Sobre a ocupação da Amazônia pela VALE e pelo latifúndio o general não disse uma palavra. É o tal nacionalista canhestro. Dá a impressão de defender o que o general chama de "soberania nacional", desde que a serviço do capital estrangeiro e particularmente dos interesses dos Estados Unidos. O general Rocha Paiva foi comandante entre os anos 2004 e 2006 da escola que forma oficiais superiores do Exército. Lá não deve ter estudado ou lido que suas declarações constituem infração disciplinar e portanto, passíveis de punição.
E tampouco que o comandante em chefe das Forças Armadas é o presidente da República, eleito pela vontade popular. Generais não são muito chegados a respeitar leis, acham que são a lei.
O grande desafio, ou o grande problema é saber se Lula vai ter peito para enquadrar o general e os militares de um modo geral. Não teve para demitir e punir o general Augusto Heleno (cooptado pelos EUA quando comandou policiais brasileiros no Haiti). Não vai ter para punir o general Rocha Paiva.
A VALE não ameaça, na cabeça dos militares, a soberania nacional. Destrói, invade, desmata, toma conta do subsolo do País, mas traz progresso...
Progresso e certamente algo mais na visão oblíqua que os militares têm da realidade brasileira. Com raras exceções os militares são, ao lado das elites os setores mais atrasados do Brasil.
Se, sempre o se, o governo Lula tivesse coragem traria a público os documentos da ditadura militar para que toda a geração pós ditadura tivesse conhecimento da barbárie e da estupidez que foi o regime militar. Da corrupção que imperou no período e das conseqüências pelas quais pagamos até hoje.
O general afirma que a cobiça sobre a Amazônia é a grande preocupação da Escola de Comando e Estado Maior do Exército. Cita a Inglaterra, a França e a Holanda como países que podem querer ocupar a região, fala dos interesses norte-americanos na Amazônia, mas tropas mesmo só na fronteira com a Venezuela. Ou seja. Ingleses, franceses, holandeses e norte-americanos tudo bem, Chávez não. Não precisa nem dizer e nem explicar mais nada, entrelinhas bastam.
Ao longo de nossa História é comum associar os militares a conquistas e avanços. Quais? Onde? Golpes de estado são conquistas, avanços?
Foram os responsáveis pelo Estado Novo getulista, puro fascismo. Pelo Estado Novo udenista, puro fascismo.
Encheram as prisões do Brasil ao arrepio da lei. Fizeram suas próprias leis através de atos institucionais. Torturaram, mataram (assassinatos), participaram de operações em conjunto com os norte-americanos no que consideravam "subversivo", entregaram a maior parte das riquezas nacionais, suprimiram eleições diretas, sistema partidário que pudesse oferecer risco ao regime. Moldaram os tribunais ao sabor da borduna que usavam sem o menor escrúpulo e legaram uma avalancha de barbaridades que ainda está encoberta no medo do governo de trazer a público a verdadeira face desses "nacionalistas" da REPÚBLICA VALE.
Em países como o Chile a Argentina, vítimas de ditaduras como o Brasil, os ditadores e seus sequazes foram para a cadeia, muitos ainda lá estão. Aqui arranjaram uma "anistia" que antes de beneficiar as vítimas do regime, garante a impunidade a torturadores, assassinos, algo assim como tenente que entregou os jovens para "um corretivo".
Já existe, parênteses, um PM envolvido no assassinato de um jovem numa boate do Rio, quando dava garantias ao filho de uma promotora militar, justo a que participa do processo contra os assassinos dos jovens entregues ao tráfico.
O governo Lula tem o dever de trazer a público toda a história da ditadura militar, exibir a verdadeira face desses que teimam em se manter como "salvadores da Pátria" (mas a deles) e tomar medidas previstas em lei para evitar que generais falem em nome de interesses de grandes empresas e corporações sobre o Brasil, na Amazônia, como se isso fosse nacionalismo, ou pior, disfarçando o entreguismo. A subserviência a potência estrangeira.
A visão deturpada e deliberadamente deturpada do general, tem força nos meios militares e um artigo de sua lavra foi publicado recentemente pela edição brasileira da MILITARY REVIEW, porta-voz do Pentágono por aqui.
A entrevista que concedeu ao jornal FOLHA DE SÃO PAULO não foi ao acaso, não existe isso. Com a mídia inteiramente comprada pelos interesses das grandes empresas, o general apenas dá seqüência a constantes atos de insubordinação contra a política indígena do governo em claro tom de desafio.
Lula tem que escolher entre fazer ou deixar que façam. Pois, há quem faça e há quem deixe.
Quem deixa encolhe e acaba dentro de pastas fétidas e imundas. Esse tipo de "mingau" nem se come pelas beiradas e nem se ignora.
Há responsabilidades futuras e elas serão cobradas. Quando os generais conseguirem transformar o Brasil num estado norte-americano, disfarçados de nacionalistas.