Cada vez que escuto algum dirigente árabe dizer ao povo "Vamos Varrer israel do mapa" ou "vamos jogar os judeus no mar", sinto um forte cheiro de sangue e de mofo no ar. Desde os anos cinquenta, desde minha primeira infância, escutei sucessivos dirigentes repetirem a frase. A última vez que me aterrorizei foi em 1967 e tinha dezessete anos. Os paises árabes que cercavam Israel prometiam uma derrota militar sem precedentes na história. Tomaram uma tunda e em seis dias Israel, conquistou o Sinai, subiu o Golan e recuperou Jerusalém, até então controlada pela Jordânia.
Ao lado das imagens dos soldados vitoriosos, vía fotografias de soldados derrotados, humilhados. Via imagens de corpos no deserto. Aquela guerra salvou Israel da destruição mas não foi boa para para o Estado Sionista. Criou para todos a imagem de um Estado militarizado e, principalmente dentro de Israel, criou a idéia de que a sobrevivência do país seria assegurada pela força das armas e não pelas duradouras negociações de paz. E nos palestinos veio à boca um gosto amargo de revanche que perdura até hoje.
Depos de tantos anos de guerra e enfrentamentos, regulares bombardeios a Gaza, atentados praticados por jovens homens e mulheres-bombas que estraçalham suas vidas e a de outros, é mais do que hora de pensar em paz.
Posso parecer ingênuo mas não entendo o que leva a tanta violência e o que impede uma convivêncua pacífica entre dois povos irmãos.
Por que Israelenses e Palestinos servem de bucha de canhão a fundamentalistas que se nutrem da guerra e não podem deixar a paz acontecer para não perder o controle político de seus povos?
O Estado de guerra permanente levou a uma direitização de Israel que parece sinalizar não haver luz no fim do túnel. Ver a utopia socialista detroçada por bombardeios, misseis e homens bomba é extremamente doloroso. Assistir de longe este circo da morte, apenas não é tão doloroso quanto a dor que sentem os que vivem essa realidade cotidianamente. Aplaudir a guerra com suas (in)justificativas diante das ameaças dos outros é irracional e imoral.
Legitimar as ameaças do Hamas por conta de uma eleição democrática, uma escolha dos palestinos é legitimar a eleição dos Lieberman e Netanyahu igualmente democrática. Legitimemos a paz.
Agora que surgem revelações feitas pelo próprio presidente de Israel, Shimon Perez, confirmando antigas suspeitas de que Yasser Arafat teria sido assassinado pelo serviço secreto de Israel, fica mais evidente que a coligação política que governa Israel prefere adotar a estratégia do confronto do que uma ação que facilite a criação do Estado Palestino.
Quando os palestinos forem mestres de seus detinos e morarem não mais na provisoriedade de acampamentos ou numa cidade sob permanente ameaças de bombardeio, pensarão melhor nas virtudes da paz.
Faço minhas as palavras da ativista norte americana Judith Butler:
“Reivindico um Judaísmo Não Associado à Violência do Estado".
Judith Butler acrescenta: " Na minha opinião, as pessoas destas terras, Palestina e Israel, têm de encontrar um modo de viver juntas sob a condição de igualdade. Como tantos outros, eu coloco-me do lado de uma verdadeira democratização política nessas terras e reafirmo os princípios da auto-determinação e da coabitação para ambos os povos, e claro, para todas as pessoas. É meu desejo, como é o desejo de um número crescente de judeus e não judeus, que a ocupação chegue ao fim, que a violência de qualquer gênero termine e que os direitos políticos principais de todas as pessoas nesta terra sejam assegurados através de uma nova estrutura política.
O escritor Israelense Amos Oz, reconhecido internacionalmente por seu talento defende a desocupação dos territórios palestinos e a criação de dois Estados pas dois povos e afirma:
"O Govêrno Netanyahu é o mais antisionista de Israel de todos os tempos".
Falando para 30 acadêmicos para convencê-los a votar no Meretz, Um dos partidos que representa a esquerda israelense, Oz comparou Israel a um estado de apartheid.
Um Romeu e Julieta árabe-judaico não precisa terminar em pacto de morte para que as duas famílias se entendam. Pode terminar na paz, na convivência harmônica, na reconstrução de uma Gaza colorida e florida onde as crianças brinquem livremente nas ruas sem medo de bombas ou sem sonharem em se tornar homens-bombas, numa terra sem muros que separem as pessoas.
Desculpem se posso parecer ingênuo, mas acredito na paz e na fraternidade entre os dois povos irmãos.
Imagens: João Pinheiro