não têm sido, pelo menos até agora, suficientes para reverter quadros com perspectivas desfavoráveis. Mesmo assim é preciso cuidado, pois os institutos de pesquisas na Venezuela nos últimos pleitos e referendos consagraram o erro como prática. Como dizia o suicida/otimista, "até aí tudo bem", estava lá pelo meio do prédio, em queda livre e na expectativa do que aconteceria quando chegasse ao solo. O tudo mal está na cobertura da grande mídia brasileira sobre as eleições venezuelanas.

A sensação que busca criar é de uma derrota avassaladora da revolução bolivariana que resultaria numa rejeição quase que absoluta a Chávez e assim ficam criadas condições para novas tentativas de golpes contra o presidente daquele país.

Não é bem assim. A oposição governa, a rigor, os estados de Nueva Esparta e Zulia. Os estados de Sucre, Aragua, Guárico e Carabobo são governados por antigos aliados de Chávez. Foram eleitos na chamada "onda vermelha" do chavismo no último pleito. Para mostrar efetivo crescimento a oposição precisa ganhar em pelo menos seis estados. E entre esses seis incluir Tachira, Zulia, Miranda e Carabobo.

Fora desse quadro o chavismo estará mostrando força e que se recupera da derrota no referendo do ano passado, quando Chávez perdeu por menos de dois por cento dos votos e a derrota foi atribuída aos altos índices de abstenção.

A importância da Venezuela é grande para o mundo neoliberal e ainda mais em meio à crise atual. Um eventual tropeço de Chávez significará um revés mais amplo, pois alcança por tabela governos como o do Equador e da Bolívia mais diretamente. Do Paraguai num momento de partida de mudanças estruturais e debilitará todo o conjunto da luta pela integração sul americana, latino americana, apagando a importância da vitória do governo sandinista nas eleições municipais da Nicarágua.

Daí o empenho da mídia em vender a idéia que a oposição a Chávez é maioria esmagadora na Venezuela. Foi assim no golpe fracassado de 2002. O mesmo esquema, o mesmo jeito. William Bonner quando noticiou a prisão do presidente por pouco não decola da cadeira em estado de absoluto êxtase, direto para o colo do presidente George Bush. Por muito pouco. Foi preciso amarrá-lo.

Quando Chávez voltou nos braços do povo três dias depois d. Miriam Leitão teve que ser socorrida às pressas. Havia dito numa série de reportagens feitas na Venezuela que "o povo não agüenta Chávez mais". A preocupação da vetusta senhora não era com a mentira, mas o risco de perda do soldo.

A vitória da Frente Sandinista na Nicarágua, inclusive em Manágua, vai na contramão dos interesses dos Estados Unidos, Espanha especificamente e União Européia  e desmente a mídia que tentou insinuar a idéia de fraude. Só tentou. Logo engoliu, já que observadores internacionais dos mais variados matizes atestaram a lisura do pleito.

O governo do presidente Daniel Ortega ganhou alento e força para a retomada do processo interrompido quando, aí sim, da descarada intervenção do presidente Reagan no país, logo após a queda do ditador Somoza.

E na esteira de tudo isso a decisão do presidente do Equador, Rafael Corrêa, de valer-se de um recurso para adiar por 30 dias o pagamento de uma parcela da dívida externa do seu país. Corrêa concluiu uma auditoria cidadã em toda a dívida externa pública equatoriana e muniu-se do que qualquer leigo sabe. Ou como diria Nelson Rodrigues, até "os paralelepípedos". A dívida externa de países chamados emergentes ou pequenos, entre os emergentes o Brasil, é extorsão de bancos e governos. 

As chamadas agências que classificam riscos (riscos para o capitalismo) já estão atribuindo ao presidente equatoriano a expressão "caloteiro". A mídia brasileira, domesticada e comprada segue o mesmo caminho, chama a decisão de "calote". Boa parte dessas agências está envolvida em fraudes no sistema financeiro (que em si é uma fraude) internacional e muitas delas se estreparam na quebradeira de alguns bancos nos EUA ou agências financiadoras de imóveis, na onda dos papéis podres.

Mais ou menos a lógica de quem produz dez e coloca no santuário do capitalismo, as bolsas de valores, cinqüenta em papéis. Quarenta, óbvio, não existem. Aí passa a conta para o contribuinte. Tinha dez, vendeu cinqüenta, quarenta não tem como entregar. Mas quer receber mesmo assim. 

Na Alemanha o governo decidiu que não vai emprestar dinheiro a OPEL, montadora de propriedade da General Motors, se não tiver garantias que o dinheiro ficará na própria Alemanha. Se for para socorrer a GM nos Estados Unidos o dinheiro não sai.

A verdadeira história da falência da GM não é contada pela mídia brasileira. Os sucessivos erros gerenciais, como dizem, vão ser transferidos, segundo se percebe na mesma mídia, para as políticas da empresa em relação a trabalhadores. Isso nos EUA, pois aqui ainda não chegaram a 1888, a abolição da escravidão. Dão o calote, esse sim, em trabalhadores ativos e aposentados e com dinheiro público retomam em outras montadoras.

São cerca de um milhão e duzentos mil empregos diretos e seiscentos mil aposentados que vão sair do "paraíso" da previdência privada para a previdência pública, tudo na falácia que o mercado é o senhor capaz de prover a tudo e a todos. Já os executivos da empresa, os tais autores dos erros gerenciais, com salários milionários, saem ricos, lépidos e fagueiros nessa farsa chamada empresa privada.

O presidente eleito Barak Obama e o seu partido, o Democrata, entendem que a empresa deve ser "salva". Mais à frente vão ter que socorrer Ford e Chrysler. Terão que ser alvo da mesma operação destinada a manter viçoso na aparência, o capitalismo podre.

Mas para a mídia... 

O que vale é a versão e não o fato. E a versão que seja rentável, lógico.
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