Israelenses e palestinos em uma guerra de neve em Jerusalém. Foto: Pierre Klochendler/IPS
Jerusalém, Israel, 15/1/2013 – “Sentimos como se finalmente tivéssemos uma vida normal em um país normal”, afirmou maravilhado o apresentador de rádio. Esta normalidade, essa rara sensação que dá aos israelenses o privilégio de poder falar do clima inóspito que afeta a região, é incomum por aqui. É o pior inverno em duas décadas, mas, se não fossem as vítimas israelenses e palestinas, para a maioria pareceria que a vida não tem complicações.Na primeira semana do ano, a população se distraiu dos horizontes diplomáticos complexos e desfrutou de um respiro na intensidade política que pesa sobre a vida pública deste país. Os israelenses irão às urnas no dia 22 deste mês, mas já sabem o que aconteceu e o que acontecerá: o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, continuará à frente do governo.
Em Jerusalém se vê israelenses e palestinos em batalhas de neve. Quando não foram sufocados pelo silêncio da nevasca que caiu desde a Galileia até o deserto de Neguev, as conversações sobre a campanha eleitoral foram alagadas por uma forte chuva nas terras baixas e nos vales.
Quem se importa com os anúncios da campanha eleitoral ocupando os horários principais do rádio e da televisão se a popularidade de Netanyahu parece tão grande quanto as ondas que golpeiam o litoral? De fato, desde que voltou a ocupar o cargo de primeiro-ministro em 2009, após ter governado o país entre 1996 e 1999, as pesquisas o mostram invariavelmente, em qualquer momento de seu mandato, como se tivesse garantida a continuidade por mais um mandato.
Talvez por ser visto como imbatível, as previsões sobre a quantidade de cadeiras legislativas que sua lista eleitoral conseguirá diminuem sem cessar, como se sua vitória validasse a lei de rendimentos decrescentes. Isto é, muito apoio, paradoxalmente, aumenta os desafetos. As eleições gerais são organizadas segundo um sistema proporcional de coalizões parlamentares. Os eleitores votam em listas partidárias de candidatos. A agrupação que conseguir a maior proporção de cadeiras das 120 do parlamento israelense (Knesset), costuma ser escolhida pelo presidente do país para formar a nova coalizão governante.
Segundo pesquisa realizada pela Dialog, publicada pelo jornal liberal Haaretz, quase 81% dos consultados preveem que Netanyahu encabeçará a próxima coalizão. Mas as pesquisas começaram a demonstrar uma queda da lista de Netanyahu de 42 para 32 cadeiras. O minguante apoio a Netanyahu pode ser atribuído, em grande parte – segundo vários analistas – à sua decisão de formar uma aliança entre seu direitista Partido Likud e o de Avigdor Lieberman, Israel Beitenu (Israel Nossa Casa), de extrema direita. A coalizão é denominada Likud-Beitenu.
Em política, o lema “a união faz a força” não necessariamente se traduz em vitória nas urnas. Quanto mais se percebe a aliança Likud-Beitenu como uma carta de triunfo, menos os cidadãos se sentem inclinados a confirmar a previsão das pesquisas, e mostram sua inclinação por outras opções que refletem melhor seus interesses e suas expectativas pessoais.
Nas primárias do Likud, antes de cristalizar a aliança, os setores moderados foram deslocados pelos radicais colonos e seus seguidores. Isto afastou alguns eleitores que preferem alternativas mais centristas. Também entrou em cena o partido do milionário Naphtali Bennett, A Casa Judia, uma versão atual do Partido Nacional Religioso com uma visão mais secular e moderna que atende aos interesses dos colonos.
Há 20 dias, outra pesquisa publicada pelo jornal centrista Yedioth Aharonoth mostra que Netanyahu ganharia, embora sua minguante coalizão conseguisse quatro cadeiras a mais sobre uma suposta frente unida de partidos árabes e sionistas de esquerda. Mas a possibilidade de uma força eleitoral de esquerda, e menos uma aliança política, parece improvável no momento.
Apegado às pesquisas e frequentemente acusado de fazer política em função das flutuações da opinião pública, Netanyahu sabe que sua reeleição se confirmará no dia 22. Assim, estará à frente de uma maioria parlamentar muito menor do que a que prometeu obter ainda no mês passado.
Netanyahu espera agora fechar fileiras fazendo soar o alarme habitual de uma possível surpresa esquerdista nas eleições, após cometer o pecado de criticar seus aliados tradicionais e enfraquecer seu próprio setor pelas lutas internas. Calcula, segundo analistas, que, assustando novamente os que se afastaram e convencendo-os de uma possível vitória da esquerda, poderá melhorar a proporção de sua vitória.
Outra surpreendente pesquisa encomendada pelo Centro para a Paz no Oriente Médio, de Daniel Abraham, feita por Dahaf e Rafi Smith, revela que os entrevistados que votam na direita estão a favor da solução de dois Estados para o conflito palestino-israelense, bem como pela divisão de Jerusalém, para conseguir a paz. A pesquisa de Dahaf revelou que 57% dos consultados que apoiam os partidos de Lieberman e de Bennett responderam que estão a favor de um acordo desse tipo, e apenas 25% disseram estar contra.
A pesquisa de Rafi Smith mostrou que 58% dos entrevistados disseram estar a favor e 34% contra. Entre os entrevistados que votarão no partido A Casa Judia, 53% dos entrevistados por Dahaf disseram ser a favor de um acordo com essas características e 43% foram contra. Em outras palavras, os israelenses não pressionarão Netanyahu por um acordo contra sua própria crença (que em linhas gerais apoiam se votam nele), mas são a favor de uma iniciativa de paz, provavelmente com negociações secretas, enquanto não se inteirarem.
A paralisia diplomática foi característica do governo que termina; e no próximo o primeiro-ministro vai querer definir sua política, deixar seu legado. Estar à frente de uma coalizão de direita o confinará a uma paralisia semelhante à que existe agora. Mas, com uma coalizão minguada, tampouco terá liberdade para governar, só haverá mais da mesma paralisia. “Um primeiro-ministro forte, uma Israel forte”, dizem os cartazes de campanha por todo o país.
Com Netanyahu novamente no comando, as previsões dificilmente serão uma receita para que os israelenses recuperem sua paixão pela política e seu entusiasmo de votar em Netanyahu. Não será a política de Netanyahu, mas é a caprichosa votação da população que será tão imprevisível quanto o clima atual. Envolverde/IPS
(IPS)