"NÃO RECEBO ORDENS DE DITADORES"

Quando Caetano Veloso despontou no festival da canção da antiga tevê RECORD com a canção "Alegria, Alegria", houve um auê entre alguns setores da esquerda, 1967, que entendiam estar ali um protesto contra a ditadura militar. Naquele mesmo festival Gilberto Gil tratou do amor em "Domingo no Parque" e Edu Lobo levou o primeiro lugar com "Ponteio." 

A chamada época de ouro dos festivais de música reserva um lugar especial ao de 1967. Chico Buarque de Holanda, terceiro lugar, apresentou uma de suas mais belas canções, "Roda Viva", mais tarde transformada em peça de teatro proibida pela ditadura. Foi um dos momentos em que a boçalidade do regime militar se mostrou plena. Quando o delegado do DOPS que foi ao teatro durante os ensaios ter determinado a prisão de todos os que ali estavam, inclusive a atriz Marília Pêra e o "tal de Sófocles". Queimou no golpe sentindo-se desrespeitado quando lhe disseram que o grego estava morto há pelo menos dois mil anos. 

"Alegria Alegria!" é uma das mais representativas canções dentre todas que marcaram os festivais da década de 60. Como "Disparada", "A Banda", e a histórica vaia a Chico Buarque e Tom Jobim, em 1968, na fase nacional do Festival Internacional da Canção, ao serem proclamados vencedores com a belíssima "Sabiá". 

O segundo lugar, "Caminhando", ou "Para não dizer que não falei de flores" de Geraldo Vandré permitiu que um Maracanãzinho inteiro explodisse e deixasse vir a tona toda a repulsa ao regime militar. Alastrou-se pelo País, virou hino da resistência e acabou proibida pela ditadura.  

Foi a canção das marchas que precederam a marcha dos cem mil no Rio e que na verdade, eram verdadeiras lutas travadas contra a barbárie que oprimia o Brasil, o regime dos generais. 

"Sabiá" e "Caminhando" foram canções de protesto. A de Chico e Jobim na mágica das letras de Chico e na fantástica composição musical de Jobim que depois revelaria estar compondo uma sonata e dela tirara a canção. A de Vandré um grito direto, um urro de luta, que ecoou pelo Brasil inteiro. 

"Alegria Alegria" não era e nem nunca foi uma canção de protesto no sentido pleno da palavra. Pelo contrário. "Caminhando contra o vento/sem lenço sem documento/no sol de quase dezembro.../quem lê tantas notícias.../Eu vou". 

Eu diria uma canção de ausência, de dar de ombros, de indiferença. Protesto? Claro. Mas restrito a um mundo próprio, influência do movimento hippye que era contra tudo e todos, pela paz e pelo amor, mas sem uma ideologia definida, só uma proposta de revolução pela revolução, sem rumo, sem lenço e sem documento. 

Importante? O movimento hippye foi fundamental e decisivo para que as gerações de hoje disponham de uma corda onde possam se agarrar diante do naufrágio na mediocridade geral patrocinada pelo grande irmão chamado mídia que molda e define regras sobre como ser, ou principalmente não ser. 

E compreender a profunda transformação que se propôs e se alcançou àquele tempo a despeito de generais no poder aqui, no Chile, na Argentina, no Peru, na Bolívia e em boa parte do mundo. História ainda parcialmente, boa parcialmente nisso, escondida tamanha a escuridão que foi o regime dos generais patriotas e democratas. 

Não sei se Chamberlain, mas um primeiro ministro inglês foi sábio ao dizer que se você quer ganhar uma guerra não entregue o comando aos generais. Eles perderão.  

Caetano e Gil exilaram-se em Londres por conta das pressões da ditadura. Chico preferiu ir para a Itália. Muitos saíram do Brasil num período de violência, assassinatos e tortura oficializados pelos militares. 

Não é a primeira vez que Caetano Veloso mostra-se alguém foram do mundo real, a despeito de ser um notável compositor. FHC era presidente da República e Caetano teve problemas nos EUA, na fronteira com o México. Ligou para o então presidente e ouviu a resposta que se virasse, pois havia dito algumas coisas que desagradaram ao ego de FHC. 

Mas conheceu de perto, falou sobre isso, o terrorismo norte-americano contra estrangeiros. Teceu loas a ACM, um coronel político a quem achava um homem do bem. ACM montou um império na base da violência durante a ditadura, inclusive com assassinatos e manteve a Bahia sob um regime de terror e medo enquanto foi vivo. 

Como compositor é um dos gênios da nossa MPB. Como palpiteiro político é um cidadão sem opinião, ao sabor de interesses dos negócios (Paula Lavigne vai ser a marqueteira da campanha de ACM Neto à Prefeitura de Salvador). 

Sua afirmação sobre ser Bush melhor que Fidel Castro, ou o regime norte-americano melhor que o cubano mostra isso.  

"Soy Loco por ti América" é uma canção de Caetano. Foi feita para Che Guevara. No dia da morte de Chê foi apresentada no encerramento do jornal da extinta Tevê Excelsior, por incrível que pareça, apresentado por Sandra Cavalcanti, num cenário montado num teatro vazio para dar dimensão ao idealismo do Chê. 

De lá para cá um ACM apareceu em seu altar de reizinho pode tudo do nada que habita suas sentenças sobre isso ou aquilo.  

É essa a diferença entre Chico Buarque e Caetano. Caetano obedece ordens de ditadores sim. Curvou-se a ACM e segue na esteira do velho coronel político agora com o neto. 

Chico não.  

Direito de opinião? É evidente. Paulo Francis estraçalhou com Caetano nessa mania de considerar-se um "deusinho" acima do de tudo e de todos, numa polêmica no jornal FOLHA DE SÃO PAULO.  

É que se a música de Caetano é divina, as opiniões são diabólicas. Pois atendem aos interesses imediatos dos "negócios". 

O problema não é ter uma opinião hoje e outra amanhã. O problema é o fator que faz com que as pessoas como ele mudem de opinião. Não são convicções. São "negócios". Interesses pessoais. 

Não chega a ser um Zelig, mas anda próximo. 

Tem a forma do poder. 

E pior, não sabe nada de história, na avidez de garantir um caraminguá para Paula na campanha política do neto de ACM. 

Nunca se viu Chico em tal companhia. Ou assemelhados.  

É a distância entre o ser e não ser. 

Romário sobre Pelé tem uma frase lapidar "Pelé foi um gênio com a bola nos pés e seria um gênio absoluto se não abrisse a boca. Só fala bobagens". 

Vale para Caetano. É um gênio na música mas fora dela, quando abre a boca, só diz besteira.
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